São Roberto Belarmino

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Santos de julho

Santo do dia 13 de maio
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São Roberto Belarmino

São Roberto Belarmino, S. J.

(† 1621)

Quem visitar a cidade de Montepulciano, na Toscana, no meio das inúmeras casas que ainda se conservam no estilo antigo dos séculos passados, encontrará uma que das demais se distingue por uma placa com os seguintes dizeres: "Nesta casa, aos 4 de outubro de 1542, filho do fidalgo Vicente de Montepulciano e de Cynthia, irmã do Papa Marcelo II, nasceu Roberto Francisco, Cardeal Belarmino, glória da Igreja, da Itália, e de sua terra natal, pela santidade de sua vida e seu grande saber, pelo qual se tornou invicto batalhador nas controvérsias sobre questões da doutrina, da fé, da moral e da Sagrada Escritura, e objeto de admiração ainda quatro séculos depois".

Dos doze filhos do piedoso casal, era Roberto o terceiro. Dois irmãos e três irmãs abraçaram o estado religioso. O pai, embora seriamente preocupado com as dificuldades econômicas oriundas da numerosa prole, era homem reto e piedoso.

A mãe, segundo o testemunho de seu filho Cardeal, "dava muita esmola, praticava a oração, a meditação, o jejum e castigava o corpo. Desejava que todos os seus cinco filhos homens entrassem na Companhia de Jesus". Ia à Santa Comunhão três vezes por semana, coisa extraordinária naquele tempo.

Roberto era um menino franzino, frequentemente doente e por isso objeto de muitos cuidados para os pais. Bem cedo, porém, revelou uma inteligência pouco comum, aliada a uma grande vivacidade e profundo sentimento. A educação que recebia, era sólida e essencialmente religiosa. A mãe, mandava-o todos os dias assistir à santa Missa e receber com regularidade os santos Sacramentos da Eucaristia. Desde a infância era acostumado a rezar o pequeno Ofício de Nossa Senhora, e seu divertimento infantil era construir altarezinhos, imitar as funções litúrgicas do sacerdote, e fazer práticas aos irmãozinhos.

Mais tarde frequentou, junto com os irmãos, a escola de latim e com doze anos ouvia as preleções de lógica. Nas horas vagas cultivava o canto, a música e a poesia. Os mestres queriam-lhe bem por causa da sua aplicação e dos belos progressos que fazia nos estudos. Os co-alunos apreciavam-lhe a jovialidade, as maneiras afáveis e ao mesmo tempo sérias e comedidas... A autoridade de que entre eles gozava, era-lhe muitas vezes ensejo de levá-lo à igreja e de trocar cânticos profanos por outros religiosos. Apesar disso, não era espanta-prazeres. Conta ele mesmo que era amigo da caça de pássaros e possuía grande habilidade de consertar redes de passarinhos. Naquele tempo não pensava ainda no estudo religioso. Era seu plano, estudar medicina, para assim satisfazer o desejo do pai.

Na família era Roberto o querido de todos. O pai via nele a esperança de sua vida. A mãe preferia aos outros, por causa da sua boa índole, da piedade, do amor ao trabalho e do desprezo que votava às coisas do mundo. Os irmãos todos lhe queriam muito bem, porque era amável e atencioso para com todos.

Roberto contava quinze anos, quando os Padres da Companhia de Jesus abriram um colégio em Montepulciano, de que veio a ser um dos primeiros alunos, não só segundo a matrícula como também quanto ao preparo. Era admirável o progresso que nos estudos fazia, e não menos o desenvolvimento que se lhe observava na piedade. O reitor do colégio, relatando ao Superior Geral da Companhia, chama Roberto Belarmino o melhor aluno.

Passava assim Roberto a infância e mocidade num ambiente de relativa felicidade. Querido dos pais e dos irmãos, estimado pelos mestres e companheiros de estudo, tudo concorria para a formação dos seus belíssimos dotes de espírito e de coração.

O contato com os filhos de Santo Inácio, seus mestres, fez com que bem depressa deixasse cair os planos de futuro médico e os substituísse pela vontade de ser Jesuíta. Com toda a cautela procedeu à mudança das suas ideias. Vendo de um lado a pouca durabilidade e inconstância dos bens terrenos (seu tio Marcelo II ocupará a cadeira de S. Pedro só 23 dias), e tendo-se convencido de que a felicidade por entre as paredes do convento não é uma utopia, mas realidade, resolveu-se a pedir admissão. De sua mãe sabia ele que maior prazer não lhe podia causar, cientificando-a do seu projeto. A admissão dependia, porém, do consentimento do pai, e este se opôs formalmente. Suspeitava que a mudança nos planos do filho fosse originada por alguma insinuação dos Padres, e interditou-lhe qualquer comunicação com eles, exigindo ainda mais, que escolhesse confessor entre os Frades Dominicanos.

Roberto muito sofreu sob este estado de coisas, e não menos sua mãe, que chegou a adoecer. Em tal perplexidade confiou a seu diretor, que o animou a perseverar e aceitar a luta contra a carne e o sangue, lembrando-lhe a palavra de Nosso Senhor: "Quem ama pai e mãe mais que a mim, não é digno de mim". Ao mesmo tempo fez os exercícios de Santo Inácio e renovou o pedido ao pai.

Este, no fundo homem reto e piedoso, deu finalmente seu consentimento, com a condição, porém, de Roberto ficar mais um ano em casa, para melhor poder examinar sua vocação.

Em setembro de 1560, o jovem Belarmino deixou a casa paterna e entrou no noviciado Maria della Strada, em Roma. Ao Superior Geral entregou uma carta do pai, que continha o seguinte trecho: "Tomai também em consideração que a Deus deve se dar o que se possui de mais precioso e assim, lhe dei (ao filho) a minha bênção, ofereci-o à divina Majestade e a Vossa Paternidade, como filho, e peço humildemente, o queira aceitar". A mãe escreveu: "A divina Majestade mil graças por se ter dignado de chamar para seu serviço o que me é mais caro do que a menina de meus olhos. Embora tenha ainda outros filhos, queria mais a este, por causa de sua piedade e dos seus talentos. Se bem que desde o princípio concordasse com seu desejo de dar-se a Deus e hoje ainda mais concorde, por saber que escolheu a melhor parte, não sei disfarçar a dor, que a separação do meu filho predileto me causa. Consola-me o pensamento, que encontrará uma mãe melhor, um pai igualmente muito melhor, a cujas mãos tranquilamente o confio".

Já em janeiro de 1561 foi admitido aos santos votos. Em Roma se dedicou ao estudo do latim, do grego, do hebraico, da matemática e da retórica, e aos demais exercícios práticos, como era uso naquele estabelecimento da Companhia.

Em 1563 o vemos como professor no colégio de Florença. A transferência para aquela casa era motivada pelo estado precário de saúde do jovem religioso. Um ano depois a santa obediência o destacou para Mondori, em Piemonte, onde ensinou retórica. Não só suas preleções, como sua atividade de pregador e conferencista puseram-lhe o nome em relevo.

Quando em 1566 a Universidade de Mondori se fechou, Belarmino passou para Pádua, onde continuou os estudos de teologia. Passaram-se assim sete anos, de muito estudo e de belos triunfos. Superiores, confrades, sacerdotes e leigos, todos o louvavam, todos lhe enalteciam a eloquência, e lhe reclamavam os serviços. Eram anos também de muita oração, de muito sacrifício e de grandes responsabilidades, bastante onerosas para tão jovens ombros.

Em 1565 uma ordem do Superior Geral o mandou para Louvania, onde era reclamado um pregador para os estudantes, Foi durante a estadia em Louvania, que recebeu as ordens maiores, inclusive o presbiterato. Belarmino contava então trinta anos. Além de pregador, era confessor dos estudantes e membro do conselho da casa. Todos estes cargos confiados a um homem desta idade justificam a alta competência e elevada virtude de quem os ocupava.

Finalmente o estado de saúde exigia-lhe imperiosamente um descanso maior, que lhe foi concedido em 1575. Tão viva memória deixou em Louvania, que 140 anos depois a faculdade de teologia promoveu a ideia da beatificação do grande servo de Deus.

A Alemanha e a Inglaterra eram naquele tempo teatro de graves acontecimentos em terreno religioso. A heresia de Lutero e a apostasia de Henrique VIII eram sementes perniciosas, que só maus frutos podiam produzir. Como nos colégios de Roma houvesse muitos estudantes alemães e ingleses, os Padres da Companhia de Jesus mui acertadamente deliberaram a criação de uma cadeira de apologética, que facultasse aos mencionados estudantes o necessário preparo para competentemente poderem enfrentar os adversários na terra natal. Ninguém parecia mais em condições de lecionar esta nova matéria que o Pe. Belarmino. Fazia preleções tão apreciadas, que do estrangeiro, principalmente da Alemanha, vinham pedidos de cópias das mesmas.

Belarmino escreveu as "controvérsias cristãs sobre a fé", em três volumes. A tiragem extraordinária desta obra e as quarenta edições que teve, proclamaram-lhe bem alto a oportunidade e grande valor. O Cardeal Ubaldini teve para com o autor a seguinte frase, sumamente elogiosa: "Belarmino é digno de ser chamado o Agostinho ou o Atanásio dos nossos dias. A Divina Providência enviou-o para refutar as heresias". O sábio inglês e protestante Whitaker chama a obra de Belarmino — "medula do Papismo" e vê no autor um homem bem instruído, dotado de grande talento, que revela alta competência e preparo extraordinário". O célebre Teodoro Beza, também protestante, exclama: "Este livro é a nossa derrota". Naturalmente a heresia assestou as armas de defesa. Apareceram mais de cem publicações protestantes.

A maior vitória da grandiosa obra de Belarmino, porém, foi a conversão de muitos protestantes, entre estes de teólogos e doutores. S. Francisco de Sales, que tantos calvinistas reconduziu à Igreja Católica, confessa: "Durante os cinco anos em que preguei em Chablais, não tinha outros livros à minha disposição senão a Sagrada Escritura e as obras de Belarmino".

Era admirável a operosidade de Belarmino durante o tempo em que se achava em Roma. Desta época datam sua autobiografia, a composição de uma gramática hebraica e outros trabalhos de importância, em serviços diretos da Santa Sé e da Companhia de Jesus.

Como diretor espiritual do Colégio, tinha nas mãos a formação ascética dos alunos, que se recrutavam de todas as partes do mundo civilizado, dos quais alguns mais tarde pregariam o Evangelho nas Índias, outros combateriam as heresias na Europa, ainda outros seriam pregadores, professores e confessores. Entre estes dirigidos achava-se S. Luiz Gonzaga.

Belarmino era modelo de diretor espiritual. O que aos discípulos pregava nas conferências, pelo exemplo o confirmava. Sobre sua aparência exterior dizem os biógrafos: Do seu semblante resplandecia a mansidão. Um afável sorriso sempre o iluminava. O olhar era bondoso e refletia-lhe a boa alma. Por isso todos gostavam de estar em sua companhia, e de boa vontade lhe aceitavam o convite de acompanhá-lo nas visitas, embora fosse com alguma perda de tempo. Esse apostolado de diretor espiritual foi interrompido por pouco tempo, quando o Papa Sixto V o nomeou assistente canônico do Cardeal Gaetani, na missão diplomática deste em Paris. As heresias tinham ganhado terreno também na França e, dadas as complicações políticas entre os partidos católico e protestante, era para se recear a iminência de um cisma. Belarmino, pelo saber, pelo exemplo e pelas orações, prestou um grande serviço à França, afastando dela o perigo de uma separação religiosa.

Em 1592, a confiança do Superior Geral, Pe. Aquaviva, o encarregou da direção do Colégio Romano que contava 202 professores e 2.000 estudantes, entre estes 200 da Companhia. Na alocução de tomada de posse disse o novo reitor: "Nomearam-te superior, digo com Jesus Sirach (32, 1, 5). Não te eleves por isso, mas sê como um dos súditos", e não atrapalhes a música. O Colégio Romano é semelhante a um coro de bons músicos. Tudo está regularizado, tudo providenciado, como num concerto. Se todos observarem bem a regra, a música sairá perfeita. A mim cabe marcar o compasso, reger e animar. Da noite para o dia fui nomeado mestre-capela. Com a pouca experiência que tenho, sofrerá a harmonia. Peço-vos, portanto, e mui insistentemente, que chameis minha atenção, quando me virdes errar. Tendes garantida a minha gratidão, se assim concorrerdes para beneficiar a regência do concerto".

Como reitor, era um verdadeiro pai, que sabia muito bem conciliar a bondade, a caridade, com a necessária energia. Cuidados especiais dispensava aos doentes. A regra tinha nele o mais consciencioso observador, tanto que era modelo de pontualidade para os noviços e para os mais provectos professores. Modelo para todos, servidor de todos que via, não podia deixar de ser por todos considerado homem perfeito e grande santo.

Só pouco tempo dirigiu o Colégio Romano, pois, em 1594, aceitou o cargo de superior da província napolitana. Apenas dois anos ficou com esta responsabilidade, porque o Papa lhe reclamou a presença permanente em Roma, como consultor do Santo Oficio, teólogo de S. S. Clemente VIII e examinador dos bispos recém-nomeados. Um dos examinadores era S. Francisco de Sales. No meio das múltiplas ocupações, achou tempo ainda, para compor um catecismo, que teve muitas edições, e foi traduzido em 60 línguas.

Um dos primeiros cuidados de Clemente VIII foi dar ao supremo Conselho da Igreja dignos representantes. Já nos primeiros anos do seu pontificado por diversas vezes quis dar a púrpura a Belarmino, mas motivos alheios à sua vontade fizeram-no desistir do plano. Se é provável que falsas informações, até calúnias, tenham influído sobre o modo de agir do Santo Padre, certo é que o próprio Pe. Belarmino, quando soube da pretensão do Papa, tudo fez para afastar de si tal distinção, incompatível com as constituições da Companhia. Apesar de tudo, Clemente VIII não perdeu de vista seu candidato, e no ano de 1599 o Santo Consistório foi surpreendido pela elevação de Belarmino à dignidade cardinalícia. "Escolhemos a este, disse o Papa, porque é sobrinho de um excelente e santo Papa".

Belarmino curvou-se humildemente sob a ordem positiva do Santo Padre, não, porém, sem grandes receios pela sua salvação eterna. Logo depois da nomeação escreveu as seguintes belas palavras: "Se aprendemos alguma coisa na escola de Cristo, se com atenção lemos o Evangelho e as Epístolas apostólicas, vem-nos à memória que somos hóspedes estrangeiros na terra e que tudo o mais é fumaça com um pouco de fogo, e que nossa vida é feno, e a nossa glória é como uma flor do campo", e em outro lugar: "Quando vejo a sotaina encarnada, tenho a impressão de ver subir as chamas do inferno".

Aceitando o cardinalato, Belarmino apenas trocou a batina preta pela púrpura, conservando no mais os atos de simples religioso. Com todo rigor observava o voto de pobreza, e reduziu ao indispensável os gastos a que a alta posição o obrigava. O seu horário variava entre trabalho e oração. Às quartas e sextas-feiras eram dias de jejum, além da quaresma e das vigílias. Na idade de setenta anos guardava o jejum quaresmal com a maior facilidade.

Rigor contra si próprio e mansidão e bondade para com o próximo tem sido sempre o característico da santidade. Assim em Belarmino; rigoroso consigo, era a bondade em pessoa para com os outros. Com grande respeito tratava os sacerdotes, chamando-os seus irmãos. Muito interesse mostrava pelo bem material e espiritual dos seus domésticos, os quais, por serem poucos, certamente não dispunham de muitas horas livres. À caridade estendia-se-lhe a conventos pobres, a famílias indigentes, e estudantes sem recursos, a pobres doentes nos hospitais. Muitas vezes vendia objetos de valor do seu palácio, para poder atender às necessidades do próximo. Por amor aos pobres e necessitados, deixou de fazer economias; assim aconteceu que as despesas do seu enterro corressem por conta do Papa. Belarmino era membro de quase todas as Congregações do Sacro Colégio. A sua palavra era a mais autorizada. Nas questões mais difíceis era a sua decisão que exonerava as consciências dos outros. "Nós disputávamos sobre as questões, dizia um Cardeal contemporâneo de Belarmino, ele as decidia". Pode haver exagero nesta asserção, mas verdade é, que Belarmino era o maior teólogo do seu tempo.

A sabedoria, a virtude, a santidade de sua vida, davam-lhe o direito de aproximar-se dos ilustres colegas como conselheiro ou corretor. As admoestações, fazia-as com franqueza e caridade, às vezes com o sabor de um delicioso humorismo. O próprio Papa Clemente VIII disse uma vez a Belarmino: "Quando o chamei para junto de mim, era meu intuito ganhar um conselheiro, que tivesse a coragem de dizer-me a verdade, e com franqueza me dissesse o que devo fazer para o bem da Igreja".

Do tempo de seu cardinalato existem ainda muitas cartas, dirigidas a Prelados, verdadeiros documentos de sabedoria, de prudência e de caridade.

Em todas as manifestações de sua autoridade, como teólogo e Cardeal da Santa Igreja, não se lhe desmente a humanidade que é o estigma do seu caráter. Era de obediência tão admirável, que o próprio Superior Geral da Companhia não hesitou em afirmar: "Feito Cardeal, ficou ainda mais obediente do que era como simples religioso".

É possível que a célebre controvérsia sobre a relação entre a graça divina e a liberdade humana, na qual Belarmino tomou parte ativa, lhe tenha ocasionado a remoção de Roma e a transferência para Cápua, como pastor daquela arquidiocese. O próprio Papa sagrou-o e deu-lhe o pálio. Durante três anos a arquidiocese de Cápua pôde experimentar a bênção e os benefícios desta providencial escolha. Muitas igrejas foram construídas ou restauradas. O culto divino foi restabelecido em toda a sua dignidade. A palavra de Deus era pregada com todo o fervor, não só nas cidades, como também nas vilas e aldeias. Recrudeceu a campanha contra os vícios da blasfêmia e do jogo. Cuidados especiais o arcebispo dispensou ao clero e aos conventos; ao clero, animando-o a seguir uma vida santa no árduo trabalho na cura d'almas; aos conventos, recomendando aos religiosos e às religiosas a fiel observância das constituições. Onde circunstâncias especiais exigiam uma reforma, Belarmino sabia muito bem combinar a caridade com a necessária firmeza. A diretoria de um convento de freiras, de que lhe constava que negava a admissão a candidatas pobres, escreveu: "Tive o desprazer de ser informado que ligais importância à origem nobre, e assim demonstrais que possuís o espírito do mundo, e vos falta a humildade do esposo divino. Devíeis lembrar-vos de que foram as fidalgas que arruinaram o vosso convento, ao passo que o mosteiro *** se conservou bem, e lá são aceitas também pobres operárias. Se a Santíssima Virgem estivesse ainda no mundo, e quisesse ser freira, sendo esposa de um operário, de certo seria aceita só no convento de ***.

Daí podeis deduzir que não tereis o agrado da Rainha do céu e de seu Filho, se conservardes esse espírito mundano e vaidoso. Quanto a mim, já está tomada minha resolução. De duas uma: ou vosso mosteiro de hoje em diante será dirigido com verdadeiro espírito religioso, ou permanecerá no seu triste estado, isto é, não receberá novas postulantes".

À administração modelar e apostólica da arquidiocese não faltou o elogio do Santo Padre. Deus mesmo se dignou de honrar seu fiel servo pelo dom da profecia e dos milagres. Houve casos de graves doenças e de possessão diabólica, que tiveram a sua cura pela oração do santo arcebispo.

Clemente VIII morreu em 1605. Pelo fato de seu sucessor Leão XI, ter governado apenas 27 dias, Belarmino foi duas vezes ao conclave. No segundo conclave, 14 votos se reuniram sobre seu nome. Foi eleito Paulo V, que lhe reclamou a presença em Roma, nomeando outro arcebispo para Cápua.

Vinte e dois anos ainda prestou os mais relevantes serviços à Santa Sé, desenvolvendo sempre uma operosidade incrível. Além do trabalho que o prendia aos negócios da Igreja, uma correspondência vastíssima que mantinha com Prelados, Superiores, diplomatas, monarcas, missionários e confrades da Companhia tomava o resto do tempo livre.

Aproximava-se-lhe o octogésimo aniversário, e bem se acentuavam os achaques da idade. Muito o incomodava a surdez, que aumentava consideravelmente. Uma queda do cavalo causou-lhe grandes sofrimentos e determinou-o a pedir exoneração dos trabalhos nas Congregações. O último concurso que prestou foi no processo de canonização de S. Filipe Neri. Os últimos dias passou no noviciado da Companhia. Aos médicos prestava a obediência do mais humilde religioso. Muito o consolou a visita do Papa Gregório XV, oito dias antes da morte. Os confrades que lhe serviram na doença, eram testemunhas dos seus contínuos colóquios com Deus. "Oh! Meu Deus, dai a minha alma asas de pomba, para que possa voar para junto de vós! Quando irei ver a face de Deus?"

Quando, aos 7 de setembro, o superior geral Pe. Viteleschi lhe anunciou a proximidade da morte, o santo ancião com viva satisfação exclamou: "Que boa notícia esta!" Belarmino preparou-se para a morte pela oração ininterrupta, pela recepção dos santos Sacramentos. No entanto, contra toda expectativa, o doente caiu num profundo sono, que lhe prolongou a vida até o dia 17 de setembro.

Com voz bastante firme recitou o Credo, e pronunciou umas trinta vezes o santo nome de Jesus. Assim expirou no dia dos estigmas do seu Padroeiro, S. Francisco de Assis, como fôra seu desejo e como predissera.

O corpo foi depositado na Igreja "al Gesu". O desejo, externado no testamento, de ter o último repouso aos pés de S. Luis Gonzaga, seu filho espiritual, não pôde ser cumprido.

O enterro foi uma verdadeira apoteose. Um belíssimo monumento de Bernini enfeita-lhe o túmulo. O processo de beatificação, devido a circunstâncias adversas, foi interrompido por diversas vezes, até que Benedito XV, por decreto de 22 de dezembro de 1920, declarou estar provado Belarmino ter praticado de modo heroico as virtudes teologais e morais. Pio XI canonizou-o em 1930.

Reflexões

S. Roberto Belarmino foi sem dúvida alguma um dos maiores sábios de seu tempo, senão o maior, a quem a Igreja e quase todos os países da Europa devem serviços e benefícios incalculáveis. Embora na vida não se distinguisse por grandes milagres; embora não tivesse feito coisas extraordinárias nem praticado atos de penitência como um S. Luis Gonzaga; embora a vida de religioso não se lhe visse acompanhada de graças místicas, pois, de relance seja dito, que em nada disto consiste a perfeição cristã. Belarmino era um homem que só conhecia um ideal e à realização deste ideal pertencia todo o seu ser: amar a Deus, só, e só a Ele servir. Viver 79 anos sem cometer falta grave, conservar durante todo este tempo a pureza do coração, observar escrupulosamente os santos mandamentos e a santa regra, cumprir em tudo e sempre o dever, como religioso, como cardeal e arcebispo, trabalhar sempre pela conservação da fé, é cousa extraordinária, é heroísmo, é perfeição.

A quem a Igreja deve esta belíssima flor de santidade? Depois de Deus e da sua graça, aos pais do nosso Santo. Ambos declararam que ao entregar o seu filho Roberto ao serviço de Deus sacrificavam o que de mais precioso possuíam.

"Sei, disse o pai, que a Deus deve se dar o que nos é mais caro". Dou graças a Deus, escrevia a mãe, por ter se dignado de chamar para seu santo serviço aquele que é a menina dos meus olhos. — A queixa dolorosa dos nossos bispos é a escassez de sacerdotes. É porque não haja vocações, num país católico? Vocações não faltam, mas falta quem as cultive. O espírito do século, que é o amor ao dinheiro, ao prazer, ao luxo; o espírito do século, que é o aborrecimento ao sacrifício; o espírito do mundo que é a falta de piedade, do amor e temor de Deus e a falta da fé, alastrou-se pela nação, inteira, deu entrada nos lares, expulsando o espírito de Deus Nosso Senhor. Nossa Senhora, cujas imagens enfeitam talvez as paredes, já não reina nos corações. Lares, desta maneira afastados de Deus, não são, por certo, terreno apropriado, de que se possam esperar bons sacerdotes. A esperança da Igreja está na regeneração, na santificação da família católica, e esta deverá ser o fruto da oração, que Nosso Senhor nos recomenda e impõe quando diz: "Pedi ao Senhor da messe, que envie operários para a sua vinha".

Santos, cuja memória é celebrada hoje

Em Roma, a consagração da igreja de Santa Maria dos Anjos. No tempo do imperador Focas (séc. 7º), o Papa Bonifácio IV transformou o Panteon, o templo de todos os deuses, em igreja consagrada a Nossa Senhora e a todos os mártires.

Na Armênia, S. João, o Taciturno (559).

Em Constantinopla, o santo sacerdote e mártir Múcio, que no tempo do imperador Diocleciano, após muitos sofrimentos foi condenado à morte e executado pela espada.

Em Alexandria, a memória de muitos católicos, que dentro de sua igreja de São Teonas foram massacrados pelos fanáticos Arianos.

Em Heracléia, na Trácia, a festa de Santa Glicéria, romana de nascimento e filha de um cônsul romano. Após muitos sofrimentos, foi atirada às feras. 477. Nas reproduções artísticas aparece Santa Glicéria com uma cruz na testa, de acordo com a tradição que afirma a Santa ter trazido na testa o sinal da cruz visível, para ser conhecida como cristã.

Referência: Na luz Perpétua, 5ª. ed., Pe. João Batista Lehmann, Editora Lar Católico – Juiz de Fora – Minas Gerais, 1959.

Comemoração: 13 de maio.

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