
O sono de Jesus Menino
Ego dormio, et cor meum vigilat – “Eu durmo, e o meu coração vela” (Ct 5, 2)
Sumário. O sono do Menino Jesus era muito diferente do das outras crianças. Enquanto dormia, seu Corpo, a Alma, unida à Pessoa do Verbo, velava. Desde então pensava nas penas que devia depois sofrer por nosso amor. Roguemos ao Santo Menino, pelo merecimento daquele bendito sono, que nos livre do sono mortal dos pecadores e, em vez disso, nos conceda o sono dos justos, pelo qual a alma perde a lembrança de todas as coisas terrestres.
I. O sono de Jesus-Menino foi demasiadamente breve e doloroso. Servia-Lhe de berço uma manjedoura, a palha de colchão e de travesseiro. Assim o sono de Jesus foi muitas vezes interrompido pela dureza daquela caminha excessivamente dura e molesta, e pelo rigor do frio que reinava na gruta. De vez em quando, porém, a natureza sucumbia à necessidade e o Menino querido adormecia. Mas o sono de Jesus foi muito diferente do das outras crianças. O sono destas é útil à conservação da vida; não, porém, quanto às operações da alma, porque esta, privada do uso dos sentidos, fica reduzida à inatividade. Não foi assim o sono de Jesus Cristo: Ego dormio et cor meum vigilat. O Corpo repousava; velava, porém, a alma, que em Jesus era unida à Pessoa do Verbo, que não podia dormir nem ficar sopitada pela inatividade dos sentidos.
Dormia, pois, o santo Menino, mas enquanto dormia, pensava em todos os padecimentos que teria de sofrer por nosso amor, no correr de toda a sua vida e na hora da sua morte. Pensava nos trabalhos pelos quais havia de passar no Egito e em Nazaré, levando uma vida extremamente pobre e desprezada. Pensava particularmente nos açoites, nos espinhos, nas injúrias, na agonia e na morte desolada, que afinal devia padecer sobre a Cruz. Tudo isso Jesus oferecia ao Pai Eterno enquanto estava dormindo, a fim de obter para nós o perdão e a salvação. Assim nosso Salvador, durante o sono, estava merecendo por nós, reconciliava conosco seu Pai e alcançava-nos graças.
Roguemos agora a Jesus que, pelos merecimentos de seu beato sono, nos livre do sono mortal dos pecadores, que dormem miseravelmente na morte do pecado, esquecidos de Deus e do seu amor. Peçamos-Lhe que nos dê, ao contrário, o sono feliz da sagrada Esposa, da qual dizia: Eu vos conjuro… que não perturbeis à minha amada o seu descanso, nem a façais despertar, até que ela mesma queira (1). É este o sono que Deus dá às almas suas diletas, e que, no dizer de São Basílio, não é senão o supremo olvido de todas as coisas — summa verum omnium oblivio. Então a alma olvida todas as coisas terrestres, para só pensar em Deus e nos interesses da glória divina.
II. Ó meu querido e santo Menino, Vós estais dormindo, mas esse vosso sono como me abrasa em amor! Para nós o sono é figura da morte; mas em Vós é símbolo de vida eterna, porque, enquanto repousais, estais merecendo para mim a eterna salvação. Estais dormindo, porém o vosso coração não dorme, senão pensa em padecer e morrer por mim. Durante o vosso sono rogais por mim e me impetrais de Deus o descanso eterno do Paraíso. Mas enquanto não me levardes, como espero, para repousar junto de Vós no Céu, quero que repouseis sempre em minha alma.
Houve um tempo, ó meu Deus, em que Vos expulsei da minha alma. Vós, porém, tanto batestes à porta do meu coração, ora por meio do temor, ora com luzes especiais, ora com convites amorosos, que tenho a esperança de que já entrastes nele. Assim espero, digo, porque sinto em mim uma grande confiança de que já me perdoastes. Sinto também uma grande aversão e arrependimento das ofensas que Vos tenho feito; um arrependimento que me causa grande dor, mas uma dor pacífica, uma dor que me consola e me faz esperar que a vossa bondade já me perdoou. Graças Vos dou, ó meu Jesus, e peço-Vos que não Vos aparteis mais da minha alma. Sei que Vós não Vos apartareis enquanto eu não Vos repulsar. É esta exatamente a graça que Vos peço e que, com vosso auxílio, espero pedir-Vos sempre: não permitais que torne a expulsar-Vos de meu coração. Fazei que eu me esqueça de todas as coisas, a fim de só pensar em Vós, que sempre pensastes em mim e na minha salvação. Fazei que Vos ame sempre nesta vida, a fim de que a minha alma, expirando unida conVosco e em vossos braços, possa repousar eternamente em Vós sem receio de jamais Vos perder.
— Ó Maria, assisti-me na minha vida, assisti-me na hora da minha morte, para que Jesus sempre repouse em mim, e eu repouse sempre em Jesus.
Referências:
(1) Ct 2, 7
(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo I: Desde o Primeiro Domingo do Advento até a Semana Santa inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 119-122)
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Festa do Santíssimo Nome de Jesus
Domingo entre a Circuncisão e a Epifania
Vocatum est nomen eius Jesus, quod vocatum est ab Angelo, priusquam in utero conciperetur – “Foi-lhe posto o nome de Jesus, como o havia chamado o Anjo, antes de concebido” (Lc 2, 21)
Sumário. O divino Nome de Jesus é comparado pelo Espírito Santo com azeite, porque, assim como o azeite dá luz, alimenta e cura, assim o Nome de Jesus é luz para o espírito, alimento para o coração, medicina para a alma. Felizes de nós se formos sempre devotos deste grande Nome, e, juntamente com os de Maria e José, o tivermos frequentes vezes nos lábios, especialmente no tempo das tentações! Quem jamais se perdeu tendo invocado estes santíssimos Nomes na tentação? I. O Nome de Jesus é um nome divino, anunciado a Maria da parte de Deus por São Gabriel:
Et vocabis nomen eius Jesum (1) – “Pôr-lhe-ás o nome de Jesus”
Por isso foi chamado nome acima de todo outro nome (2), no qual só se acha a salvação: in quo oportet nos salvos fieri (3). – Este grande nome é comparado pelo Espírito Santo com azeite:
Oleum effusum nomen tuum (4) – “O teu nome é como azeite derramado”
E com razão, diz São Bernardo; pois, assim o nome de Jesus é luz para o espírito, alimento para o coração e medicina para a alma.
É luz para o espírito. Com este nome converteu-se o mundo das trevas da idolatria para a luz da fé. Nós que nascemos em regiões onde antes da vinda de Cristo todos os nossos antepassados eram pagãos, todos nós o seríamos igualmente se o Messias não tivesse vindo para nos iluminar. Como devemos, portanto, agradecer a Jesus Cristo o dom da fé! O que seria de nós, se tivéssemos nascido na Ásia ou na África, entre os idólatras?
“Quem não crer, será condenado” – Qui non crediret, condemnabitur (5)
E assim, segundo todas as possibilidades, nós também havíamos de nos perder.
II. Em segundo lugar, o nome de Jesus é um alimento, que nutre os nossos corações. E de fato, porque este nome nos recorda o que Jesus tem feito para a nossa salvação. Por isso este nome nos consola nas tribulações, fortalece-nos para seguirmos o caminho da salvação, anima-nos nas desconfianças, e abrasa-nos em amor pela recordação de que o nosso Redentor tem padecido para nos salvar.
Finalmente este nome é medicina para a alma, porquanto nos torna fortes contra as tentações dos nossos inimigos. O inferno treme e foge ao ouvir a invocação deste santo Nome, segundo nos afirma o Apóstolo:
In nomine Iesu omne genu flectatur, coelestium, terrestrium et infernorum (6) – “Ao nome de Jesus dobre-se todo o joelho no céu, na terra e nos infernos”
Quem jamais se perdeu, depois de ter invocado nas tentações o nome de Jesus? Perde-se quem não chama Jesus em seu auxílio, ou deixa de invocá-lo quando a tentação continua (7).
III. Ó meu Jesus, se eu Vos tivera sempre invocado, nunca teria sido vencido pelo demônio. Perdi miseravelmente a vossa graça, porque nas tentações me descuidei de Vos chamar em meu auxílio. Ponho toda a minha esperança em vosso santo Nome: Omnia possum in eo qui me confortat (8) – “Tudo posso naquele que me fortalece”. Gravai, ó meu Salvador, gravai em meu pobre coração o vosso poderosíssimo Nome, afim de que, tendo-o sempre também na boca invocando-o em todas as tentações, que o inferno me prepara afim de me ver novamente seu escravo e separado de Vós. Em vosso nome acharei todo o bem. Nas aflições ele me consolará, pela lembrança que Vós tendes estado muito mais aflito por meu amor. Na desconfiança que me vier por causa dos meus pecados, animar-me-á, lembrando-me que viestes ao mundo exatamente para salvar os pecadores. Nas tentações o vosso nome me dará força, porque me recordará que Vós sois mais poderoso para me ajudar do que o inferno para me vencer; finalmente na minha frieza em vosso amor, o vosso nome restituir-me-á o fervor pela recordação do amor que me tendes tido.
Amo-Vos, ó meu Jesus; Vós sois, e como espero, sereis sempre o meu único amor. Ó Jesus meu, eu Vos dou todo o meu coração, só a Vós quero amar, e quero invocar-Vos o mais frequentemente possível. Quero morrer com o vosso nome nos lábios, porque é nome de esperança, nome de salvação, nome de amor.
– Ó Maria, se me tendes amor, eis aí a graça que me deveis impetrar: fazei com que eu invoque sempre o vosso nome, o de vosso filho e o de vosso castíssimo Esposo. Fazei que os vossos nomes dulcíssimos sejam a respiração de minha alma, e que sempre repita em vida, para depois repeti-lo na morte: Jesus e Maria, ajudai-me; Jesus e Maria, eu Vos amo! + Jesus, José e Maria, fazei que a minha alma expire em paz na vossa companhia (9).
Ó Pai Eterno, que constituístes a vosso Filho unigênito Salvador do gênero humano, e mandastes se lhe desse o nome de Jesus: concedei benigno que, venerando na terra seu santo nome, gozemos também de sua divina presença no céu. Fazei-o pelo amor do mesmo Jesus Cristo, nosso Senhor.” (10)
Referências:
(1) Lc 1, 31 (2) Fl 2, 9 (3) At 4, 12 (4) Ct 1, 2 (5) Mc 16, 16 (6) Fl 2, 10 (7) 25 dias de indulgências para quem invoca o nome de Jesus e de Maria (8) Fl 4, 13 (9) Indulgência de 300 dias, cada vez (10) Or. fest.
(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo I: Desde o Primeiro Domingo do Advento até a Semana Santa inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 108-111)
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