São José Cotolengo

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São José Cotolengo

São José Cotolengo

(† 1842)

José Cotolengo nasceu em Brá, na província de Piemonte, no seio de uma família muito piedosa. Quando tinha cinco anos, conta seu biógrafo, viram-no medir com uma bengala os quartos da casa. A mãe interroga-o:

— "Que estás a fazer?" E o pequeno respondeu: — Queria saber quantas camas cabem nesta casa, porque, quando for grande, quero enchê-la toda de pobres.

Foi isto em 1796. Quarenta e cinco anos depois, já fundador da "Piccola Casa della Divina Providênza", fala as suas irmãs de hospitais, de leitos, de remédios para os pobres e conclui sorrindo: — "Estes pensamentos não são de hoje; eles andam sobre os meus ombros desde o tempo de criança, porque, minhas filhas, quando tinha quatro ou cinco anos, deu-me Deus a vocação de fundar hospitais".

Estamos no ano de 1827. Uma pobre mulher detém-se em Turim, numa viagem que fazia em direção a Lião, acompanhada do marido e de três filhos, dos quais o maior tinha apenas sete anos. Quando está para recomeçar a viagem, é atacada de doença grave e tanto mais lamentável quanto ela estava grávida de alguns meses.

No Real Hospício da Maternidade se recusam a recebê-la, porque não podem considerá-la ainda como parturiente. É por isso recolhida ao depósito comunal, para onde a polícia leva os desgraçados apanhados na rua.

A doença agrava-se; e é chamado um padre para lhe administrar os sacramentos. É o Padre Cotolengo que vem em seu auxílio espiritual, e não a abandona, até que ela exala o último suspiro.

O marido desespera e as crianças choram desoladamente. O Padre Cotolengo procura consolá-los, mas esta cena dolorosa permanece diante dos seus olhos; aquelas lágrimas e aquelas lamentações ressoam-lhe no coração, na volta à sua igreja de "Corpus Domini".

Não pôde entrar em casa, fica algum tempo em oração diante do Santíssimo Sacramento, depois vai à sacristia e passeia de um lado para outro, totalmente absorvido num pensamento lancinante. De repente chama o sacristão e ordena: — Vai ao campanário e toca o sino.

O sacristão responde que as funções já terminaram. Mas Cotolengo insiste: — Vai, toca o sino depressa. E quando o sacristão volta, ordena: — Vai ao altar de Nossa Senhora, descobre a imagem e acende as velas.

Entram poucos fiéis na igreja; e o Padre ajoelha-se diante do altar e, como que tomado de santo arroubamento, entoa as Ladainhas de Nossa Senhora. Os assistentes fazem-lhe coro, numa atmosfera de insólita emoção. Quando Cotolengo volta à sacristia, diz ao sacristão:

— A graça foi concedida. Bendita seja Nossa Senhora.

E entrando em casa, onde habitava com os seus colegas Cônegos, chama-os, conta-lhes o caso da pobre enferma, morta quase no meio da rua e expõe-lhes o projeto de preparar uma casa modesta onde os forasteiros, as pessoas de passagem, que não possam ser recebidas nos hospitais da cidade, encontrem socorro e refúgio.

A sua palavra foi tão comovente, que os colegas partilharam do seu sentimento e prometeram-lhe cooperação. Poucos dias depois, o Padre Cotolengo alugou dois quartos numa casa chamada "Volta Rossa", onde meteu quatro camas e, a 17 de janeiro de 1826, lá recolheu a primeira enferma, que ele chamou à "pedra fundamental do hospital". Nesta casa está hoje uma lápide, posta pelas Sociedades Operárias de Turim, a recordar a primeira fundação do Instituto da Divina Providência.

Cotolengo leva seu irmão, frade dominicano, a visitar os dois pobres quartos da "Volta Rossa". José Cotolengo está absorto em altos pensamentos. — "Quem sabe, diz ele de quando em quando, o que fará aqui a Providência? Não me pertence interrogá-la, mas secundá-la. Sabes, diz ele, voltando-se para o irmão, como principiou o Hospital de São João? — Não, respondeu o dominicano. — Olha: começou com duas ou três camas na torre de S. João. — E pensas em fundar um hospital? Ora... — Eu... um hospital? — responde muito enrubescido o fundador da Casa da Divina Providência — nem por sonhos... mas a Providência pode tudo e quem sabe o que ela quer fazer?

Passaram-se três anos. 1831. O colera-morbus manifesta-se, de onde em onde pelo Piemonte. Turim toma precauções para permanecer imune, e foi uma boa ocasião para se ordenar o encerramento do minúsculo depósito da "Volta Rossa", contra o qual se multiplicavam as críticas e murmurações. O Reitor do "Corpus Domini" dá ao Cônego a carta que lhe ordena fechá-la e admoesta-o severamente. E diz-lhe que a casa não tem higiene, que assim como está, é um perigo, que é necessário fechá-la, que a necessidade pública exige esta medida etc.

O Padre Cotolengo ouve tranquilamente o sermão e só espera que termine, para dizer que o encerramento foi disposto por Deus, porque a "Volta Rossa" era excessivamente apertada e havia necessidade de transferi-la para onde pudesse ser aumentada. E como o Reitor se mostrasse incrédulo às declarações do Padre Cotolengo e lhe fizesse observações de prudência e previdência, este respondeu com a calma de um santo:

— O senhor Reitor fala desta maneira, porque não é, como eu, de Brá e não entende de couves. Mas eu que sou daquela aldeia, tenho sempre dito e ouvido dizer que as couves, para serem bem repolhudas, precisam de ser transplantadas. A Divina Providência, portanto, transplantará o depósito da "Volta Rossa" para onde lhe aprouver e lá tomará grandeza e aumento, de modo a ser uma couve maravilhosa.

O Cônego Cotolengo tomou sobre os ombros todas as dúvidas que pesavam a "Volta Rossa", para libertar os colegas cônegos, e deles receber a parte que lhe pertencia, na pobreza daqueles dois quartos. Depois alugou uma casinha só de duas salas, limpou-as o melhor que pôde e despediu-se da casa de "Corpus Domini".

Foi com ele uma carroça puxada por um jumento, na qual levava um pobre rapaz, atacado de gangrena nas pernas e três Irmãs, que arranjara para a assistência aos doentes. E, só depois deste primeiro enfermo se ter instalado na pobre casinha de Valdocco, é que Cotolengo batizou formalmente a sua obra de "Piccola Casa della Divina Providenza".

E ele explicava: — Chama-se "Piccola Casa" porque, comparada com todo o mundo, que é na verdade a casa da Divina Providência, é evidentemente uma casa pequena. Chama-se em segundo lugar, da "Divina Providenza", para que lhe sejam conhecidos a natureza e o fim. A sua natureza, porque não é casa ou obra de homem, mas casa e obra da Divina Providência, onde só ela manda, guia, dirige e com isto faz resplandecer este seu divino atributo. O seu fim, porque está aberta, não só para doentes privados de todo o auxílio, mas também a todos os infelizes, de ambos os sexos, que venham pedir o pão da Divina Providência.

E depois disse às Irmãs: — "Vós não passais de um punhado de filhas que seguis o espírito de São Vicente de Paulo; mas há de vir tempo em que milhares de pessoas comerão aqui o pão da Providência, e a casa se aumentará de tal modo, que parecerá uma cidade.

Estamos em fevereiro de 1946 e passou um século. José Cotolengo morreu em abril de 1842 e a 29 de abril de 1917 é venerado na sua igreja, com título de Beato.

As duas salas pequeníssimas de Valdocco aumentaram, multiplicaram-se. O primeiro enfermo chamou uma população de infelizes que, sob as insígnias da Divina Providência, vieram procurar a cura e o conforto. A predição do fundador de que a semi-deserta e malfadada localidade de Valdocco se transformaria, povoando-se de casas abertas a todos os sofrimentos humanos, realizou-se em fantásticas proporções. As casas multiplicaram-se, túneis e passagens subterrâneas ligam através das ruas públicas os vários pavilhões da Casa da Divina Providência.

Não se fez um plano regular que lhe presidisse ao desenvolvimento e, por isso, tudo apresenta uma pitoresca variedade, que aumenta a simpatia por aquele lugar que, além de ser asilo de todas as dores, é perpetuamente aliviado por um sorriso alegre, porque os sofrimentos da vida são ali transfigurados pela santa alegria do Senhor, que possui as almas acima e primeiro que todas as coisas.

Não menos de doze mil são as pessoas que vivem na Casa da Divina Providência, divididas em famílias da mais variada e diversa composição, todas animadas pelo mesmo espírito do fundador, todas submetidas à autoridade de um sucessor do Cônego Cotolengo e que é conhecido simplesmente pelo nome de "Padre".

Na Pequena Casa da Divina Providência os verdadeiros senhores e proprietários são os pobres de Jesus Cristo, que lá entram por direito próprio. Apenas se exige um título, para serem admitidos: é o título de miserável, de abandonado. E este título é tanto mais valioso e recomendável, quanto mais os pretendentes são miseráveis e abandonados. Há de preferência para eles um maior interesse e se é possível, maior solicitude.

A Casa da Divina Providência é uma cidade, onde moram a um tempo, a dor e a cura, a chaga e a cicatriz, a desgraça e o alívio, a miséria e a consolação, o sofrimento e a calmaria. É uma cidade cujos alicerces são a caridade por Cristo, em Cristo e para Cristo, porque a atividade que lá se pratica, se faz por amor de Deus, na consideração de que os infelizes representam Deus e na certeza de que Deus paga o cento por um do Evangelho.

Sendo a Casa da Divina Providência, o gênio de Cotolengo dividiu-a em famílias, pequenos grupos, segundo as condições, o sexo, a idade e as doenças.

A Pequena Casa da Divina Providência, por expressa vontade do Padre Cotolengo, seu fundador, não tem capitais; são ofertas que recebe, não são capitalizadas e são completamente gastas nas necessidades diárias. E a alguns amigos e conselheiros que pretendiam levar Cotolengo a garantir de qualquer maneira a obra para o futuro, ele respondia sorrindo: — Fico-lhes muito agradecido pelo bom coração que mostram para comigo. Mas tem a meu respeito pensamentos que nunca tive. Não sou eu que providencio acerca das receitas da Casa da Divina Providência. Eu por mim, não poderia sustentar um pobre sequer. Quem a sustenta é Deus. E Deus sustentará a Pequena Casa, mesmo que ela seja grande como o mundo.

Uma tarde, uma Irmã se apresentou a Cotolengo, dizendo-lhe que para as despesas do dia seguinte apenas tinha um marengo (moeda piemonteza), a única moeda que lhe sobejara. O Padre olhou a moeda de ouro e disse — Como é linda! E quem sabe quantas moedas ela não chamará para a Pequena Casa? E, dizendo isto, deitou-a pela janela fora.

Ficou estonteada a Irmã pela coragem e confiança do Padre Cotolengo. Mas logo depois chegou um benfeitor, que entregou uma grande quantia de dinheiro. Cotolengo recebeu-a sem contar e mandou chamar a Irmã, a quem disse: Eu não lhe dizia que o marengo havia de frutificar? Vá-se embora e providencie sobre tudo o que for necessário.

O Rei Carlos Alberto propôs um dia ao Padre José Cotolengo que pusesse a obra debaixo da proteção do Governo. Cotolengo respondeu imediatamente: Majestade, dê-me licença para lhe dizer que isso é impossível. A Pequena Casa está já sob a proteção da Divina Providência e não posso tirá-la à Providência, para a dar ao Governo.

De outra vez o Rei lhe disse: Querido Cônego, o Senhor no-lo conserve; mas se acaso morresse agora, que aconteceria à Pequena Casa?

— Majestade, vê como agora se rende a sentinela no portão do palácio real? Um soldado dá a senha a outro e vai-se embora e o outro continua a cumprir o seu dever. Assim sucederá com a Pequena Casa. Eu não sou nada. Quando a Divina Providência quiser, virá outro a tomar o meu posto e fará a guarda.

D. João Bosco e o Cônego Cotolengo eram muito amigos. Ambos edificaram as suas obras no Valdocco. D. Bosco entusiasmava-se com a obra de Cotolengo, toda dada ao consolo das desgraças presentes e, por sua vez, Cotolengo entusiasmava-se com a obra de D. Bosco, toda consagrada à preparação do futuro.

D. Bosco fazia conhecida a sua obra; e deste conhecimento resultava-lhe grande proveito. Cotolengo não dizia nada do que fazia e não publicava os benefícios recebidos. D. Bosco propôs-lhe que publicasse uma folha volante, com a receita e despesa. Resposta de Cotolengo: — Meu amigo, isso é necessário para a sua obra. A sua morrerá no dia em que nada publicar sobre ela. E a minha terá morte imediata no dia em que algo pedir. Porque? Indaga D. Bosco. — Porque cessa de ser a obra da Divina Providência.

Cotolengo era um homem muito alegre. Um dia recebeu de esmola uma antiga moeda suíça, que de um lado tinha esta legenda: "Deus providebit" e de outro lado a figura de um urso. Meteu-a num quadro e, todo alegre, mostrava-a aos amigos, dizendo: — A divisa "Deus Providebit" exprime a confiança na Divina Providência; e este animal quer dizer que o Senhor se serve de um urso, e apontava para si mesmo, para justificá-la.

Eis a largos traços o homem que, no dia 19 de março de 1943, Pio XI elevou aos altares, para exemplo perpétuo e perpétua recordação de quanto podem à caridade cristã e a fé na Divina Providência.

Reflexões

A vida de S. Cotolengo dá ao mundo o exemplo de uma virtude, quase desconhecida nos tempos de hoje, dominados do mais crasso materialismo, a virtude da fé na Divina Providência. Os homens do século presente têm só fé em si próprios e no dinheiro. Se não sempre dão desprezo a Deus, com sua santa Providência também não contam; julgam-na uma piedosa invenção de gente beata, que maiores exigências da vida não podem fazer e com pouca coisa se contenta; julgam-na um fácil subterfúgio para elementos comodistas e preguiçosos. O que é positivo é o dinheiro, são as apólices, são os negócios, as transações, etc. O resto é fantasia. Vale quem tem; quem não tem, que desapareça, é inútil, é desprezível.

S. Cotolengo dá lição de mestre a este materialismo bruto e pagão, votando desprezo absoluto ao vil metal. Com o Salmista partilha a opinião, que onde Deus não ajuda, o homem nada faz. Mostra à humanidade que está de pé ainda a sublime doutrina do Evangelho sobre a Divina Providência e que as palavras do divino Mestre tem ainda toda sua atualidade quando diz: Não andeis inquietos nem com o que vos é preciso para alimentar a vossa vida, nem com o que para vestir o vosso corpo. A vida vale mais que a comida, e o corpo mais que o vestido. Considerai os corvos: não semeiam, nem ceifam, não tem despensa, nem celeiro, e Deus lhes dá o pasto. Quanto mais excelentes sois vós do que eles? E qual de vós, por mais que discorra, pode acrescentar um côvado à sua estatura? Se, pois, nem com o que é mínimo podeis, para que estais cuidadosos das outras coisas? Considerai os lírios como crescem: não trabalham, nem fiam; mas eu vos digo, que nem Salomão, em toda a sua glória, se vestia como um destes. Se, pois, o feno que hoje está no campo e amanhã se mete no forno, Deus assim o veste, quanto mais o não fará a vós, homens de pequena fé? Vós, portanto, não andeis cuidadosos sobre o que comereis, ou sobre o que bebereis, e não vos ponhais em suspensão. Porque gentes do mundo são as que buscam todas estas coisas; mas vosso Pai sabe que tendes necessidade deles". (Lc. 12. 22-30). São Cotolengo tomou ao pé da letra as palavras de Jesus Cristo, e fez bem. Não se viu iludido em sua fé na Divina Providência.

Não é o dinheiro, não é a política, não são os homens do poder, que governam o mundo — é Deus. A nenhum deles entregou o seu poder. O mundo é governado conforme a confiança que deposita em Deus. Se a Divina Providência é esquecida, desprezada e escarnecida, as coisas devem chegar ao que chegaram. Mais do que nunca é verdade hoje a palavra de S. João. "O que há no mundo é concupiscência dos olhos, concupiscência da carne e orgulho". Resultado é que a Divina Providência se retira dos homens, entrega-os às suas paixões, à sua cegueira, ao seu orgulho e o mundo que podia e devia ser o doce remanso da família de Deus, é transformado em um vale de lágrimas e de misérias. Na vida da alma individual não é diferente. Se procura a terra, será terra, se ama a Deus, será Deus, diz Santo Agostinho.

Não imitemos o exemplo dos mundanos, dos gentios, mas coloquemo-nos ao lado do grande Santo deste dia, do Apóstolo da Divina Providência, e como ele viu, nós veremos verificada a palavra de Nosso Senhor: "Buscai em primeiro lugar o reino de Deus e sua justiça; e todas estas coisas vos serão dadas de acréscimo". (Mt. 6, 33).

Referência: Na luz Perpétua, 5ª. ed., Pe. João Batista Lehmann, Editora Lar Católico – Juiz de Fora – Minas Gerais, 1959.

Comemoração: 30 de abril.

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