São Conrado de Parzham

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Santos de julho

Santo do dia 21 de abril
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São Conrado de Parzham

São Conrado de Parzham, Capuchinho

(† 1894)

Segundo a asserção do Apóstolo São João "tudo no mundo é concupiscência da carne, concupiscência dos olhos e soberba da vida". Para dar remédio a esta tríplice concupiscência da qual procedem todos os frutos venenosos do pecado, o nosso Redentor opôs o contraste de sua morte e, quebrando o antigo jugo do pecado, elevou os homens que não puserem obstáculo à vida nova de sua graça.

Coisa admirável, ao mundo soberbo, porém inteiramente incompreensível, é que a verdadeira grandeza do homem tem origem e medida na vida interior da caridade; assim é que aqueles que se têm em conta de pequenos e vis, chegam às culminâncias da vida sobrenatural, que é a vida verdadeira; ao passo que aqueles que ao mundo aparecem no maior brilho de glória, perante Deus muitas vezes são objetos de vergonhosa miséria e abjeção.

São Gregório escreve: é sabedoria dos justos não ostentar hipocrisia, exprimir com a palavra o próprio sentimento, amar a verdade, fugir da mentira, fazer o bem desinteressadamente, antes suportar o mal do que praticá-lo, não procurar vingança das injúrias sofridas. Mas esta simplicidade dos justos é ridicularizada, porque a candura da alma pelos sábios deste mundo é reputada loucura.

Por estes documentos da sabedoria celeste S. Conrado de Parzham modelou a sua vida.

Seus progenitores, Bartolomeu Birndorfer Gertrudes Niedermayer, ambos religiosíssimos e de costumes exemplares, habitantes de Parzham, na Baviera, tinham dez filhos, que educaram exemplarmente no temor e no amor de Deus. O penúltimo foi João, que a 22 de dezembro de 1818 com o nascimento recebeu a regeneração espiritual pelo santo batismo. Unindo à piedade, abundantemente herdada dos pais, a firmeza do propósito e a fortaleza de espírito, própria dos bávaros, operou maravilhosos progressos na perfeição cristã.

Todo o tempo livre da escola, frequentada pelo menino, e após os labores campestres, o dedicava à oração, especialmente na igreja paroquial, onde abstrato deste mundo, parecia com toda alma absorto em Deus. A grande pureza dos costumes, parecia transpirar do seu rosto angélico, tanto que em sua presença ninguém ousara fazer inconveniências.

Aos quatorze anos de idade, João perdeu a mãe, e dois anos depois o pai. O jovem órfão dirigiu então com maior fervor ainda sua alma ao Pai celestial, e começou a refletir sobre o modo mais seguro de conseguir a perfeição cristã, insistindo para este fim por alguns anos com a oração. Deus ouviu suas súplicas e chamou-o para a Ordem dos Capuchinhos, e João, prontamente, tudo abandonando, seguiu a vocação divina. Distribuiu seu rico patrimônio entre obras pias, e em 1849 entrou no convento. Após um biênio de provação no mosteiro de Altoetting, no humilde estado de Irmão leigo, passou para o Convento do Noviciado de Laufens, tomando o nome de Conrado, e em 1852, no dia da Festa do Pai seráfico São Francisco, pronunciou os votos solenes. Por causa das suas já eminentes virtudes, pouco depois, foi-lhe confiado o ofício de porteiro de Santa Ana Altoetting, ofício que ocupou até à morte.

O Convento de Santa Ana "se distingue de todos os outros conventos da Província pela numerosa família, pelas suas oficinas, suas atividades na cura das almas", como se lê nas "Analetas da Ordem dos Frades Capuchinhos".

Anexo a este Convento está o celebérrimo santuário de Maria Santíssima, a que anualmente chegam algumas centenas de milhares de romeiros, não só da Baviera, como também da Áustria, da Boêmia, Morávia, Ratênia e de outras regiões. Como a maior parte desses peregrinos costuma ir ao Convento dos Capuchinhos a procura de auxílio espiritual e temporal, é fácil fazer-se ideia, de quanta paciência, quanta mansidão, especialmente com certos indivíduos fastidiosos e incontentáveis, quanta caridade com os pobres, quanta presteza e prudente discrição, quanta humildade não se exige de um porteiro para poder desempenhar bem seu ofício.

Todos que conheceram São Conrado, unanimemente afirmam que todas estas virtudes nele brilhavam em grau heroico. Não conhecia fingimento, não procurava vingar-se de injúrias sofridas, observava a mais estrita pobreza e a mais perfeita castidade, virtude que cultivava e defendia com a mais rude penitência.

Nunca se excedeu em palavras, não dizia coisas inúteis ou supérfluas, e não se podia nele descobrir defeito que tivesse sombra de pecado, embora só venial. As três e meia já estava na Igreja para rezar ou ajudar a missa. Com o máximo cuidado cumpria seu dever desde a manhã até a noite. Não protelava nenhum trabalho, não dava ao seu corpo já cansado algum repouso, senão à noite, para se levantar novamente à meia noite e recitar as Matinas, findas as quais, muitas vezes, continuava em oração, até ao romper do dia. Nas horas vagas, corria, para fazer visita ao Santíssimo Sacramento, ou ao altar da Santíssima Virgem, para dar expansão aos sentimentos de sua piedade filial.

Manter constantemente este árduo método de vida durante quarenta e três anos, voltando dia por dia ao mesmo trabalho, requer grande força, de vontade e sólida virtude. Contudo, São Conrado, não procurando o interesse próprio, mas o de Jesus Cristo, afrontou as dificuldades do trabalho com ânimo forte e generoso, convencido de assim cumprir a vontade dos Superiores é obedecer a Deus. Sua paciência e caridade foram tais, que não se pode calcular quantas amarguras não dulcificou, a quantos míseros não socorreu não só materialmente, mas também com sua palavra de salvação; quantos extraviados com sua doçura não colocou outra vez no caminho reto; quantos com sua palavra ardente não consolidou na prática da virtude; assim em breve tempo a porta do Convento que o piedoso leigo guardava, se transformou em fértil campo de apostolado.

"Jesus Crucificado — dizia — é meu livro". Constantemente unido ao seu Amor crucificado, chegou a retratar em si próprio aquela ardente caridade, a ponto de parecer totalmente transformado em Jesus Crucificado.

Alquebrado já pelo peso dos anos e das mortificações, no dia 18 de abril de 1894, com dificuldade se arrastou à cela do Guardião e com toda a humildade disse-lhe: "Padre, não posso mais". Três dias depois, tendo recebido com a máxima piedade os últimos sacramentos, tranquilamente, e muito conformado adormeceu no Senhor.

Se foi humilde a vida de Conrado, mais gloriosa foi sua morte. Fileiras intermináveis de pessoas, movidas pelo sentimento de devoção, foram visitar sua sepultura. O Senhor não deixou de premiar a confiança piedosa dos fiéis a seu servo com inúmeras graças, especialmente espirituais.

Em 1914 foi iniciado o processo da causa de Beatificação que teve sua conclusão em 1930. Observados novos milagres obtidos pela intercessão do servo de Deus, tratou-se da canonização, que teve lugar na Festa de Pentecostes de 1934.

Reflexões

Na homilia que o Sumo Pontífice, Pio XI, fez na missa que seguiu a canonização de Conrado de Parzham disse o seguinte. "No jardim da Igreja militante não faltam as flores purpurinas de martírio, nem as árvores gigantescas e frutíferas de grandes personalidades; ao lado destas vemos as mimosas e humildes violetas rescendendo puríssimo perfume.

Destas, com sua humildade extraordinária é Conrado de Parzham, a quem hoje, no dia de Pentecostes, não sem uma especial Providência de Deus, adornamos com o diadema de santidade.

Se há quem sempre e generosamente correspondeu às aspirações do Espírito Santo, e em todas as circunstâncias da vida com justiça pode a si aplicar a palavra do Senhor: "Eu faço sempre o que for de seu agrado" (Jo 8, 29) é Conrado de Parzham. O humilde cargo de porteiro, que os Superiores do Convento lhe tinham confiado, ofício que requer muita paciência, circunspeção e prudência, dele se desempenhou com um zelo, uma dedicação tal, que galgou a culminância da santidade. Não admira, se em sua vida nada se encontre de extraordinário, mas em tudo deixou-se guiar fielmente pela lei da caridade, da obediência e pelo amor de Deus. "Tudo que fez, fê-lo bem". (Mc. 7, 37). Por isso pode-se dizer, que a perfeição cristã não é privilégio de alguns poucos, mas dever de todos; que é exigida não somente dos distinguidos por grandes faculdades intelectuais e dons de graça, mas de todos os fiéis cristãos, de acordo com a ordem divina: "Sede perfeitos, como eu sou perfeito" (1 Pet. 1, 16) e: "Sêde perfeitos como vosso Pai celeste é perfeito". (Mat. 5, 48).

De que modo e com que meios nosso Conrado alcançou a perfeição heroica da vida verdadeiramente cristã? Sabeis da sua pureza virginal, que embelezava sua alma, que como esplendor angélico, fulgurava do seu pobre corpo, parecendo refletir as belezas escondidas do céu. Conheceis a sua humildade, à mão da qual punha em prática o conselho de Cristo: "Aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração, e encontrareis paz para Vossa alma". (Mt. 11, 29) ... Não vos é desconhecido, que nosso Santo ardia de amor de Deus e do próximo; sua delícia era permanecer dia e noite, e de joelhos, diante do Santíssimo Sacramento em fervorosa oração; embora seu cargo obrigasse a uma atividade cheia de distrações, sua alma ficou sempre unida a Deus. Com igual zelo procurava, a medida de suas forças, e com toda a delicadeza de sua alma, o bem espiritual e material do próximo.

Assim surja diante dos nossos olhos esta imagem de verdadeira santidade, do humilde Frade Capuchinho. A todos ele ensina e exorta, como estão longe do caminho da verdade todos aqueles que pretendem renovar e exaltam, costumes e praxes pagãs, e rejeitam e desprezam a doutrina cristã, quando é esta, que unicamente leva o homem a ser virtuoso e nos traz o verdadeiro progresso da cultura. De Deus o novo Santo nos alcance luz e graça, para que finalmente se realize o que a Igreja hoje canta e do Espírito Santo implora: "Dobra o que achares rígido. Aquece o quanto é frígido. Rege o que errado for. Amém".

Referência: Na luz Perpétua, 5ª. ed., Pe. João Batista Lehmann, Editora Lar Católico – Juiz de Fora – Minas Gerais, 1959.

Comemoração: 21 de abril.

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