São Filipe Neri

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Santos de julho

Santo do dia 26 de maio
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São Filipe Neri

São Filipe Neri, Fundador dos Oratorianos

(† 1595)

Poucos são os Santos da Igreja privilegiados como São Filipe Neri. Filho de pais nobres e piedosos, Filipe nasceu em 1515, na cidade de Florença. De boa índole, de modos afáveis e inclinação à oração mereceram ao menino de 5 anos o apelido de "o bom Filipe". Um incêndio destruiu grande parte da fortuna dos pais, e Filipe passou a morar com um primo que era negociante riquíssimo em S. Germano. Este primo prometeu-lhe estabelecê-lo como herdeiro de todos os seus bens, se quisesse tomar-lhe a gerencia dos negócios. O bom Filipe, porém, pouca inclinação sentia para ser negociante; o que queria, era ser santo, e apesar das repetidas insistências do primo, resolveu dedicar-se ao serviço de Deus. Fez os estudos de Filosofia e Teologia em Roma, e começou desde logo a observar a regra de vida austeríssima, que o acompanhou até o fim da vida. Alimentava-se de pão, água e legumes; para o sono reservava poucas horas, para a oração, porém, muitas.

No grande desejo de dedicar-se à vida contemplativa, vendeu a biblioteca, deu os bens aos pobres e aprofundou o espírito na meditação da Sagrada Paixão e Morte de Jesus Cristo. Todo o tempo disponível passava-o nas igrejas ou de preferência nas catacumbas. A graça de Deus tocou-lhe o coração com tanta violência que, prostrado por terra, exclamou muitas vezes: "Basta, Senhor, basta! Suspendei a torrente de vossas consolações, porque não tenho força para receber tantas delícias. Ó meu Deus, tão amável, porque não me destes um coração capaz de amar-Vos condignamente?" Foi nas catacumbas de S. Sebastião, no ano de 1545, que recebeu o Espírito Santo, em forma de bola de fogo. Naquela ocasião sentia em si um ardor tão forte do amor de Deus que, devido às palpitações fortíssimas do coração, foram deslocadas a segunda e a quarta costelas.

Como o amor de Deus, grande era-lhe também o amor do próximo. Filipe possuía o dom de atrair todos a si, circunstância para a qual concorriam muito sua afabilidade, cortesia e modéstia. Recorria a mil estratagemas, para ganhar os jovens nas ruas e nas oficinas de Roma. Era amigo de todos e, uma vez adquirida a confiança, preparava-os para a recepção dos Sacramentos. As noites passava-as nos hospitais, tratando dos doentes como sua mãe.

O monumento mais belo da sua caridade é a Irmandade da SS. Trindade, cujo fim principal era receber os romeiros e tratar dos doentes. Primeiramente trabalhava só com 15 companheiros, que o ajudavam nesta nobre missão. No princípio de cada mês, convidava o povo para o exercício da adoração do SS. Sacramento durante quarenta horas e nestas ocasiões, embora leigo, fazia admiráveis alocuções aos fiéis.

A piedosa ideia achou eco entre a população, e abundantes corriam as esmolas para a nova instituição. Cardeais, Bispos, Reis e Príncipes, Ministros, Generais e Princesas, viam grande honra em poderem pertencer a esta Irmandade. Têm-se visto exemplos de Papas, ao lado de jovens cristãos e em companhia dos Filhos de São Filipe Neri, ajoelharam-se diante de pobres doentes, para lhes lavar e pensar as feridas. Milhares de peregrinos acharam hospedagem e tratamento gratuito por três dias, principalmente durante a Semana Santa e o Jubileu. O movimento dos romeiros no ano jubilar de 1650 foi extraordinário. A Irmandade hospedou naquele ano 334.453 romeiros e mais de 600 pessoas estavam diariamente a serviço da Irmandade, para atender às necessidades de tanta gente.

Seguindo o conselho do confessor, Filipe recebeu o santo Sacramento da Ordem, tendo já trinta e seis anos de idade. Tinha o desejo de trabalhar nas Índias, como missionário e morrer mártir pela religião de Cristo. Pela vontade de Deus, porém, sua Índia havia de ser Roma, e lá ficou.

Deixando-se guiar pela Providência Divina, tornou-se Apóstolo da capital da cristandade, sendo sua obra principal a fundação da Congregação do Oratório, isto é, Congregação da Oração para a qual chamou homens igualmente distintos pelo saber e pela piedade, como César Barônio, Antônio Maria Tarugi, Antônio Galônia e outros. Todas as noites faziam conferências espirituais, que tinham grande concorrência. Cardeais, Bispos, sacerdotes e leigos, confiavam-se à direção de quem veneravam como a um pai. Algumas vezes no ano, de preferência nos dias de carnaval, organizava grandes procissões, que visitavam as sete igrejas principais de Roma. Para afastar o povo dos teatros e divertimentos perigosos, realizava os oratórios espirituais, isto é, representações teatrais de cenas bíblicas. Grande amigo da mocidade, a esta proporcionava muitas diversões e passeios. Era edificante ver o ancião de 70 anos, levando centenas de moços a passeios e excursões: com eles brincava e se divertia, "Diverti-vos à vontade, contanto que não pequeis", eram as palavras com que os animava.

Grande parte do dia passava-o no confessionário, e só Deus sabe o número das almas que a seus pés acharam a paz, o perdão e a salvação. Todos nele depositavam uma confiança ilimitada. Ilimitada também eram a inveja e o ódio de Satanás e seus sequazes. Filipe e os confrades tiveram que saborear muitas vezes o escárnio, a calúnia e perseguição. O ódio dos inimigos chegou a tal ponto, que levaram uma acusação falsa à autoridade eclesiástica, de que resultou para Filipe a suspensão de ordens. Privado da celebração da santa Missa, da pregação e da administração do SS. Sacramento, o Santo não perdeu a calma e só dizia: "Como Deus é bom, que me humilha!" A suspensão foi retirada, e o inimigo principal do Santo, caindo em si, fez reparação pública e tornou-se-lhe discípulo.

Pelo fim da vida já não lhe era possível dizer a santa Missa em público, tanta era a comoção que lhe sobrevinha, na celebração dos santos mistérios. Estando no púlpito, as lágrimas lhe embargavam a voz quando falava do amor de Deus e da Paixão de Cristo. Quando celebrava a Missa, chegando à santa Comunhão, pelo espaço de duas a três horas ficava arrebatado em êxtase enquanto o corpo se lhe elevava à altura de dois palmos. Não é para admirar que o Papa o consultasse nos negócios mais importantes e quisesse beijar-lhe as mãos e a batina.

A sua prudência e clarividência deve a França a felicidade de ter permanecido país católico. Henrique IV, calvinista, tinha abjurado a heresia e entrado na Religião Católica. No ardor das guerras civis, tornou a voltar ao calvinismo, para depois outra vez se agregar à Igreja. O Papa Clemente VIII, com o apoio dos Cardeais, negou ao rei a absolvição e opôs-se-lhe à reconciliação. Filipe, prevendo a apostasia da França, no caso de o Papa persistir nessa resolução, fez jejuns e orações extraordinárias e pediu a Barônio, que era confessor do Papa, que o acompanhasse nestes exercícios, para alcançar a luz do Divino Espírito Santo. No terceiro dia de manhã, disse Filipe a Barônio: "Hoje o Papa te pedirá para ouvi-lo em confissão; depois da confissão, antes de lhe dares a absolvição, dizei-lhe: O Pai Filipe ordenou-me que negasse a V. Santidade a absolvição, e lhe declarasse que não continuarei a servir de confessor, se não conceder absolvição ao rei da França". Assim se fez. Clemente VIII, profundamente impressionado com esta declaração, pediu a absolvição com a promessa de pôr tudo em ordem. Henrique IV obteve a absolvição do Papa, e foi solenemente recebido no seio da Igreja.

Fatigado e exausto de trabalhos e alquebrado pela idade, Filipe foi acometido de grave doença. Tendo-o examinado quatro médicos, saíram do quarto desanimados quando ouviram o doente exclamar: "Ó minha Senhora, ó dulcíssima e bendita Virgem!" Foram ver o que tinha acontecido e encontraram o Santo elevado sobre o leito e, braços em êxtase, exclamando: "Não sou digno, não sou digno de vós, ó dulcíssima Senhora, que venhais visitar-me!" Os médicos respeitosos aproximaram-se e perguntaram ao doente que sentia! Este, voltando a si, e tomando a posição costumeira no leito, perguntou: "Não a vistes, a Santíssima Virgem, que me livrou das minhas dores?" De fato se levantou completamente curado, e viveu mais um ano. Tendo predito a hora da morte, Filipe fechou os olhos para este mundo no dia 2 de maio de 1595. O túmulo tornou-se-lhe glorioso e poucos anos depois da morte, Filipe foi beatificado pelo Papa Paulo V, em 1622, e canonizado por Gregório XV.

Reflexões

Vários conselhos de São Filipe:

1. A obediência é o caminho mais curto da perfeição. Quem deseja fazer progressos na vida espiritual, sujeite-se à direção judiciosa de um confessor prudente e virtuoso, ao qual, com toda a sinceridade, manifeste o estado de sua alma e não tome nenhuma resolução, sem antes lhe ouvir o conselho.

2. Antes de tomar um confessor, convém lembrar-se do seguinte: Tendo-se feito a escolha, não se deve mudar de confessor, a não ser por motivos de força maior, e é preciso que se lhe dê toda a confiança. Quando o demônio não consegue perder uma pessoa, envida todos os esforços para semear desconfiança entre o confessor e o penitente, sabendo que assim, com muita probabilidade, alcançará o fim que visa.

3. A Santíssima Virgem deve ter todo o nosso amor: "A devoção a Maria é de grande necessidade, por não haver meio mais seguro de obter as graças divinas, que pela intercessão da divina Mãe".

4. Principiantes na vida espiritual devem meditar muito os novíssimos. Quem não descer ao inferno enquanto viver, corre perigo de nele entrar quando morrer.

5. O maior perigo que existe para a inocência, é não temer a si próprio. Tudo está perdido para quem não desconfia de si e não teme.

6. Se alguém, que muitos anos viveu religiosamente, tiver a infelicidade de cometer um erro grave, não há meio mais seguro de levantar-se, que manifestá-lo a um amigo, que lhe mereça toda a confiança. Em atenção a esse ato de humildade, Deus o restabelecerá no estado antigo.

7. S. Filipe deu o seguinte conselho a uma pessoa que se queixava da sua cruz: "Meu filho, a grandeza do amor que se tem a Deus, é medida pela grandeza do desejo de sofrer muito por amor de Deus; quem se impacienta com a cruz, achará uma outra mais pesada; convém fazer da necessidade uma virtude. Os sofrimentos deste mundo são a melhor escola do desprezo do mundo; quem não se matricular nesta escola, merece dó, porque é um infeliz.

Santos, cuja memória é celebrada hoje

Em Roma, o Papa-mártir Santo Eleutério. Converteu muitas pessoas da nobreza romana, mandou os Santos Damião e Fugácio como missionários para a Inglaterra, que por sua vez batizaram o rei Lúcio, sua esposa e grande parte da população.

Na França, S. Zacarias, o 2º Bispo de Vienne, discípulo de S. Pedro e sagrado bispo por Crescêncio, discípulo de S. Paulo. Sofreu o martírio da lapidação sob o imperador Trajano.

Na Cochinchina, o sacerdote indígena João Hoan, o catequista Mateus Fuon. Ambos foram decapitados.

Referência: Na luz Perpétua, 5ª. ed., Pe. João Batista Lehmann, Editora Lar Católico – Juiz de Fora – Minas Gerais, 1959.

Comemoração: 26 de maio.

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