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Como ser verdadeiramente humilde

Como ser verdadeiramente humilde

Siga o exemplo de Santa Catarina de Senna que quando era tentada de vanglória, humilhava-se; e quando acometida de desânimo, confiava em Deus, pelo que o demônio lhe disse um dia com raiva: “Maldita tu e maldito quem te ensinou esse meio de me vencer. Não sei mais como te apanhar”.

Assim, pois, quando o inimigo vos disser que para vós não há perigo de cair, tremei, pensando que, se Deus vos deixa um instante, estais perdidas. Quando fordes tentadas de desânimo, dizei com Davi: “Senhor, pus em vós todas as minhas esperanças, confio que não serei confundida, privada da vossa graça e feita escrava do inferno”.

Considerai-vos como o maior pecador que existe na face da terra. As almas verdadeiramente humildes são mais esclarecidas da luz celeste, e como conhecem melhor as perfeições de Deus, também vêem melhor as suas misérias e os seus pecados. Daí vem que os santos, cuja vida era tão exemplar e tão diferente da dos mundanos, se diziam, não por exagero, mas com verdadeira convicção, os maiores pecadores do mundo. Assim se julgava São Francisco de Assis.

São Tomas de Vilanova era continuamente assaltado de temor, pensando, dizia ele, nas contas que havia de dar a Deus pela sua má vida. Santa Gertrudes considerava um milagre não se abrir a terra debaixo de seus pés, para engoli-la por causa de seus pecados. São Paulo eremita derramava lágrimas, dizendo: “Ai de mim pecador, que não mereço ter sequer o nome de monge.”

O bem-aventurado padre Mestre Ávila refere a este propósito que uma pessoa de grande virtude, tendo rogado a Deus lhe fizesse ver qual era o estado de sua alma, obteve a graça pedida e a viu tão disforme e abominável, embora só tivesse cometido pecados veniais, que exclamou: “Senhor, por misericórdia, tirai-me de diante dos olhos essa figura monstruosa.”

Guardai-vos, pois, de vos preferir a quem quer que seja. Basta um julgar-se melhor do que os outros, para se tornar o pior de todos, assegura Trithemio. Assim também basta que alguém creia ter grandes merecimentos para perder os que tem e não ter mais nenhum. O principal merecimento da humildade consiste em crer um sinceramente que não tem nenhum direito adquirido e que não merece senão afrontas e castigos.

Os dons e graças que Deus vos tem concedido não serviriam senão para vos fazerem condenar com maior rigor no dia do juízo, se abusásseis desses dons, elevando-vos acima dos outros. Mas não basta não vos antepordes à nenhuma; é preciso, como já ficou dito, considerar-vos a última e a mais indigna de todos os vossos irmãos. E porque? Primeiramente, porque conheceis sem dúvida os muitos pecados que tendes cometido, e ignorais os pecados dos outros; e, ao contrário, sabeis que nada possuis, e não conheceis muitas virtudes ocultas. Além disso considerai que, com as luzes e graças que o Senhor vos prodigalizou, já devíeis ser um santo. Oh! se Deus houvesse dado tantas graças a um infiel, talvez fosse já seria um serafim; e vós ainda estais tão atrasados e tão cheios de imperfeições e defeitos!

O Espírito Santo nos dá esse aviso: “Há alguns que se fazem de humildes, só para serem tidos e louvados por humildes e para não serem repreendidos e humilhados.” Mas, diz São Bernardo, procurar louvores das humilhações não é humildade, porém destruição da humildade; porque, deste modo, a mesma virtude torna-se uma fonte de soberba.

Na teoria, dizia São Vicente de Paulo, a humildade tem uma boa aparência, mas na prática é horrenda, porque a verdadeira humildade consiste em amar as objeções e desprezos. Pelo que notou São João Clímaco, que, para ser humilde não basta dizer que se é mau, mas também é preciso alegrar-se de ser tido por tal pelos outros e de ser por isso desprezado. Eis as suas palavras: “É bom que tu digas mal de ti, mas é melhor que, quando ouvires dizer isto por outrem, tu o confirmes, não te ressentindo, e até alegrando-te com isso.” Antes já o escrevera São Gregório: “O verdadeiro humilde confessa-se pecador, e quando lhe censuram as faltas, não as nega mas reconhece.”

Enfim, São Bernardo exprime o mesmo pensamento nestes termos: “O verdadeiro humilde não pretende ser louvado por humilde, mas quer ser tido por vil, defeituoso e desprezível e se compraz de se ver humilhado e tido na conta em que se estima.” Daí vem que a humilhação o torna mais humilde, diz o mesmo Santo doutor: “Muda a humilhação em humildade.”

Santo Afonso de Ligório. Retirado do livro “A Verdadeira Esposa de Cristo”.

Categorias: Devoção e vida interior, Escritos de santos

Tags: humildade

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Publicado em: 8 de setembro de 2017.

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