Santa Luiza de Marillac

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Santos de setembro

Santo do dia 15 de março
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Santa Luiza de Marillac

Santa Luiza de Marillac

(† 1660)

Fundadora da Congregação das "Filhas da Caridade de São Vicente de Paulo"

Luiza de Marillac nasceu em Paris a 12 de agosto de 1591. Muito jovem ainda, teve o pesar de perder a mãe. O pai, Luiz de Marillac, senhor de Ferrières, proporcionou-lhe uma educação esmeradíssima e eminentemente cristã, que a preparou para a sua missão providencial.

Já se havia dedicado à prática de uma vida toda de caridade, quando um dia lhe escreveu São Vicente de Paulo, ao saber que ela visitara em Paris, uma pessoa atacada da peste. "Nada receies Mademoiselle, Deus quer servir-se de vós para alguma coisa que visa a sua glória, e estou certo de que Ele vos conservará para este fim". Visivelmente se realizaram estas palavras proféticas, pelo posterior desenvolvimento grandioso da Congregação das Irmãs de Caridade, hoje conhecida em todas as partes do mundo.

Em 1613 contraiu matrimônio com António le Gras, secretário da rainha Maria de Medici. Deus deu ao piedoso casal um filho, que, pelas suas virtudes, mostrou-se digno dos progenitores. Em 1625 a morte lhe arrebatou o esposo. Com coragem e resignação cristã sofreu este duro golpe, procurando alívio e consolo em Deus, a quem se consagrou inteiramente. Para oferecer a Deus um sacrifício mais perfeito e assim garantir a salvação de sua alma, decidiu dedicar-se inteiramente às obras de caridade, decisão que teve o pleno consentimento do bispo de Belley, seu confessor. Não podendo ele permanecer por muito tempo em Paris, confiou-a à direção de São Vicente de Paulo, sobre a pessoa do qual recebera ótimas informações de São Francisco de Sales.

Nas paróquias onde São Vicente de Paulo ou seus missionários pregavam missões, fundaram confrarias de caridade, que se recrutavam de piedosas senhoras, cujo intuito era socorrer os pobres enfermos. S. Vicente, vendo que era necessário dar a este movimento uma organização bem orientada, confiou a Luiza de Marillac a missão de inspetora. A piedosa senhora não só aceitou essa incumbência, mas dedicou-se à obra com um zelo admirabilíssimo. Os frutos deste trabalho não tardaram a aparecer. A humildade e dedicação da inspetora abriram-lhe os corações, e raros foram os casos de uma ou outra paróquia não querer aceitar-lhe a benéfica colaboração. Em muitos lugares sua chegada foi festejada com grandes manifestações de religiosos. No desempenho de sua missão, na nobre propaganda da caridade, se deixou guiar pelo genial apóstolo que era seu confessor. Embora fosse grande o desejo de ambos de verem as confrarias fundadas e prósperas em todas as paróquias, nada faziam, se o pároco se mostrava contrário às suas ideias. "Cedei", escreveu S. Vicente a Luiza num caso, em que o pároco se opôs à fundação da confraria "cedei; um só ato de submissão é como um belo diamante, que vale mais que uma montanha de pedras, isto é, de atos inspirados pela própria vontade".

Nas visitas que fazia às paróquias, Luiza bem depressa teve de convencer-se da dificuldade, senão da impossibilidade, de acostumar as senhoras, principalmente as da alta sociedade no serviço de dama de caridade. Cada vez mais clara lhe surgiu diante do espírito a ideia de fundar uma Congregação religiosa, que, com mais ordem, dedicação e independência pudesse tomar a seu cargo a obra de caridade, como a idealizava. Não faltaram elementos utilissimos para realizar o plano. Em 1633 estava já formada uma pequena comunidade, composta apenas de quatro Irmãs, com Luiza como superiora. Na festa da Anunciação da SS. Virgem, do ano de 1634, se consagraram por um voto ao serviço dos pobres e doentes. Esta data tão significativa é até hoje de grande importância na Congregação das Irmãs de Caridade sendo neste dia que renovam, todos os anos, os votos que as ligam a Deus e aos infelizes.

S. Vicente de Paulo deu à jovem Congregação uma regra, cujo espírito é mais uma prova de alta competência do autor em matéria de virtude e santidade. Às filhas dava "como mosteiro a casa dos enfermos, como claustro as ruas da cidade, como clausura a obediência, como grade o temor de Deus, como véu a santa modéstia". Tiveram como divisa a palavra do Apóstolo "Caritas urget me", a caridade me obriga". A nova instalação teve um incremento grandioso.

Admirável foi a atividade de Luiza de Marillac. Quem a conhecia, vendo-lhe o estado de saúde tão precário, não podia compreender como lhe era possível dedicar-se a uma obra tão trabalhosa. O próprio S. Vicente de Paulo chegou a dizer às Irmãs, que os últimos vinte anos da vida da Superiora eram um verdadeiro milagre.

Quando em 1652 Paris foi visitado pela peste, Luiza de Marillac socorreu a 14.000 pessoas e suas filhas distribuam aos pobres o necessário sustento. Outras iam aos subúrbios tratar dos doentes. A pedido da rainha Maria de Gonzaga, a Congregação estabeleceu-se na Polônia.

Luiza de Marillac via nos pobres e doentes a pessoa de Jesus Cristo, tendo em mente a palavra do Divino Mestre: "O que fizestes a um destes mais pequeninos, foi a mim que o fizestes". Igualmente grande era o seu respeito ao Sumo Pontífice, a quem chamava "o Pai santo dos cristãos e o verdadeiro tenente de Jesus Cristo". Firme na fé, fugia da heresia como da peste. Cortou relações com a duquesa de Liancourt, sua amiga, por se ter esta deixado atrair pela heresia jansenista. Em outra ocasião, retirou as Irmãs de um estabelecimento, porque das ideias jansenistas do vigário da paróquia receava uma influência má sobre a fé das religiosas.

Inspirada pela caridade, procurava comunicar o mesmo espírito às suas Filhas espirituais. Numa antiga crônica da Congregação se lê o seguinte tópico: "Madame tinha tanto respeito e devoção para com as pobres que, desde o início do estabelecimento de caridade, recomendou às suas filhas que os servissem com grande caridade e humildade, considerando-os como seus senhores e amos; por isso queria que se lhes destinasse o "primeiro pedaço de pão que se cortava para o almoço e primeira ração de caldo que se servia para o jantar". Ela mesma punha mãos à obra. servindo os doentes, lavando-lhes os pés, pensando-lhes as chagas e tratando-os com todo o carinho. Na visita às aldeias, ela própria lecionava, para instruir as professoras que ali constituía.

No mês de março de 1660, Luiza de Marillac sentiu que sua vida aqui na terra ia findar-se. A suprema consolação, que desde longos anos pedia a Deus, era de ser assistida no derradeiro momento pelo pai e guia de sua alma, Vicente de Paulo. Deus não lha concedeu. Vicente de Paulo, de 85 anos, também prestes a deixar este mundo, só pôde enviar-lhe a bênção e as seguintes palavras: "Madame, ides antes de mim; espero em breve, rever-vos no Céu. Ela recebeu a Comunhão das mãos do vigário de Saint-Laurent, que a acompanhava no seu trânsito. Este, mais uma vez, lhe pediu que abençoasse as suas filhas. Ela aquiesceu: "Queridas irmãs, disse-lhes ela, (resumindo neste momento solene o que havia sido sempre a paixão de sua vida e o desejo supremo de seu coração), continuo a pedir a Deus a sua bênção para vós e a graça de perseverar na vossa vocação, a fim de servi-lo da maneira que Ele deseja de vós: cuidai bastante do serviço dos pobres e sobretudo vivei em grande união e cordialidade, amando-vos umas às outras a fim de imitardes a união e vida de Nosso Senhor, e rogai com fervor à Santíssima Virgem para que ela seja a vossa única Mãe". Acrescentou que morria, tendo em grande estima a vocação delas e que, se vivesse cem anos, não lhes pediria outra coisa que uma absoluta fidelidade a esta santa vocação.

Um padre da Missão ocupava-lhe, à cabeceira, o lugar de Vicente de Paulo, não a deixando um instante. Ele lhe ministrou a indulgência da boa morte. Pelas 11 horas. ela fez baixar as cortinas, como para se recolher, e desde então não falou mais. Meio quarto de hora após, entregava docemente a alma a Deus. Era segunda-feira, 15 de março de 1660, O vigário de Saint-Laurent, de sua paróquia, a quem ela fizera confissão geral, achava-se presente; não pôde deixar de exclamar cheio de admiração: "Oh! que bela alma, leva consigo a graça do batismo!"

Os funerais foram muito simples. Era necessário conformar-se à vontade expressa pela piedosa fundadora, que não lhe tributassem maiores honras que às Irmãs, "Agir de outra forma, dissera ela, seria declarar-me indigna de morrer como uma verdadeira Irmã de caridade, embora não estime nada de mais glorioso que essa qualidade". Foi inumada na igreja de Saint-Laurent, na capela da Visitação. Os despojos mortais foram transferidos mais tarde, para a capela da casa matriz das Irmãs de Caridade, 140, rue du Bac, Paris, onde hoje repousam. É esta a capela que foi honrada, em 1830, com a aparição da Santíssima Virgem e com a manifestação da Medalha Milagrosa. A mais preciosa deposição no processo de beatificação de Luiza de Marillac será sempre o elogio que dela teceu São Vicente, em duas conferências feitas diante das Irmãs de Caridade, poucos dias depois da morte da Santa, conferências que ele quis proferir apesar de sua enfermidade.

Nestas conferências S. Vicente louvou particularmente a prudência sem par de Luiza de Marillac, a sua caridade e pureza. Disse, entre outras cousas: "Há pouco, refletindo diante de Deus, eu dizia: Senhor, queres que falemos de vossa Serva, pois é obra de vossas mãos: e perguntava a mim mesmo: que viste nela, neste 38 anos que a conheceste, que viste nela? Velo-me à memória reminiscência de alguma sombrinha de imperfeição; mas de pecado mortal, oh! Nunca, nunca! Era uma alma pura em tudo, pura na mocidade, pura no estado de casada, pura na viuvez. Tínheis sob os olhos, minhas filhas, um belo modelo: ela agora no Céu. Lá, vossa boa mãe não será menos bondosa para convosco que na terra. Conquanto não se deva rogar publicamente aos mortos que ainda não foram canonizados, pode-se fazê-lo em particular; por conseguinte podeis perfeitamente pedir a Deus graças pela sua intercessão".

Beatificada pelo Papa Benedito XV, em 1920, foi elevada à suprema honra dos altares a 11 de março de 1934 pelo Sumo Pontífice Pio XI.

Reflexões

A vida de Santa Luiza de Marillac, é o mais vibrante reflexo do fogo celeste que é a caridade.

Coração de mulher, de mãe, e cristã de crente, coração iluminado, perseverante, heróico, universal da universalidade e grandeza da fé, formou-se no amor do Coração de Jesus, que é a caridade infinita. Foram necessários três séculos para que sua grandeza e vitalidade pudessem aparecer em todas as proporções; apareceram nas obras por ela criadas em nome e por amor do Redentor e da caridade nascida no Coração divino. Só hoje se pode avaliar suficientemente como original e árdua, admirável e necessária tem sido esta sua obra. Só hoje o mundo, que organiza o mal e sabe arrecadar milhões para a perdição das almas, e isto num plano em sua grandiosidade desconhecido no passado, poderá compreender e contemplar melhor que tudo isto é em comparação à caridade, exercida não só como sentimento e oração, não só espiritualmente, mas socialmente, corporalmente como manifestação e faísca daquela chama interior, de que se alimenta a imensa família de Cristo.

Deus é a caridade, afirma B. João, - Deus não o vemos, mas vemo-lo no próximo, a quem devemos amar como a nós mesmos. Ora, se no passado tal preceito levou a práticas de heroísmo inúmeros indivíduos, e sodalícios, ninguém se lembrava de fundar uma Congregação feminina do "Mandamento novo" como Banta Marillac fez, criando a Filha da Caridade. "Filha da Caridade: Filha de Deus", dizia S. Vicente; e quando a Filha da Caridade da sua vocação, certamente a humanidade não tinha presenciado coisa igual, mais prodigiosa, e mais gentil. Agora as "cornetas" brancas são realmente duas asas de anjos que nas voltas do purgatório terrestre são mensageiros da divina misericórdia.

Quando os secretários de todos os tempos, e hoje os bolchevistas, negadores de Deus, querem ferir a Igreja Católica, focalizam seu ódio ao Papa; e quando querem chasquear o que há de mais delicado e comovente no heroismo cristão, tomam por emblema a Filha da Caridade. Mas aqueles que se gloriam da divisa do Filho de Deus, enchem-se de admiração diante daquela figura cândida, que representa um exército de bondade. O comunismo com toda a sua propaganda fragorosa tem disseminado a fome, o extermínio, a morte; deu pedras a quem lhe pedia pão As obras de S. Vicente, de Santa Luiza de Marillac e de Frederico Ozanam, nos tristes dias da miséria e do inverno gélido tem feito resplandecerem os raios de um sol fecundo de vida e de graça.

Não só as Filhas da Caridade, mas a cada católico o Supremo Pastor das almas apresenta esta grandiosa figura de mulher, apóstola daquela virtude que é o fundamento da Lei, o distintivo do cristão, daquela virtude que ainda hoje de todas as outras é a mais necessária: a Caridade. Caridade que emana do coração que vive da luz do Espírito Santo e do Redentor; mas caridade ardente, operosa, ativa, real, perseverante, tal qual a descreve S. Paulo na sua epístola aos Coríntios: "A caridade é paciente, é benigna, não é invejosa, não é temerária, não se ensoberbece; não é ambiciosa, não busca os seus próprios interesses, não se irrita, não suspeita mal, tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo sofre". (1. Cor. 13. 4-7).

Caridade! Pratiquemos a caridade como o Divino Redentor a praticou; como a praticaram S. Vicente de Paulo, Santa Luiza de Marillac, glorificando a Deus e vindo em auxílio ao pobre, ao necessitado, ao atribulado. Não pode haver afirmação mais prática e sensível do nosso amor à Igreja e da nossa cooperação ao Reino de Cristo.

Referência: Na luz Perpétua, 5ª. ed., Pe. João Batista Lehmann, Editora Lar Católico – Juiz de Fora – Minas Gerais, 1959.

Comemoração: 15 de março.

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