
Das ocupações do Menino Jesus na Gruta de Belém
Advocatum habemus apud Patrem, Iesum Cristum iustum — “Temos por advogado para com o Pai a Jesus Cristo, o Justo” (1 Jo 2, 1)
Sumário. São duas as ocupações principais de um solitário: orar e fazer penitência. Eis que Jesus Menino, na lapinha de Belém, nos dá disso um belo exemplo. Consideremos nesta meditação, como no presépio ora incessantemente e faz continuamente atos de amor e de adoração. Todas as graças que já temos recebido e ainda esperamos obter, foram-nos alcançadas por aquelas orações de Jesus Deus. Demos graças por isso ao divino Menino, e cada vez que fizermos oração, unamo-nos em espírito a tão excelente Mestre.
I. São duas as ocupações principais de um solitário: orar e fazer penitência. Eis que o Menino Jesus nos dá disso o exemplo na lapinha de Belém. Tendo tratado em outra meditação da penitência de Jesus Menino, consideremos agora, como no presépio, que ele escolheu para o seu oratório na terra, não cessa de orar continuamente ao seu Pai eterno. Continuamente faz atos de adoração, de amor e de oração. Antes deste tempo a divina Majestade tinha, sim, recebido as adorações dos homens e dos anjos; mas todas as criaturas não lhe tinham, de certo, tributado a honra que lhe tributou o Menino Jesus pela sua adoração na gruta em que nasceu. Unamos portanto sempre as nossas adorações com as que Jesus Cristo ofereceu na terra a Deus.
Quão belos e perfeitos eram os atos de amor que em suas orações fazia o Verbo encarnado para com seu Pai! O Senhor dera aos homens o preceito de o amarem de todo o coração e com todas as forças; mas nunca homem algum cumprira perfeitamente este preceito. Entre as mulheres a primeira a cumpri-lo foi Maria, e entre os homens Jesus Menino, que o cumpriu com perfeição ainda imensamente maior do que Maria. Em comparação do amor deste Menino, pode-se dizer que os Serafins eram frios. Aprendamos dele a amar o nosso Deus como convém, e roguemos-lhe nos comunique uma centelha do amor puríssimo com que na lapa de Belém amava a seu divino Pai.
Ó! Quão belas, perfeitas e agradáveis a Deus eram as orações do Menino Jesus! Ele orava a seu Pai a todos os instantes, e as suas orações eram todas em nosso favor, e até para cada um de nós em particular. Todas as graças que cada um de nós recebeu do Senhor: a vocação à verdadeira fé, o ter-nos chamado a fazer penitência, as luzes, a dor dos pecados, o perdão, os santos desejos, a vitória nas tentações e todo o outro bem que fizemos e ainda faremos; os atos de confiança, de humildade, de amor, de agradecimento, de oblação de nós mesmos, de resignação; todas estas graças nos foram alcançadas por Jesus, são efeito das orações de Jesus. De quanto lhe somos, pois, devedores! Como devemos agradecer-lhe e amá-lo!
II. Ó! Quanto Vos devo, meu doce Redentor! Se não houvésseis pedido por mim, em que desesperada posição me achara! Graças Vos dou, ó meu Jesus; as vossas orações me obtiveram o perdão dos meus pecados, e me alcançarão também, assim o espero, a perseverança até a morte. Vós rogastes por mim: agradeço-Vos de todo o coração; mas peço-Vos que não deixeis de rogar por mim. Sei que, no céu, intercedeis ainda em nosso favor: Advocatum habemus Iesum Cristum— “Temos por advogado a Jesus Cristo”. Sei que continuais a interceder por nós: Qui etiam interpellat pro nobis (1) — “O que também intercede por nós”.
Continuai, pois, a orar, ó meu Jesus; orai, porém, mais particularmente por mim, que tenho maior necessidade das vossas orações. Confio que, em atenção aos vossos merecimentos, já Deus me perdoou; mas como tenho caído tantas vezes, posso cair de novo. O inferno não deixa e não deixará nunca de me tentar, para me fazer novamente perder a vossa amizade. Ah, meu Jesus! Vós sois a minha esperança, Vós me deveis dar a força para resistir; a Vós a peço, de Vós a espero.
Mas não me contento com a graça de não cair mais; desejo também a graça da muito Vos amar. Já se vem aproximando a minha morte. Se eu morresse agora, espero, sim, que me havia de salvar; mas amar-Vos-ia pouco no paraíso, porque até hoje pouco Vos amei. Quero amar- Vos muito pelo restante da minha vida, para muito Vos amar na eternidade. Ó Maria, minha Mãe, rogai também por mim a Jesus; as vossas orações são onipotentes com este divino Filho que tanto vos ama. Desejais tão ardentemente vê-lo amado e pedi-lhe me dê um grande amor à sua bondade, e este amor seja um amor constante e eterno.
Referência: (1) Rm 8, 34.
(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo III: Desde a Duodécima semana depois de Pentecostes até ao fim do ano Eclesiástico. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 418-421)
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Na morte tudo acaba
Dies mei breviabuntur; et solum mihi superest sepulchrum – “Os meus dias se abreviam, e só me resta o sepulcro” (Jó 17, 1)
Sumário. A felicidade da vida presente é comparada por Davi ao sono de um homem que desperta; porque os bens deste mundo parecem grandes, mas em realidade nada são e duram pouco, como pouco dura o sono e logo se evapora. Já que nos temos que separar um dia desses bens, desprendamo-nos de tudo aquilo que nos afasta ou nos pode afastar de Deus, e não deixemos para amanhã o bem que podemos fazer hoje. Por terem procrastinado o bem, quantos se acham agora no purgatório e quiçá no inferno!
I. Davi chama à felicidade da vida presente sonho de um homem que desperta: Velut somnium surgentium (1); porque os bens deste mundo parecem grandes, mas em realidade nada são e duram pouco, assim como pouco dura o sonho e logo se evapora. Este pensamento determinou São Francisco de Borja a dar-se inteiramente a Deus.
O Santo foi encarregado de acompanhar à Granada o corpo da imperatriz Isabel. Quando abriram o caixão, o aspecto horrível e o mau cheiro do cadáver afugentaram toda a gente. Mas Francisco, guiado pela luz divina, deteve-se a contemplar naquele cadáver a vaidade do mundo e exclamou fitando-o:
“Sois vós então a minha imperatriz? Sois vós aquela diante de quem se prostravam respeitosos tão notáveis personagens? Ó Isabel, minha senhora, que é feito da vossa majestade, da vossa beleza?”… “É, pois, assim”, concluiu consigo, “que terminam as grandezas e coroas da terra! Quero para o futuro servir um senhor que me não possa ser roubado pela morte.”
Desde então consagrou-se inteiramente ao amor de Jesus crucificado, fazendo voto de abraçar o estado religioso, o que depois executou entrando na Companhia de Jesus.
Tinha, portanto, razão certo homem desiludido quando escreveu estas palavras sobre um crânio: Cogitanti vilescunt omnia — “Tudo se afigura desprezível àquele que reflete”. Quem pensa na morte, não pode amar a terra. Mas porque é que há tantos desgraçados que amam este mundo? Porque não pensam na morte. — Filii hominum, usquequo gravi corde (2) — Pobres filhos de Adão, diz o Espírito Santo, porque não arrancais do coração tantas afeições terrenas que vos fazem amar a vaidade e a mentira? O que aconteceu a vossos pais, acontecer-vos-á também. Habitaram eles essa mesma morada, dormiram nesse mesmo leito, e agora não estão mais aí. O mesmo vos acontecerá igualmente.
II. Meu irmão, cuida em dar-te sem demora todo inteiro a Deus, antes que a morte chegue, não deixes para amanhã o que podes fazer hoje, porque o dia presente passa e não volta mais, e amanhã pode vir a morte que nada mais te deixará fazer. Por causa dessas procrastinações, quantos estão agora no purgatório, e quiçá no inferno? Liberta-te quanto antes do que te afasta ou te pode afastar de Deus. Abandonemos pelo afeto os bens terrestres, antes que a morte no-los venha arrancar à força. — Beati mortui qui in Domino moriuntur (3). Felizes aqueles que, ao morrer, se acham já mortos para as afeições do mundo! Longe de recearem a morte, desejam-na e abraçam-na com alegria, pois, em lugar de os separar dos bens que amam, une-os ao soberano Bem, que é o único objeto do seu amor e que os tornará eternamente felizes.
Meu amado Redentor, agradeço-Vos o terdes esperado por mim. Que seria de mim, se me tivésseis deixado morrer quando estava longe de Vós? Seja sempre bendita a vossa misericórdia e a paciência que durante tantos anos me dispensastes. Agradeço-Vos a luz e a graça com que hoje me favoreceis. Então não Vos amava e pouco se me dava ser amado de Vós. Agora Vos amo de todo o coração, e não sinto maior pena do que a de haver desagradado tanto a um Deus tão bom.
Meu doce Salvador, porque não morri mil vezes antes de Vos ter ofendido! Tremo só ao pensar que no futuro Vos posso ofender ainda. Fazei-me morrer da morte mais cruel, antes que eu perca de novo a vossa graça. Fizestes-me tantas graças que não pedia, que já não receio me negueis a que Vos peço agora. Não permitais que Vos perca; dai-me o vosso amor e nada mais desejo. — Maria, minha esperança, intercedei por mim.
Referências:
(1) Sl 72, 20 (2) Sl 4, 3 (3) Ap 14, 13
(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo III: Desde a Décima Segunda Semana depois de Pentecostes até o fim do ano eclesiástico. Friburgo: Herder & Cia, 1922, p. 322-324)
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