Santa Emília de Rodat

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Santos de julho

Santo do dia 23 de abril
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Santa Emília de Rodat

Santa Emília de Rodat

(† 1852)

Depois da Revolução que tantas ruínas morais acumulou em França e fora dela, a Providência Divina fez surgir, como para lhes trazer mais pronto remédio uma verdadeira floração de novas Congregações religiosas, cujos Fundadores e Fundadoras, um após outro receberam a honra dos altares.

Entre estes distingue-se a 1ª santa canonizada do Ano Santo (1950) Santa Emília de Rodat, fundadora da Congregação da "Sagrada Família" francesa, que nasceu e viveu na província de "Rouergue", essa terra pitoresca, verdejante, montanhosa e dura de cultivar, cujos habitantes primam pela simplicidade e energia de caráter e a firmeza da fé cristã.

E foi no seio de uma família cristã, da nobreza francesa, que Deus fez vir ao mundo a Santa que Ele destinava à educação das crianças pobres. Nasceu no dia 6 de setembro de 1781, no Castelo de Druelle, nas redondezas de Rodez. Pequenina ainda, foi entregue aos cuidados de sua avó materna e da sua madrinha, que residiam no Castelo de Ginais (Villefranche). Nada houve de extraordinário na infância da futura Santa, a não ser os desvelos e cuidados prodigalizados à sua educação cristã. Estes esforços deram frutos. Emília tornou-se uma menina exemplar pela sua piedade, sua bondade e sua modéstia.

Uma crise — Sem profunda humildade não há grande santidade. Deus dispôs, que Emília conhecesse as profundezas das misérias humanas e os abismos da misericórdia divina. Aos 16 anos passou ela por uma crise; do fervor passou à tibieza; a modéstia deu lugar ao espírito mundano. O esmorecimento entrou em sua vida. Deixou o confessor, que aconselhava a frequência aos sacramentos. Sua conduta inquietava. "Se esta menina virar-se para o mal, fará poucas e boas" teria observado um padre.

Para atrair sua conversão, Deus enviou-lhe uma doença de estômago. Emília ficou com o rosto alterado e a vaidade humilhada, Durante o Jubileu extraordinário, concedido em 1804 por Pio VII, Emília confessou se. Deus a esperava. Um padre revelou-lhe o estado de sua alma. Num instante, a graça iluminou a mocinha e transformou-a completamente. Ela confessará mais tarde: "Sem ter tomado resolução alguma... passei da morte para a vida. No meu coração achavam-se todas as virtudes, como se eu as tivesse praticado durante trinta anos, e sentia-me capaz de fazer todos os sacrifícios pelo amor de Deus, que se tinha apossado de minha alma. Minha alma estava inundada de inefáveis doçuras e de santa alegria... Era o céu".

Emília, que então morava com sua avó numa pensão de Villefranche, decidiu consagrar-se a Deus. Aconselhada pelo seu confessor, fez um estágio sucessivo em três Congregações religiosas. Por toda parte sentiu lutas interiores e cruéis angústias. Deus a queria em outro lugar. Ele a destinava para a fundação de uma nova família religiosa: a Congregação da Santa Família.

A voz de Deus — Aproveitou-se, Deus, da seguinte circunstância para fazer Emília compreender. Visitando um dia uma pobre mulher de Villefranche, encontrou à sua cabeceira algumas mães de família. Todas se queixavam do abandono em que tinham que deixar seus filhos: Antes da Revolução as Irmãs Ursulinas, ensinavam gratuitamente. Foram elas que nos educaram e instruíram. Pobres demais para mantermos nossos filhos no colégio, somos obrigadas a os deixar crescer na ignorância e no esquecimento de Deus".

Emília, que se tinha revelado excelente educadora, percebeu nestas queixas a voz de Deus, uma resposta às suas insistentes orações. Resolveu abrir um colégio para meninas pobres. Encontrou uma casa para alugar no centro da cidade.

Uma revolta geral elevou-se na cidade — "É uma empresa por demais difícil para quatro moças sem experiência da vida!" "São umas imprudentes e umas orgulhosas que se riem das regras da prudência!" "São moças que não têm constância, são cabeças exaltadas! A derrota punirá suas presunções!" "Estas extravagantes, estas cabeçudas poderiam comprometer a Igreja de Deus!" O pai de uma das colaboradoras de Emília ameaçou de recorrer à força pública para tirar sua filha deste empreendimento louco.

As quatro não recuaram, convencidas que Deus desejava esta obra e que Ele as ampararia. Não tinham fortuna. Para enfrentar as primeiras despesas, Emília, recorreu à generosidade dos seus parentes. Uma recusa categórica foi a única resposta. Se seus parentes a abandonavam, Deus a amparava mais fortemente.

Como por encanto, a Providência interveio, recompensando com uma liberalidade toda divina o abandono de Emília e de suas três amigas: eis que uma senhora aparece e lhes oferece uma marmita, uma pobre velha chega com um feixe de lenha, colchões e uma cama; uma antiga empregada dos pais de Emília traz pão para a novel comunidade e ofereceu-se como cozinheira; uma moça modesta consegue roupa branca.

A Epopéia das Irmãs da Santa Família começa — A escola se abre, os alunos afluem, as órfãs são internadas. O sucesso da obra exige um local mais amplo. E com a obra amplia-se a vida religiosa da comunidade: vida de orações, de recolhimento de pobreza, de acordo com um regulamento traçado por Emília. A autoridade eclesiástica aprova e anima.

Atraídas por tanta dedicação e tanta piedade, outras voluntárias apresentam-se a Emília. A comunidade cresce. Organizam-se outros colégios. Em 1834 quando foi fundada a casa de Decazeville, Emília nomeia Irmãs, não clausuradas, para a visita dos enfermos a domicílio. Alguns propõem a supressão da clausura em todas as casas. Opõe-se firmemente a fundadora, convencida como todos os santos, do valor inigualável do silêncio e da solidão: se uma árvore é por demais vigorosa, retruca ela, é necessário cortar os ramos, nunca a rale; a Congregação da Santa Família foi fundada sobre o voto de clausura: tocar neste voto, seria abalar os alicerces do edifício!

A nova comunidade procura em primeiro lugar o reino de Deus e sua justiça — a prática heroica fiel da vida religiosa — e a Providência desdobra o brilho da Congregação.

Quando a fundadora faleceu, em 1852, a Congregação contava com 36 casas. Hoje em dia, conta com mais de 200, espalhadas pela França, Brasil (1), Espanha, Itália, Egito, Suíça e Bélgica. Um trecho das Constituições marca a espiritualidade de Emília de Rodat: "Se as Irmãs da Santa Família vivem da fé, se elas fazem pouco caso das riquezas humanas e se elas se abandonam totalmente à proteção e à direção de Jesus, Maria e José, não pensando senão em evitar o que os poderia ofender, não terão nada a temer nada nem para a Instituição nem para elas mesmas, nada, nem do mundo, nem do demônio, nem da natureza; nada, enfim, nem da vida nem da morte".

Este abandono à Providência transparecia no comportamento de Emília, quando a morte lhe tirava suas colaborações: "É a vontade de Deus... Deus sabe melhor do que nós o que é necessário. Meu Deus, que vossa vontade seja feita! O amor desta amável vontade deve passar antes de qualquer outra coisa!" Mesmo abandono à Providência nos seus sofrimentos físicos. Padeceu com uma fístula na vista, foi atormentada durante longos anos por uma moléstia de nariz que quase degenerou em câncer. Sofreu duas cruéis operações. Na segunda os médicos pensaram em amarrá-la. Ela recusou, mostrando seu crucifixo: "O Crucificado em minhas mãos será uma cadeia bastante forte". Não proferiu nenhuma queixa durante a longa operação. Estupefação dos médicos: "Há verdadeiramente qualquer coisa de sobrenatural nesta mulher!"

Leitora assídua da Imitação de Cristo e sobretudo da Bíblia, sabia de cor quase todos os salmos. Conhecia numerosas ascéticas e resolvia com segurança os problemas da vida interior.

Emília de Rodat faleceu no dia 19 de setembro de 1852. A noite precedente passou-a toda, absorta na contemplação da aparição de Maria aos pequenos pastores de La Salette. Viu a tristeza e as lágrimas da Virgem: "Mas tenho confiança, acrescentou que ao vê-la ela me sorrirá!"

Os processos canônicos — O renome de santidade da fundadora das Irmãs da Santa Família era tal que, quinze anos depois de sua morte, o bispo de Rodez podia transmitir à Corte Romana os autos dos processos diocesanos. A 7 de março de 1872, Pio IX assinou o decreto de introdução da causa. Em 1901, Leão XIII promulgou o decreto da heroicidade das virtudes.

No dia 9 de junho de 1940, Pio XII beatificou a fundadora das Irmãs da Santa Família.

Dez anos depois, em 23 de abril de 1950, o mesmo Papa, por ocasião do Ano Santo, elevou-a à suprema honra dos altares.

(1) As religiosas da Sagrada Família vieram ao Brasil em maio de 1902, estabeleceram-se em Recife, João Pessoa, Jaguaribe e ultimamente em Caldeireiro (Bairro de Recife).

Referência: Na luz Perpétua, 5ª. ed., Pe. João Batista Lehmann, Editora Lar Católico – Juiz de Fora – Minas Gerais, 1959.

Comemoração: 23 de abril.

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