São João Nepomuceno

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Santos de julho

Santo do dia 16 de maio
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São João Nepomuceno

São João Nepomuceno, Sacerdote e Mártir

(† 1393)

S. João Nepomuceno, Santo a quem Deus glorificou até os nossos dias, nasceu na Checoslováquia, numa pequena cidade chamada Nepomuc, perto de Praga. Os pais, cidadãos honestos, que por muitos anos ficaram privados da benção de filhos, recorreram à oração, fazendo um voto a Nossa Senhora. Deus ouviu-lhes as preces e deu-lhes um filho, ao qual deram o nome de João, isto é, dom de Deus. Quando o menino tinha idade suficiente, foi admitido como coroinha no convento dos Cistercienses. Servir no altar, como acólito, era o maior prazer do jovem. Nos estudos revelou talento, que alcançou o grau de doutor em teologia e direito canônico. Depois da ordenação sacerdotal, afastou-se por um mês da sociedade, para preparar-se devidamente à celebração da primeira Missa. O Bispo confiou-lhe a Igreja de Nossa Senhora, na metrópole. Poucos anos depois foi convidado para fazer parte do cabido, e na qualidade de Cônego, desempenhou também o cargo de pregador da Sé, cargo que ocupou até o fim da vida.

Como pregador, gozava de fama extraordinária, e entre os seus ouvintes achava-se frequentes vezes Wenceslau, rei da Boemia e da Alemanha com toda a família. Admirador que era do eloquente pregador, ofereceu-lhe a diocese de Leitmeritz e outros benefícios riquíssimos. João, porém, preferindo a missão, de pregador, não aceitou as honrosas ofertas.

A rainha Joana escolheu-o para confessor e esmoler do paço real. João com muita competência se desempenhou destas altas funções. O cargo, porém, de confessor da rainha trouxe-lhe a coroa do martírio.

Wenceslau pelos costumes depravados, o gênio cruel e irascível, que o arrastou a praticar muitos crimes, não só desgostou profundamente a esposa, mas tornou-se pedra de escândalo para todos que o conheciam. Joana, na impossibilidade de regenerar o marido, por meio de orações, penitências e obras de caridade procurou merecer a conversão do mesmo. Na recepção dos santos Sacramentos encontrou força, para levar com paciência a tão pesada cruz.

Wenceslau de maus olhos observava a piedade da esposa, e vendo-a com frequência procurar o sacramento da penitência, começou a nutrir as mais disparatadas suspeitas. É difícil um depravado acreditar na virtude do próximo. Mau marido facilmente julga mal da esposa, por mais santa que esta seja.

Desejoso de saber o motivo dessas repetidas confissões e aguilhoado pelas mais terríveis suspeitas, tratou de descobrir o que Joana confessava. Com este intuito mandou chamar o confessor à sua presença. Após muitos rodeios, manifestou-lhe o seu desejo, não regateando os maiores elogios e abrindo-lhe radiosas expectativas, para o caso que lhe relatasse o que se passara, no segredo da confissão. O santo sacerdote, pasmo por ouvir proposta tão ímpia quão sacrílega, pediu ao rei não insistisse no que a um sacerdote católico é impossível atender. Acrescentou que preferiria mil vezes morrer, a fazer a mínima revelação do que em confissão ouvira. Ao ouvir esta resposta, Wenceslau encheu-se de rancor. Se no momento se conteve, foi por achar mais prudente aguardar ocasião mais propícia para vingar-se. Esta não tardou a oferecer-se. Por uma falta, aliás muito desculpável, que o cozinheiro do palácio cometera, o rei num requinte de crueldade tinha ordenado que o pobre oficial fosse assado vivo sobre a brasa.

Ninguém havia que se achasse com coragem de contradizer a Wenceslau, porque todos temiam a vingança do tirano. O pobre condenado achou, porém, um advogado na pessoa do santo sacerdote, o qual muito se empenhou para alcançar a revogação de tão bárbara sentença. Wenceslau atendeu às instâncias do capelão, mas encolerizou-se de tal modo pelo motivo de este ter tido a ousadia de censurar-lhe os atos, que ordem deu de metê-lo no cárcere e deixar o prisioneiro sem alimento durante um dia. No dia seguinte mandou o rei dizer-lhe que, se tivesse amor à vida, só a poderia salvar, atendendo ao pedido que anteriormente lhe fora feito. A resposta do nobre prisioneiro foi uma formal recusa. Wenceslau novamente tentou, por modo suasório, alcançar o seu maldoso intento. Fingindo arrependimento, convidou o sacerdote a tomar parte num banquete no dia seguinte. Pediu ainda encarecidamente que não deixasse de comparecer, porque sua presença seria para ele o sinal de perdão e esquecimento. João foi. Acabado o banquete, Wenceslau voltou ao assunto e, com mais empenho que antes, insistiu com o santo sacerdote, para que fizesse as revelações que desejava ter. João Nepomuceno, porém, não cedeu às indignas insinuações do monarca, o qual às promessas mais lisonjeiras fez seguir horríveis ameaças. De fato. João Nepomuceno foi novamente metido no cárcere e por ordem superior, esticado sobre o ecúleo. Não satisfeito com esta brutalidade, o rei, com satânico furor, ordenou que o corpo do mártir fosse torturado com tochas ardentes. A todas estas cenas Wenceslau esteve presente, saturando o seu ódio no aspecto dos sofrimentos da pobre vítima que, elevando os olhos ao céu, no meio das dores cruciantes, invocava os nomes de Jesus e Maria. Terminado esse martírio, João Nepomuceno foi posto em liberdade com a condição, porém, de guardar absoluto silêncio sobre o que se lhe tinha sido feito.

Tortura idêntica sofreram na mesma ocasião, se bem que por outros motivos, três membros do alto clero de Praga. Logo que seu estado o permitiu, trabalhou como antes. Tendo-lhe, porém, Deus revelado que a fidelidade ao sigilo sacramental lhe custaria a vida, no domingo antes da festa da Ascensão de Nosso Senhor, subiu ao púlpito e tomou por texto da homília as palavras: "Mais um pouco e não me vereis". A prática versou sobre grandes tribulações novas, e heresias, que viriam sobre a Boêmia, e sobre a penitência que os fiéis deveriam fazer, para aplacar a ira de Deus. Apelou para os ouvintes, para que conservassem a fé católica. Na véspera da Ascensão de Nosso Senhor, fez uma romaria à imagem milagrosa de Nossa Senhora de Bunzlau, e em preces ardentes, recomendou-se a Deus e Maria, para o martírio, que o esperava. Pela tarde voltou a Praga. Na mesma noite o rei mandou chamá-lo, e sem delongas lhe disse: "Ouve, (aqui se serviu de uma palavra altamente insultuosa) tua morte é certa, se não te resolves a contar a confissão da rainha. Por Deus, far-te-ei beber água". O Santo com firmeza retrucou: "Prefiro mil vezes morrer". Wenceslau mandou fechá-lo em um quarto contíguo. As 9 horas da noite foi levado à ponte, que liga a cidade nova à velha e daí precipitado nas águas do Moldavia. O céu incumbiu-se de revelar o crime e trazer à luz o que as trevas da noite deviam esconder. Apareceu uma luz claríssima que, em forma de milhares de estrelas, desceu sobre o corpo do mártir, acompanhando-o rio abaixo. O povo, alarmado por este fenômeno, via a luz, sem saber explicar a causa. O próprio rei, chamado pela rainha para apreciar o clarão maravilhoso e de todo extraordinário, vendo-o, ficou tomado de grande pavor. Com o romper do dia, o corpo do Santo apareceu deitado sobre a areia do leito do rio, cujas águas, para lhe dar lugar, tinham-se dividido ao meio. Assim foi encontrado o corpo do Santo Mártir, em cujos lábios brincava um doce sorriso, reflexo da paz e santidade.

Os membros do cabido levaram-no para a igreja mais próxima e dias depois se efetuou a transladação soleníssima para a Catedral. Imediatamente começou a veneração a João Nepomuceno e estupendos milagres confirmaram a fé na santidade do grande Mártir.

Em 1719 foi aberto o túmulo de S. João Nepomuceno. Posto que o corpo todo tivesse pago seu natural tributo à obra destruidora da morte, a língua foi encontrada ressequida, sim, mas muito bem conservada. Seis anos depois, foi esta relíquia sujeita a exame, perante uma comissão autorizada pela Santa Sé. Deu-se então o seguinte fato: a língua entumeceu repentinamente e a cor escura, que antes apresentava, transformou-se num vermelho bem vivo. A preciosa relíquia pode ser vista no tesouro da Catedral de Praga. Fechada num vaso de cristal, exposta em riquíssimo ostensório se acha no mesmo estado de conservação, em que foi encontrada em 1719.

S. João Nepomuceno costuma ser invocado por pessoas que vêm em perigo sua boa reputação ou que se acham embaraçadas para fazer uma boa confissão.

S. João Nepomuceno foi canonizado por Bento VIII, em 1729.

Reflexões

1. Grande arte é saber falar e calar-se, quando as circunstâncias o aconselham. S. João Nepomuceno interpelou ao rei, quando este se excedia em caprichos de crueldade. Palavra nenhuma, porém, lhe caiu da boca, quando o tirano se pôs a extorquir confissões, que se achavam sob o sigilo sacramental. Muitos pecados seriam evitados, se os homens soubessem calar-se, quando a caridade, a justiça e a piedade o exigem e se tivessem coragem e hombridade para falar, quando as mesmas virtudes o requerem. Maldizer, caluniar e difamar o próximo é pecado e pecado gravíssimo, conforme for a posição social da vítima ou a matéria que fornecer o assunto. Pecam os pais e superiores que se calam na presença de faltas graves, que os filhos e súditos cometem. Pecam aqueles que toleram em sua presença conversas indecentes, ímpias e impiedosas, quando podiam e deviam protestar.

2. Pecam aqueles que, por vergonha ou de propósito, ocultam pecados graves na confissão. O profeta-rei pedia a Deus que lhe "pusesse uma sentinela na boca e uma porta nos lábios". (S. 140-3). "Guardemos bem a nossa língua — diz S. Crisóstomo — a razão e a prudência sejam a chave da nossa boca, que a abra e feche, quando for necessário. Às vezes é melhor calar-se, como também pode ser mais útil falar, do que quedar-se silencioso".

Santos, cuja memória é celebrada hoje

Em Gubbio, na Itália, o bispo Santo Ubaldo Baldassini, cujo nome se liga a muitos milagres. O povo tem muita confiança em sua intercessão nos casos de possessão diabólica.

Na Pérsia, a memória do bispo-mártir Auda, com sete sacerdotes, nove diáconos e sete virgens. Tiveram uma morte gloriosa de martírio no tempo do imperador Jazdegird.

Em Uzalum, África, os mártires Felix e Genadio.

Em Amiens, na França a festa do santo bispo Honorato.

Em Cividale, na província Udine, a memória de Santa Máxima, Virgem.

Referência: Na luz Perpétua, 5ª. ed., Pe. João Batista Lehmann, Editora Lar Católico – Juiz de Fora – Minas Gerais, 1959.

Comemoração: 16 de maio.

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