
Motivos para celebrar o mês de Maria
Mensis iste vobis principium mensium: primus erit in mensibus anni —”Este mês será para vós o princípio dos meses: será o primeiro dos meses do ano” (Ex 12, 2)
Sumário. Seja qual for o estado da tua alma, sempre tens motivos especiais para celebrar bem o mês de Maria. Se és inocente, deves fazê-lo para que a divina Mãe te conserve sempre tal; se és pecador, para que te ajude a levantar-te; se és penitente, para que te obtenha a santa perseverança. Para praticares bem este santo exercício, imagina-te que terás de morrer no princípio de junho, e emprega todo o mês de maio em te preparar à morte, especialmente pelo cumprimento exato dos deveres do teu estado.
I. Muito grande é a necessidade que tens da proteção de Maria para a tua salvação. És inocente? Lembra-te que trazes o tesouro da inocência em vasos frágeis de barro, e que estás em perigo contínuo de o perder: Habemus thesaurum istum in vasis fictilibus (1). Quantos, mais inocentes do que tu, caíram depressa em pecado e se perderam! Quantos ficaram amigos de Deus durante muitos meses, e até anos, e em seguida perderam a graça de Deus e naufragaram exatamente quando estavam para entrar no porto! Isto tem acontecido não só a pessoas engolfadas em negócios temporais, nos prazeres do mundo; outras retiradas na solidão, exaustas pelos jejuns, extenuadas pelos trabalhos, levavam vida austera e penitente, e todavia caíram vítimas infelizes do pecado, talvez por um olhar, por um pensamento! Vê, pois, que também a tua inocência não te pode dar segurança.
És pecador? Sabe então que sem um auxílio poderoso te é impossível levantar-te do abismo em que caíste. O pecado tirou-te as forças: a natureza corrompida, os hábitos inveterados, as ocasiões perigosas prendem-te fortemente à terra. E quem te defenderá contra a ira de Deus, que já está talvez com a espada levantada? Quem te livrará de tantos perigos? Quem te salvará no meio de tantos inimigos? Se porventura já te levantaste do pecado, não precisas menos de amparo. Quem te assegura que não tomarás a cair? Quem te assegura que serás fiel até a morte? Já mais de uma vez voltaste a Deus e mais de uma vez tornaste a pecar. Ah! Se não fosse Maria, estarias talvez irreparavelmente perdido!
Pois bem: com a devoção deste mês de Maria, podes obter o seu patrocínio e a tua salvação. Será possível que uma Mãe tão terna deixe de atender a um seu filho devoto? Se por causa de um rosário, de um jejum ela tem concedido favores assinalados aos mais grandes pecadores, de certo não te negará, se a servires durante um mês inteiro. Mas ai de ti, se perderes a presente graça! Ai de ti se, começando bem, depois de passados dias refrouxares! Quem sabe se não é este o último convite que Deus te faz? A última ocasião para te converteres? Quem sabe se a este exercício não está ligada a tua perseverança final? E, além disto, quem sabe se não é este o último ano, o último mês da tua vida? Pensa nisto seriamente e resolve-te.
II. Seja o fruto desta meditação a mais fervorosa celebração deste mês de Maria, preparando-te para a morte, como se realmente te fora revelado que o presente mês é o último da tua vida e que terás de morrer nos primeiros dias de junho. Em vez de aumentar o número dos teus exercícios de devoção, procura antes fazer as ações do costume com mais perfeição, e cumprir com todo o rigor os deveres do teu estado.
Para esse fim, levanta-te logo, quando for hora de levantar, para não começar o dia com um ato de preguiça, e consagra-te inteiramente à divina Mãe. Faze a tua meditação com mais fervor, ouve cada manhã uma Santa Missa, e durante o dia, conforme o permitirem as tuas ocupações, lê algum tempo sobre as Glórias de Maria, ou em outro livro espiritual; faze uma visita a Jesus sacramentado e conserva-te continuamente na presença de Deus, pelo uso frequente das orações jaculatórias. Examina sobretudo a tua consciência, e, se achares alguma coisa que te possa incomodar na hora da morte, ajusta-a quanto antes por meio de uma boa confissão; e durante todo este mês guarda-te de cometer pecados veniais plenamente deliberados. Depois, não deixes de praticar com exatidão algum obséquio especial que te proponhas fazer em honra de Maria Santíssima e invoca-a sempre em tuas necessidades, particularmente com o belo título de Mãe do Perpétuo Socorro.
Santíssima Mãe de Deus e Mãe da misericórdia, eis-me aqui na vossa presença e na de vosso divino Filho, para vos tributar as minhas homenagens, vos louvar com a minha língua e vos venerar com o meu coração. Iluminai, Senhora, o meu espírito, inflamai a minha vontade, a fim de que vos possa oferecer dignamente o tributo da minha servidão, para maior glória de Deus, para honra vossa e proveito da minha alma.
Referência: (1) 2 Cor 4, 7.
(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo II: Desde o Domingo da Páscoa até a Undécima semana depois de Pentecostes inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 325-328)
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A pena que terá no inferno quem se condenar por ter perdido a vocação
Pro eo quod abiecisti sermonem Domini, abiecit te Dominus, ne sis rex – “Como tu rejeitaste a palavra do Senhor, o Senhor te rejeitou a ti, para que não sejas rei” (1 Rs 15, 23)
Sumário. O remorso de ter perdido por própria culpa qualquer grande bem, ou de ter sido causa de algum grande mal, é uma pena tão grande, que ainda nesta vida causa tormentos indizíveis. Qual não será, pois, no inferno o tormento de um religioso que se vir condenado àquele cárcere, por ter perdido a vocação, e sem esperança de poder remediar a sua eterna ruína? Desgraçado de mim! Exclamará desesperado; podia ser um príncipe no paraíso e tornei-me um dos réprobos mais infelizes!.
I. O remorso de ter perdido por própria culpa algum grande bem, o de ter chamado voluntariamente sobre si qualquer grande mal, é um apena tão grande, que ainda nesta vida causa um tormento insofrível. Imagina, pois, que tormento terá no inferno um jovem, chamado por Deus, por favor singular, ao estado religioso, quando conhecer que, se obedecera a Deus, teria adquirido no paraíso um lugar distinto, e em vez disso se vir encerrado naquele cárcere de tormentos, sem esperança de remédio à sua ruína eterna!
É este o verme que, sempre vivo, sempre lhe roerá o coração com um contínuo remorso: Vermis eorum non moritur (1) — “O seu verme não morre”. Ele dirá então: Ó insensato que fui! Podia fazer-me um grande santo; se tivera obedecido, agora estaria salvo; e eis que em vez disso, por minha própria culpa, por um nada, estou condenado, e condenado sem remédio!
Conhecerá então o miserável para sua maior pena, e verá no dia do juízo universal colocados à direita de Jesus e coroados como santos, conhecerá, digo, e verá tantos companheiros seus, que obedeceram à vocação divina, e deixando o mundo, se recolheram à casa de Deus, a que ele também tinha sido chamado. Ver-se-á então apartado do consórcio dos bem-aventurados, e relegado no meio da chusma inúmera dos miseráveis réprobos, porque foi desobediente à voz de Deus. É certo que o pensamento de sua vocação lhe será no inferno como que outro novo inferno.
II. Já se sabe, como atrás se considerou, que à infelicíssima troca do céu com o inferno se expõe facilmente aquele que, para seguir o seu capricho, volta as costas ao chamamento divino. Por isso, meu irmão, já que foste chamado a fazer-te santo na casa de Deus, considera a que grande perigo te havias de expor, se voluntariamente perdesses a tua vocação. Esta vocação, que Deus te deu em sua infinita bondade, a fim de te apartar do meio dos fiéis comuns e de te dar um lugar entre os príncipes do paraíso, tornar-se-ia por tua culpa, se lhe fosses infiel, como que um inferno à parte para ti. Escolhe portanto, porque Deus Jesus Cristo põe na tua mão a escolha; escolhe: ou ser um grande rei no paraíso, ou então um condenado mais desesperado que os outros, no inferno.
Não, meu Deus, não permitais que eu Vos desobedeça e Vos seja infiel. Vejo a vossa bondade para comigo, e Vos agradeço, porque, em vez de me expulsardes da vossa face e de me desterrardes para o inferno, por mim tantas vezes merecido, me chamais a fazer-me santo e preparais para mim um lugar excelente no paraíso. Vejo que mereceria uma dupla pena se não correspondesse a esta graça, que não é concedida a todos. Senhor, quero obedecer-Vos; eis-me aqui, sou vosso, e vosso quero ser sempre.
De boa vontade aceito todas as penas e incômodos da vida religiosa a que me convidais. O que vem a ser estas penas em comparação com as penas eternas que tenho merecido? Eu já estava perdido pelos meus pecados; agora me dou todo a Vós. Disponde de mim e de minha vida como Vos aprouver.
Aceitai, ó Senhor, um condenado ao inferno, como eu era, a servir-Vos e amar-Vos nesta vida e na outra. Quero amar-Vos tanto quanto tenho merecido estar no inferno a odiar-Vos, ó Deus infinitamente amável. O Jesus meu, Vós despedaçastes as cadeias com que o mundo me tinha preso a si; Vós me livrastes da escravidão de meus inimigos. Meu amor, quero amar-Vos muito, e pelo amor que Vos tenho, quero servir-Vos sempre, e obedecer-Vos. — Minha advogada, Maria, agradeço-vos por me terdes impetrado esta misericórdia. Ajudai-me e não permitais que eu torne a ser ingrato a meu Deus, que tanto me tem amado. Obtende de Deus que eu morra sem que haja de ser infiel a tão grande graça.
Referências:
(1) Mc 9, 43
(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo II: Desde o Domingo da Páscoa até a Undécima Semana depois de Pentecostes inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 24-27)
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