Santo Aniceto, Papa e Mártir
(† 165)
Natural da Síria, era Aniceto o sucessor de São Pio I na cadeira de S. Pedro. O governo deste Pontífice coincide com o tempo do imperador romano Antônio. Não é certo se morreu mártir pela fé; é porém, fora de dúvida, que tanto lhe foram os sofrimentos e aflições pela causa de Cristo, que a Igreja lhe conferiu o título honroso de mártir. Além das perseguições oficiais da parte do governo romano, existiam perigosas heresias, que faziam periclitar a existência da Igreja. Embora fosse ela edificada sobre rochedo, contra o qual o inferno em vão dirige os ataques, grande número dos fiéis abandonou a fé, correndo atrás do fogo fátuo de seitas errôneas. Grandes foram os estragos que o herege Valetim causou ao rebanho de Cristo.
A essa obra perniciosa associou-se uma adepta da seita imoralíssima dos Carpocratitas, Marcelina, a qual levou muitas pessoas à apostasia. Ainda um tal Marcion, herege e propagandista temível, propalou o veneno da heresia entre os cristãos.
O Papa Aniceto envidou todos os esforços para impedir o progresso da obra de satanás e reconduzir ao seio da Igreja os pobres transviados.
Deus lhe enviou um auxiliar de grande valor, na pessoa de S. Policarpo.
Este, discípulo de S. João Evangelista, veio a Roma, e em demonstrações públicas, provou que a Igreja de Roma, na doutrina, era idêntica a de Jerusalém. Esta declaração causou a conversão de muitos hereges.
Num ponto, aliás, de ordem secundária, houve divergência entre Policarpo e Aniceto; quanto ao tempo da celebração da Páscoa. Os cristãos do Oriente comemoravam a Páscoa com os Judeus, quando na Igreja Romana não existia este uso. Policarpo, desejoso de ver Roma adotar o uso da Igreja asiática, não conseguiu esta uniformização. Aniceto opinava e com razão, que não devia abolir um costume introduzido e aprovado pelo príncipe dos Apóstolos. Entretanto deixou aos cristãos orientais toda a liberdade na celebração da Festa da Páscoa, como eram acostumados desde os dias de S. João Evangelista.
Santo Hegesipo era outro auxiliar estimável, que eficazmente dirigiu forte campanha contra as heresias. Num livro que escreveu, sobre a tradição, provou que a doutrina passou, pura e inalterada, dos Apóstolos ao Papa Aniceto e demonstrou que a mesma doutrina era conservada e ensinada, sem a mínima alteração.
Aniceto governou a Igreja durante oito anos e nove meses e morreu no ano de 165.
Reflexões
Embora São Policarpo e as Igrejas orientais tivessem opinião diferente da sua, relativamente à época da Páscoa, Aniceto manteve com elas relações amistosas. Com os hereges, porém, não acontecia o mesmo. A divergência entre o Oriente e o Ocidente, afetava apenas a ordem disciplinar eclesiástica, quando os hereges deturpavam dogmas e doutrinas fundamentais da religião. À disciplina eclesiástica pertencem os usos e práticas religiosas que, não fazendo parte do depósito da fé, podem ser modificadas, conforme as circunstâncias locais ou temporais o aconselharem. Os Apóstolos proibiram aos fiéis comer a carne de animais asfixiados. Os primeiros séculos conheciam só o batismo de imersão, quando hoje está em uso o batismo de ablução. Hoje celebramos festas, que a Igreja primitiva desconhecia. Penitências públicas que os fiéis dos primeiros séculos eram obrigados a fazer, hoje caíram em desuso. Tudo isto e muitos outros usos e cerimônias da Igreja não são coisas essenciais da religião e sua prática depende das determinações da autoridade eclesiástica, quer papal, quer diocesana e esta sempre em união perfeita com Roma. Ao Papa e aos Bispos foi dado o poder de governar a Igreja. "A vós — diz S. Paulo, — o Espírito Santo estatuiu como guardas e intendentes para o governo da Igreja de Deus". (At. 20, 28). O poder episcopal vem de Deus e é por esse motivo que os fiéis devem respeitar e obedecer as ordens e determinações que os Bispos dão para as dioceses e o Papa para a Igreja universal. "Quem vos ouve, a mim ouve; quem vos despreza, a mim despreza". (Lc. 10, 16). "Se alguém não ouve a Igreja, seja tido por pagão e publicano". (Mt. 18, 17).
Santos, cuja memória é celebrada hoje
Na Tunísia a morte de São Mapalico, que com muitos outros cristãos na perseguição deciana sofreu o martírio.
No mesmo lugar os mártires Fortunato e Marciano.
Em Córdoba, a memória dos mártires Elias, sacerdote, e dos monges Paulo e Isidoro.
Referência: Na luz Perpétua, 5ª. ed., Pe. João Batista Lehmann, Editora Lar Católico – Juiz de Fora – Minas Gerais, 1959.
Comemoração: 17 de abril.
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