
Suspiros de amor ao pé do Crucifixo
Pro omnibus mortuus est Christus, ut et qui vivunt iam non sibi vivant, sed ei qui pro ipsis mortuus est et resurrexit – “Cristo morreu por todos, para que também os que vivem já não vivam para si, mas para aquele que morreu por eles e ressuscitou” (2 Cor 5, 15)
Sumário. Levantemos os olhos e vejamos Jesus morto no patíbulo da cruz, o corpo coberto de chagas, das quais ainda dimana sangue. A fé ensina-nos que é Ele nosso Criador, nosso Salvador; aquele que nos ama mais do que qualquer outro e só nos pode fazer felizes. Expandamos diante d’Ele o nosso coração, fazendo atos de fé, de esperança, de arrependimento, de agradecimentos e de amor. Sobretudo façamos atos de oferecimento de nós mesmos, protestando que queremos empregar em amá-Lo toda a vida que ainda nos resta.
I. Meu irmão, levanta teus olhos e contempla Jesus morto no patíbulo da cruz, o corpo todo coberto de chagas, das quais ainda corre o sangue. A fé te ensina que Ele é teu Criador, teu Salvador, tua Vida e teu Libertador; aquele que te ama ainda mais que outro qualquer e que só te pode fazer feliz.
Meu Jesus, eu creio que sois aquele que me amou desde a eternidade, sem algum merecimento da minha parte; apesar da previsão de minhas ingratidões e unicamente movido pela vossa bondade, me destes a existência. Vós sois meu Salvador, que pela vossa morte me livrastes do inferno tantas vezes por mim merecido. Vós sois minha vida, pela graça que me comunicastes e sem a qual teria ficado eternamente na morte. Vós sois meu Pai, e Pai amantíssimo, perdoando-me com tão grande misericórdia as injúrias que Vos fiz. Vós sois o meu tesouro, enriquecendo-me com tantas luzes e favores, em vez dos castigos de que era digno. Vós sois a minha esperança, visto que fora de Vós não há de quem possa esperar algum bem. Vós sois meu verdadeiro e único amante, pois que por meu amor quisestes morrer. Numa palavra, Vós sois meu Deus, meu Bem supremo, meu tudo.
Ó homens, ó homens, amemos Jesus Cristo, amemos um Deus que se sacrificou todo pelo nosso amor. Sacrificou as honras às quais tinha direito na terra; sacrificou todas as riquezas e delícias de que podia gozar, e contentou-se com levar uma vida humilde, pobre e atribulada; finalmente, para satisfazer pelas suas penas por nossos pecados, quis sacrificar todo o seu sangue e a vida, morrendo num oceano de dores e de desprezos. Retribuamos-Lhe amor com amor.
II. Meu filho, diz o Redentor, do alto da cruz, a cada um de nós, — meu filho, que mais podia fazer para ser amado por ti, do que por ti morrer? Vê se há no mundo alguém que te tenha amado mais do que eu, teu Senhor e teu Deus? Ama-me, pois, ao menos em retribuição do amor que te mostrei.
Ah, meu Jesus, como posso lembrar-me que meus pecados Vos fizeram morrer de dor sobre um infame patíbulo e não chorar sempre de dor por haver desprezado assim o vosso amor? E como posso ver-Vos pendurado nesse madeiro por meu amor e não Vos amar com todas as minhas forças? Cristo morreu por todos, para que também os que vivem já não vivam para si, mas para aquele que morreu por eles e ressuscitou. Mas, já que Vós morrestes por nós todos, a fim de que ninguém mais viva para si mesmo, como é possível que eu, em vez de viver somente para Vos amar e glorificar, tenha vivido unicamente para Vos afligir e desonrar?
Por piedade, ó meu Senhor crucificado, esquecei-Vos das amarguras que Vos tenho causado e de que me arrependo com sincero coração, e pela vossa graça atraí-me todo a vosso amor. Já não quero mais viver para mim mesmo, mas unicamente para Vós, que me haveis amado tanto e sois tão digno de ser amado. Eu Vos consagro toda a minha pessoa e tudo o que é meu, sem reserva alguma. Renuncio a todas as dignidades e prazeres da terra, e me ofereço para sofrer tudo o que for da vossa vontade. Vós que me inspirastes este bom querer, concedei-me também a força para o executar. — Ó Cordeiro de Deus, sacrificado sobre a cruz, ó vítima de amor, ó Deus tão amante dos homens, quem me dera morrer por Vós como Vós morrestes por mim! — Ó Mãe de Deus, Maria, obtende-me a graça de sacrificar ao amor de vosso Filho amabilíssimo todo o resto de minha vida. Minha Mãe, impetrai-me também uma terna compaixão pelas vossas dores; a fim de que, tendo chorado convosco na terra, possa ir reinar convosco no céu.
(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo III: Desde a Décima Segunda Semana depois de Pentecostes até o fim do ano eclesiástico. Friburgo: Herder & Cia, 1922, p. 256-259)
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Jesus cresce em idade, em sabedoria, e em graça
Et Iesus proficiebat sapientia et aetate et gratia apud Deum et homines – “E Jesus crescia em sabedoria, e em idade e em graça diante de Deus e dos homens” (Lc 2, 52)
Sumário. Posto que Jesus, desde o primeiro instante de sua vida, estivesse enriquecido de todos os carismas celestiais; contudo, crescendo em idade, crescia também em sabedoria, isso é, manifestava-a mais e mais. No mesmo sentido se diz que crescia em graça diante de Deus e dos homens. Nós também, com o progredir dos anos, devíamos ter crescido no amor, mas talvez tenha aumentado a nossa tibieza e culpabilidade. Imploremos o perdão do Senhor com o propósito de sermos para o futuro mais fervorosos.
I. Falando da morada do Menino Jesus na casa de Nazaré, diz São Lucas: Et Iesus proficiebat — “E Jesus crescia”. Assim como ia crescendo em idade, crescia também em sabedoria. Não como se Jesus adquirisse conhecimento mais perfeito das coisas, como nós; porquanto, desde o primeiro instante da sua vida, foi enriquecido de toda a ciência e sabedoria divina: In quo sunt omnes thesauri sapientiae et scientiae absconditi (1) — “No qual (Jesus) estão encerrados todos os tesouros da sabedoria e da ciência”. Mas diz-se que crescia, porque com o correr dos anos ia manifestando mais e mais a sua sublime sabedoria.
E neste sentido também se diz que Jesus crescia em graça diante de Deus e dos homens. Diante de Deus, porquanto todas as suas ações divinas, posto que não Lhe aumentassem a santidade nem os merecimentos (visto que desde o princípio foi Jesus repleto de santidade e de merecimentos, de modo que de sua plenitude nós recebemos todas as graças: De plenitudine eius accepimus omnes (2), todavia as obras do Redentor, consideradas em si mesmas, eram suficientes para Lhe acrescentar graças e méritos. Jesus crescia também em graça diante dos homens, crescendo em beleza e amabilidade. Oh! Como Jesus se ia tornando sempre mais querido e amável em sua adolescência, dando sempre mais a conhecer as belas qualidades que o faziam tão amável! Com que alegria obedecia o santo Menino a Maria e José! Com que recolhimento de espírito trabalhava! Com que modéstia se alimentava! Com que moderação falava! Com que doçura e afabilidade conversava com todos! Com que devoção orava! Numa palavra, cada ação, cada palavra, cada movimento de Jesus Cristo abrasava e feria o coração de todos que o viam e em particular de Maria e José, que tinham a ventura de O ver sempre junto de si. Oh! Como estavam estes santos Esposos sempre atentos a contemplar e admirar todas as ações, palavras e movimentos do Homem-Deus!
II. Crescei, amável Jesus, crescei para mim. Crescei para me ensinar por vossos divinos exemplos as vossas belas virtudes. Crescei para consumar o sacrifício da cruz, do qual depende a minha salvação eterna. Oh meu Senhor, fazei com que eu também cresça cada vez mais no vosso amor e graça. No passado, ai! Cresci somente em ingratidão para convosco, que tanto me haveis amado. Fazei, ó meu Jesus, com que no futuro seja o contrário; Vós conheceis a minha fraqueza; Vós deveis dar-me luz e força. Fazei com que eu compreenda quanto mereceis ser amado. Vós sois um Deus de infinita beleza e de infinita majestade, que não recusastes descer do céu, para vos fazerdes homem e levardes por nosso amor uma vida desprezada e penosa, terminada por uma morte tão cruel. Onde poderíamos achar amigo mais amável e mais amante?
Insensato que sou! No passado não vos quis conhecer e por isso Vos perdi. Peço-Vos perdão, já que de toda a minha alma me arrependo e tomo a resolução de ser todo vosso. Mas, ó meu Jesus, ajudai-me; recordai-me sem cessar a vida penosa e a morte dolorosa que sofrestes por meu amor. Dai-me luz e dai-me força. Quando o demônio me apresentar algum fruto vedado, dai-me firmeza para desprezá-lo; não permitais, que por qualquer gozo vil e passageiro eu Vos perca, ó Bem infinito. Amo-Vos, ó meu Jesus, morto por mim; amo-Vos, ó Bondade infinita; amo-Vos, ó amante da minha alma. — Ó Maria, sois vós a minha esperança; é pela vossa intercessão que espero obter a graça de amar a meu Deus de hoje em diante para sempre, e de nunca mais amar outra coisa que não seja Deus.
Referências:
(1) Cl 2, 3 (2) Jo 1, 16
(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo I: Desde o Primeiro Domingo do Advento até a Semana Santa Inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 186-188)
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