São Clemente Hofbauer, Redentorista
(† 1820)
A Moravia é a terra de S. Clemente Maria Hofbauer, onde aos 26 de dezembro de 1751 nasceu, filho de pais pobres, mas mui piedosos. De doze filhos, que este privilegiado casal educou para Deus, era Clemente Maria o nono. Sete anos contava o menino, quando sua mãe enviuvou. Viva na memória do órfão ficou aquela hora, que a mãe, diante da imagem de Jesus crucificado lhe disse: "Meu filho, de hoje em diante este é teu pai. Procura andar sempre no caminho que lhe é agradável". O exemplo e os conselhos de sua progenitora eram uma semente abençoada, que caia em terra bem preparada e fertilíssima. Em casa, na escola, na igreja, o pequeno Clemente era sempre o modelo vivo dos seus irmãos e companheiros. Já naquele tempo brotava no fundo de sua alma cândida o desejo de um dia poder servir a Deus como sacerdote e missionário. As condições precárias, porém, em que sua família vivia, pareciam tornar irrealizável este sonho dourado. De Taswitz, onde residia a família Hofbauer, Clemente Maria, quando contava quinze anos, se transferiu para Znaim, onde aprendeu o ofício de padeiro, e três anos depois empregou-se como padeiro no convento dos Premonstratenses em Burck. Sua piedade sincera, aliada a um comportamento exemplaríssimo fez com que o abade se interessasse mais de perto pelo jovem operário, e lhe facultasse a frequência das aulas de latim, junto com os alunos do estabelecimento. Quando em 1775 morreu seu benfeitor, Clemente Maria resolveu retirar-se para uma solidão perto do santuário de Muhlfrauen, onde passou o tempo de quase um ano. Depois foi a Viena, onde novamente se empregou, Em Viena, conheceu um companheiro, Pedro Kunzmann, a quem se ligou em forte amizade, e com quem fez uma romaria a Roma. Seria difícil descobrir-se romeiros mais piedosos que estes dois jovens operários vienenses.
Esta romaria, feita com todo o fervor, e rica das mais profundas impressões, aumentou ainda mais em Clemente Maria o desejo de abandonar o mundo. Numa segunda romaria que fez à cidade eterna, ficou com Tivoli. Provado pelo bispo, D. Barnabé Chiaramonti (posteriormente o Papa Pio VII), das mãos deste mesmo prelado, recebeu o hábito de eremita, e foi morar numa solidão nas proximidades da cidade. Nos seis meses que lá permaneceu, recebeu luzes tão abundantes e claras do céu, que não mais pôde duvidar de sua vocação sacerdotal.
Outra vez se dirigiu a Viena, resolvido a continuar seus estudos, o que fez, lutando sempre com grandes dificuldades, por ser pobre. A Providência Divina entretanto vigiava, e sempre havia uma ou outra família caridosa, que não deixava faltar o necessário ao dedicado e virtuoso estudante.
Não era bom o espírito, que reinava nos estabelecimentos de ensino na capital dos Habsburgos. Certa vez, que um dos professores perante seus alunos proferiu uma sentença liberal e falsa, o jovem estudante Clemente Maria se levantou e disse: "O que o Sr. professor acaba de dizer, é contra a doutrina católica". Hofbauer sofria muito debaixo da atmosfera irreligiosa que predominava em Viena, e pela terceira vez fez a viagem a Roma. Acompanhava-o seu amigo Tadéo Huebl, como ele, era estudante e jovem reto e virtuoso.
À procura de uma igreja, onde bem cedinho pudessem ouvir missa, seguiram o som do toque de "Angelus", e entraram na igreja dos Redentoristas, na hora em que os religiosos e o Bispo de Santa Ágata no recolhimento da hora matutina estavam fazendo meditação. Foi a primeira vez, que a Clemente Maria, se oferecera ocasião de ver redentoristas. Terminada a santa Missa, não pôde resistir ao desejo de saber algo da vida, da regra, do caráter da Congregação, e pediu uma entrevista com o superior da casa. Longo tempo esteve com o superior, que, além de lhe dar as explicações pedidas, mostrou-lhe a casa e as suas instalações. Tudo que ouvia e via, profundamente impressionava ao piedoso e não menos curioso visitante, e antes de se despedir, pediu formalmente, que o aceitassem na Congregação. Deram-lhe admissão e no dia seguinte Tadéo Huezl imitou o exemplo de seu amigo e foi igualmente aceito. Os dois jovens justificaram perfeitamente as esperanças neles depositadas.
Não só nos estudos como também na prática das virtudes monásticas e na perfeição da vida religiosa, se distinguiram admiravelmente. Quando o santo fundador soube da admissão dos dois vienenses, deu demonstração de grande contentamento e predisse-lhes um grande e abençoado apostolado na sua terra. Um ano depois de sua admissão, isto é, na festa de S. José, do ano de 1785, Clemente Maria Hofbauer fez a sua profissão religiosa, e no dia 30 de março do mesmo ano foi-lhe conferido o sacramento sacerdotal da Ordem. Estava pois satisfeita a sua maior aspiração, cumprido o sonho da sua vida. Para se aprofundar nas ciências teológicas, ficou ainda algum tempo em Roma.
Findos os estudos, externou novamente seu grande ideal, de comunicar à sua terra as bênçãos da Congregação do Santíssimo Redentor. Munido das necessárias licenças para este fim, foi a Viena em companhia de seu conterrâneo Pe. Tadéo Huebl. A política anticlerical do governo de José II da Áustria fazia prever a impossibilidade da Congregação se estabelecer na Capital ou em qualquer outra parte do império. Hofbauer procurou à Propaganda da Fé em Roma, que lhe indicou a Curlândia como campo de ação. Em outubro de 1786 deixou Viena, para fixar residência em Varsóvia. Do superior da Congregação teve bastantes dificuldades para receber noviços e fundar casas.
O núncio apostólico, Mons. Saluzo, recebeu os padres com demonstração de grande satisfação, e modificou o plano da missão para a Curlândia, e segurou-os na Varsóvia, onde havia milhares de alemães sem assistência religiosa. Com permissão da Santa Sé, estabeleceram-se numa casa perto da antiga Igreja de S. Benone, e começaram a cura das almas entre os alemães. A pequena comunidade foi incorporada também como Irmão do antigo companheiro de Hofbauer em Viena, Pedro Kunzmann.
Durante vinte anos a Igreja de S. Benone foi o centro de uma atividade grandiosa do Pe. Clemente Maria e dos seus companheiros. A igreja quase em ruínas experimentou grandes melhoramentos; a pequena casa transformou-se em largo e espaçoso convento.
A afluência dos fiéis à igreja de S. Benone tomou proporções inesperadas. Houve um tempo, que além do Pe. Hofbauer trabalhou em Varsóvia vinte e cinco Padres Redentoristas. Diariamente havia na sua igreja duas práticas em alemão e duas em polonês. No ano de 1796 compareceram 58.777 fiéis à mesa eucarística, número que em 1807 atingiu a cifra de 104.000.
O resultado do trabalho missionário do Pe. Hofbauer e de seus companheiros teria sido maior ainda, se não o tivesse limitado a estreita capacidade da igreja. Nas paróquias vizinhas os Redentoristas desenvolveram uma atividade extraordinária, e no espaço de pouco tempo, Pe. Hofbauer pôde fundar mais três conventos.
Por mais lisonjeira que fosse a messe abundante no trabalho apostólico das missões populares e na cura de almas, o santo homem estendia suas vistas para mais além. De uma fé inabalável na Providência Divina, empreendeu obras de caridade, que, na época em que foram ideadas, podiam parecer impraticáveis. As guerras continuadas deixaram o povo na miséria e na pobreza. A triste sorte das crianças comovia o coração do homem de Deus. Para abrigar as mais necessitadas, fundou um asilo, em que quarenta meninos recebiam o pão material e espiritual. Além disto criou uma associação de donzelas católicas com o fim de socorrer as meninas órfãs. Numa escola aberta junto à igreja de S. Benone, 350 crianças pobres recebiam ensino gratuito. Fundação do Pe. Hofbauer foi também uma escola superior para meninos, que teve boa frequência e da qual saíram homens de valor.
Em 1793 Pe. Hofbauer foi nomeado Vigário Geral da província germânica de sua Congregação. Nesta qualidade teve de fazer muitas e longas viagens através da Áustria e da Suíça. Por falta de outro meio de locomoção, estas viagens eram feitas a pé. No ano de 1802 conseguiu fazer a primeira fundação na Alemanha. As correntes políticas, porém, na Alemanha, particularmente em Baden, não eram favoráveis à expansão católica naquele país, e Hofbauer viu-se forçado a retirar seus religiosos e procurar outras paragens. Na Suíça encontrou grato acolhimento e ocasião bastante para positivar sua atividade.
Poderes tenebrosos não podiam de bons olhos observar os triunfos do zelo apostólico do Pe. Hofbauer. O ano de 1808 trouxe a este muitas provações e fortes contrariedades. Por ordem do governo foram fechadas as casas dos Redentoristas na Polônia, e os religiosos foram levados presos à fortaleza de Kuestrin. Lá ficaram quatro semanas até que nova ordem do governo os fez regressar para Viena. Com a mudança para Viena começou para Hofbauer uma nova e grande época da sua vida sacerdotal. Triste era a situação da Igreja Católica na Áustria naquele tempo. Dependente de um governo intolerante e mesquinho; tolhida também as manifestações mais insignificantes de sua vitalidade, impossível lhe era cumprir em toda a plenitude a missão, que lhe competia por direito divino e humano. As igrejas, no seu abandono, e péssimo estado de conservação, bem alto testemunharam o pouco interesse que havia pela causa da religião, e o grande indiferentismo religioso, em que jazia a população da grande metrópole. Os católicos de verdade eram bem poucos, e não se atreviam a dar expressão pública às suas convicções. Assim também Hofbauer achou prudente nos primeiros anos conservar-se com certa reserva, contentando-se com o pouco serviço que o reitor da igreja italiana lhe oferecia. Ainda assim não passou despercebido seu zelo pastoral, e o próprio arcebispo Mons. Hohenwart não se fechou ao conhecimento de se achar diante de um sacerdote de qualidades morais e ascéticas extraordinárias, e em vista disso nomeou-o confessor das religiosas Ursulinas. Difícil seria descrever a atividade salutaríssima que daí em diante Pe. Hofbauer exercia. A olhos vistos o movimento católico e religioso em Viena tomou novo incremento. Obra nenhuma, das que na capital se compreendia em honra de Deus, pela salvação das almas e pela exaltação da Igreja, dispensava o impulso e o conselho do santo Redentorista. Sua pessoa tornou-se o centro da vida católica em Viena. No púlpito, no confessionário, na conversação era ele sempre o apóstolo incansável de Nosso Senhor. Ao seu zelo unia-se uma amabilidade atraente, uma paciência edificante, uma caridade sem limites. Ser tudo para todos parecia estatuir seu ideal. Em todas as emergências de sua tarefa sacerdotal e missionária revelava ele uma piedade sem igual, uma fé inabalável na Divina Providência.
Não podia faltar, que homem singular e de tanto valor, como Hofbauer se visse constantemente rodeado de pessoas a reclamarem sua oração, seu conselho, sua direção. Estas pessoas se recrutavam não só de gente humilde do povo, de pobre e abandonados, mas seu confessionário era assediado por cavalheiros e senhoras da alta sociedade, ministros, generais, professores, homens das altas finanças e da própria corte imperial.
O Núncio Apostólico Severoli e seu sucessor Leardi abriam a sua consciência ao humilde sacerdote da Congregação do SS. Redentor. Os bispos Mons. Rauscher e Baroga se ajoelhavam aos pés do Pe. Clemente Maria Hofbauer. Grande foi o número de protestantes e judeus, a que Pe. Hofbauer conduziu à luz da verdade. Muitos outros arrancou do lamentável indiferentismo, a que viviam entregues havia muitos anos, restituindo-os à uma vida prática, verdadeiramente católica. A conversão destes arrastava a outros, que, vendo o bom exemplo, mais facilmente se animavam a seguir no mesmo caminho.
Em sua humilde e pobre residência se reuniam médicos, advogados e estudantes, a qual sabia tão bem e tão sabiamente comunicar seu amor a Deus, a Maria Santíssima, o amor à virtude da pureza e seu entusiasmo pela mãe de todos, a Igreja Católica. Aos mais talentosos incutiu interesse pela obra da boa imprensa, e seu merecimento foi a fundação de "Ramos de Oliveira". Jornal que se publicou durante cinco anos. Sua foi a ideia, realizada por diversos seus amigos, da organização de uma biblioteca popular católica. À sua insistência abriu-se um colégio para meninos das famílias nobres e abastadas. Uma fundação deste gênero impunha-se como uma necessidade indiscutível, e já no tempo do Pe. Hofbauer apareceram os bons frutos desta obra oportuníssima.
Estes poucos traços da vida do Pe. Hofbauer suficientes são para convencer ao leitor, da verdade que há no dizer, que este humilde Filho de Santo Afonso tem sido o apóstolo de Viena, e a ele a capital da Áustria deve o seu ressurgimento religioso da letargia de um indiferentismo e da morte da impiedade, em que se achava perdida. A missão do Santo é muito bem caracterizada pela palavra do Cardeal Rauscher, que disse: "Pe. Hofbauer preparou o caminho para a Concordata, e deu ao espírito do seu tempo uma orientação melhor".
No meio de tantos trabalhos, S. Clemente Maria não descuida da expansão de sua Congregação na Alemanha. Apesar da tenaz resistência de certos elementos anticlericais; apesar da hostilidade por mil formas manifestada pelos inimigos da Igreja Católica e das Ordens religiosas, Pe. Hofbauer conseguiu a realização dos seus planos. Quando fechou os olhos para o último descanso, a 15 de março de 1820, a província transalpina, contava 45 sacerdotes e 5 Irmãos. Duas semanas depois de sua morte, um decreto imperial autorizou a existência da Congregação na Áustria.
Grande que foi na vida, mais o exaltou Deus na morte. Apenas se soube em Viena o passamento do Pe. Hofbauer, começou também o culto do povo católico ao Santo Clemente Maria. Se milhares choravam a morte de um pai espiritual, como igual não era possível imaginar-se, milhares, procuraram seu túmulo, na igreja de Santa Maria em Viena, dirigindo suas preces ao Santo, que deixara a terra para trocá-la pela mansão eterna da celestial Jerusalém. Se seu corpo morto era venerado pelos que o conheceram em vida, suas relíquias receberam constantes homenagens da parte de todos os católicos, desde que a Suprema Autoridade da Igreja declarou pertencentes a um dos seus filhos mais ilustres, a que conferiu as honras dos altares.
Reflexões
Deus é que dá as vocações sacerdotais. Seu Espírito as forma por toda a parte, de preferência no seio das famílias numerosas e profundamente religiosas. A vocação de S. Clemente Maria comprova esta verdade observada em todos os tempos. Hoje em todo o mundo a Igreja lamenta a escassez do clero. A quem cabe a culpa desta triste realidade? Nosso Senhor faz as vocações dependerem da oração dos fiéis. "Enviai, Senhor, operários para a vossa messe. A messe é grande, mas poucos são os operários", são suas palavras. Um povo terá tantos sacerdotes, quantos quer. Deus não lhos nega, uma vez que seja pedido. A célula mater do sacerdócio católico é a família religiosa, temente a Deus, a família que se interessa pela propagação do reino de Jesus Cristo. Honra àquelas mães, que consideram a maternidade uma bênção do céu. Honra àquelas mães, que na maternidade enxergam o meio seguro de sua salvação eterna. Honra àquelas mães, que a exemplo de tantas outras pedem a Deus prole numerosa, para podê-la consagrar ao seu santo serviço. Honra à mãe de São Clemente Maria Hofbauer, que, embora pobre e atribulada, tomou sobre a cruz pesadíssima de educá-los na santa lei de Deus, Foi esta mãe heroica do povo, que deu a Deus um sacerdote. Este sacerdote veio a ser um grande Santo, uma glória da Congregação a que pertenceu, a glória da Igreja e não menos a glória de sua santa progenitora, o apóstolo de uma grande nação. Há escassez de sacerdotes? Que apareçam mães piedosas, mães de espírito como o admiramos em D. Maria Hofbauer, mãe do nosso Santo e em tantas outras, também da nossa terra, que saibam sacrificar o egoísmo pagão dos nossos dias ao grande amor a Deus, que ardia em sua alma, Que as mães, que os pais, que o povo inteiro façam crescer em si o amor a Deus e a sua santa Igreja. E bem depressa desaparecerá a lamentável escassez de sacerdotes no Brasil.
Santos, cuja memória é celebrada hoje
Em Cesaréia o martírio de São Longino, daquele soldado romano que abriu o coração de Nosso Senhor no Calvário. Seu nome pagão era Cássio, que no batismo se mudou em Longino. Residia em Cesaréia, onde, no ano de 58, aproximadamente, sofreu o martírio. Converteu o carcereiro, que junto com ele foi decapitado. Suas relíquias se acham em Mantua. É padroeiro dos ferreiros; sua intercessão é invocada contra moléstias dos olhos. Há uma bênção especial de S. Longino para fazer parar hemorragias provocadas por ferimentos.
No mesmo dia o martírio de Santo Aristóbulo, discípulo dos Apóstolos.
Em Salônica a Santa Matrona, que era empregada de uma judia mas cristã de coração. Surpreendida um dia nas suas práticas religiosas cristãs, teve que sofrer muitas humilhações e angústias. Finalmente foi morta a pauladas (304). Em Córdoba, na Andalúzia a virgem-mártir Leocrícia (850).
Referência: Na luz Perpétua, 5ª. ed., Pe. João Batista Lehmann, Editora Lar Católico – Juiz de Fora – Minas Gerais, 1959.
Comemoração: 15 de março.
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