
Festa de Santo Inácio de Loyola
Quicumque glorificaverit me, glorificabo eum — “Eu glorificarei a quem me glorificar” (1 Sm 2, 30)
Sumário. O que mais distinguiu Santo Inácio foi o seu zelo pela glória divina. Foi um zelo esclarecido, porque, tendo começado por glorificar a Deus em sua própria pessoa pelo conhecimento e pelo amor, passou em seguida a glorificá-lo no próximo, promovendo de todos os modos o conhecimento e amor de Deus. E Deus, que se não deixa vencer em generosidade, ó, quão bem soube remunerar o seu servo, tanto nesta vida como na outra! Rejubilemo-nos com o santo, e agradeçamos por ele ao Senhor; e, para termos parte na recompensa do santo, imitemos os seus exemplos.
I. O caráter distintivo do grande Santo Inácio é o seu zelo pela glória divina; mas um zelo prudente e esclarecido, porque começou por glorificar a Deus em sua própria pessoa, por meio de uma conversão verdadeira. Quando estava doente de uma ferida, leu, por uma disposição da Providência, um livro de vidas de santos, e impressionado pelos atos sublimes daqueles heróis, sentiu-se abrasado no desejo de os imitar. Por que, dizia de si para si, como Santo Agostinho, por que não poderás tu fazer o que fizeram tantos jovens de toda condição, de ambos sexos? Tinham eles porventura uma natureza diferente? Serviam a outro senhor? Aspiravam a outro fim? Tu non poteris quod isti et istae?
Quando estava curado, fez Santo Inácio uma peregrinação ao santuário de Nossa Senhora de Montserrat; e, depois de fazer uma confissão geral dos seus pecados, retirou-se para a gruta de Manresa, a fim de praticar as penitências mais ásperas. Às austeridades exteriores, com as quais o santo castigava o seu corpo, Deus, a fim de purificá-lo mais, acrescentou outros sofrimentos de espírito. Permitiu que todas as cruzes da vida espiritual viessem pesar sobre ele; mas ao mesmo tempo deu-lhe amor e força para carregá-las com resignação.
Depois de ter assim glorificado a Deus em sua própria pessoa pelo conhecimento e amor, Inácio começou a glorificá-lo no próximo, promovendo de todos os modos este conhecimento e amor do Bem supremo. E porque as suas próprias forças não condiziam com a grandeza de seu coração, resolveu fundar a Companhia de Jesus, por meio da qual o seu zelo se estende a todos os tempos, a todas as idades, a todas as condições, a todas as nações da terra.
Rejubila-te aqui com o santo, e rende graças a Deus por lhe haver comunicado tão alta virtude. Ao considerares que ele ainda continua a promover a glória de Deus, por meio dos religiosos, seus filhos, pede a Deus que os faça crescer em número, os proteja nas perseguições e dê a todos a santa perseverança.
II. Deus nunca se deixa vencer em amor; e se Inácio foi generoso na promoção da glória divina, mais generoso foi o Senhor para com ele em remunerá-lo desde a vida presente:
“Eu glorificarei a quem me glorificar” (1)
Antes que o santo se tivesse convertido plenamente, enviou-lhe Deus do céu o Príncipe dos apóstolos, a fim de lhe curar a ferida, e pouco depois a mesma Bem-aventurada Virgem com o divino Menino, a qual pela sua presença extinguiu nele para sempre toda a inclinação aos prazeres sensuais.
Depois da conversão do santo, apareceu-lhe Jesus Cristo inúmeras vezes, tratando-o com familiaridade incrível, afirmando-lhe a sua proteção e revelando-lhe segredos acerca dos mistérios mais sublimes. Mais: Deus fê-lo autor do livro exímio dos “Exercícios espirituais”: e visto que então o santo mal sabia escrever, ordenou que na composição deste livro a divina Mãe o assistisse de um modo especial. Mas a glória mais bela com que Deus remunerou o seu glorificador é esta: fê-lo pai de uma Ordem que deu e ainda dá tantos santos à Igreja, tantos apóstolos ao mundo e tantas almas a Deus.
Ao pensar em tamanha glória de Inácio, sentes desejo de participar dela; mas deves então imitar primeiro as virtudes do santo e especialmente o seu zelo pela glória de Deus. Começa, com ele, por glorificar a Deus em ti mesmo, por meio de uma verdadeira emenda, pois que “aquele que é mau para si, não pode ser bom para os outros” (2). Para este fira recomenda-te ao Senhor pelos merecimentos do santo.
“Ó meu Deus, Vós, que para dilatar mais a glória do vosso Nome fortalecestes por intermédio de Santo Inácio a Igreja militante com um novo auxílio, concedei-me propício que, com o auxílio e à imitação deste santo, combatendo cá na terra mereça ser coroado com ele no céu” (3). Fazei-o pelo amor de Jesus e Maria.
Referências: (1) 1 Sm 2, 30. (2) Eclo 14, 5. (3) Or. festi.
(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo III: Desde a Duodécima semana depois de Pentecostes até ao fim do ano Eclesiástico. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 340-343)
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Da preparação para a Santa Comunhão e da ação de graças
Praeparate corda vestra Domino, et servite ei soli – “Preparai os vossos corações para o Senhor, e servi a Ele só” (1 Rs 7, 3)
Sumário. Três coisas são necessárias para a alma colher muito fruto da santa comunhão. Primeiro, o desapego das criaturas, banindo do coração tudo que não é de Deus ou para Deus. Segundo, o desejo de receber a Jesus Cristo com o único fim de mais o amar. Terceiro, a devida ação de graças depois da comunhão; imaginando que reside na alma como num trono de graças. Oh! Que tesouros de graças perde o cristão que pouco pensa em orar depois da comunhão!
I. Pergunta o cardeal Bona: “Onde vem que tantas almas, apesar das suas muitas comunhões, fazem tão pouco progresso no caminho de Deus?” e responde: “Defectus non in cibo est, sed in edentis dispositione – Não é falta de virtude em o nutrimento, é falta de preparação naquele que o recebe.” O fogo pega depressa na madeira seca e dificilmente na verde; porque esta não está disposta para arder. Os santos tiraram grandes frutos das suas comunhões porque punham muito cuidado em se preparar.
A preparação para a comunhão exige principalmente três coisas. A primeira é o desapego das criaturas, banindo do coração tudo que não é de Deus ou para Deus. Ainda que a alma esteja em estado de graça, mas com o coração cheio de apetites terrenos, quanto mais lugar ocupar a terra, tanto menos lugar restará para o amor divino. – Santa Gertrudes perguntou um dia ao Senhor, que preparação exigia que ela fizesse para comungar. E Jesus lhe respondeu: Só esta, que venhas receber-me bem vazia de ti mesma.
A segunda coisa necessária para comungar com grande fruto, é o desejo de receber a Jesus Cristo com o único intuito de mais o amar. Diz Gerson que neste banquete não são saciados senão os que têm grande fome. – Por isso, escreve São Francisco de Sales, que a principal intenção de uma alma que comunga deve ser progredir no amor de Deus. – “Importa”, diz o Santo, “receber por amor àquele que se nos dá só por amor.” Eis porque Jesus disse a Santa Mechtildes:
“Quando fores comungar, deseja possuir todo o amor que jamais um coração teve para comigo e eu aceitarei teu amor como se fosse tal como o desejas.”
II. É necessária também a ação de graças depois da comunhão. A oração mais agradável a Deus é a que se faz depois da comunhão. A alma deve empregar este tempo em produzir algum sentimento piedoso ou oração. Os afetos devotos que a alma excita então têm mais merecimento diante de Deus, porque a presença de Jesus Cristo na alma que lhe está tão unida, exalta a dignidade dos atos. – Quanto às orações, Santa Teresa observa que depois da comunhão Jesus reside na alma como em um trono de graças e lhe diz: Quid vis ut faciam tibi – “Que queres que te faça?” Como se dissesse: Alma querida, vim de propósito do céu para te dispensar graças, pede-me o que quiseres e serás atendida.
Oh! Que tesouros de graças perdem os que pouco oram depois da comunhão!
Ó Deus de amor, Vós desejais tanto dispensar-nos as vossas graças e nós somos tão pouco solícitos em Vo-las pedir. Que remorso nos causará na hora da morte este descuido tão prejudicial! Meu Senhor, não Vos lembreis dos tempos passados; com vosso auxílio quero preparar-me melhor para o futuro, arrancando do meu coração o apego a todas as coisas que me impeçam de recebam todas as graças que Vós me quereis conceder. E depois da comunhão quero entreter-me convosco o mais possível, para obter de Vós o auxílio necessário ao progresso em vosso amor. Dai-me a graça de executar esta resolução.
Ó meu Jesus, quanto me descuidei no passado de vosso amor! O tempo de vida que pela vossa misericórdia ainda me dais é um tempo para me preparar para a morte e compensar pelo meu amor as ofensas que Vos fiz. Quero, pois, empregá-lo todo em chorar os meus pecados e em Vos amar. Amo-Vos, meu amor, amo-Vos, meu único Bem. † Jesus, meu Deus, amo-Vos sobre todas as coisas; mas tende piedade de mim e não me abandoneis. – Ó minha esperança, Maria, não deixeis nunca de me socorrer pela vossa intercessão.
(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo II: Desde o Domingo da Páscoa até a Undécima Semana depois de Pentecostes inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 260-262)
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