Meditação de 23 de março

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Estado miserável dos que recaem no pecado

Estado miserável dos que recaem no pecado

Segunda Meditação para o 3º Domingo da Quaresma

Et fiunt novissima hominis illius peiora prioribus – “E o último estado daquele homem virá a ser pior do que o primeiro” (Lc 11, 26)

Sumário. Meu irmão, já que resolveste dar-te todo a Deus, e já o executaste, não creias que as tentações tenham terminado. Antes, mais do que nunca, prepara-te para travar combate com o demônio, que, como diz Jesus Cristo, buscando repouso e não o achando, redobra os esforços para tornar a entrar na alma donde foi expulso. Desgraçado de quem torna a cair depois de ser levantado! Irá enfraquecendo cada vez mais; Deus retirará a sua mão com as graças; e assim o fim de tal homem será pior do que o princípio.

I. Meu irmão, já que resolveste dar-te todo a Deus, e assim o executaste, não acrediteis que se tenham acabado as tentações. Escuta o que te diz Jesus Cristo no Evangelho de hoje:

“Quando o espírito imundo saiu do homem, anda por lugares desertos, buscando repouso; e não a achando, diz: Voltarei para a casa donde saí. E quando chega, acha-a varrida e adornada. Vai então, e toma consigo outro sete espírito piores do que ele, e, entrando na casa, fazem nela habitação. E o último estado daquele homem virá a ser pior do que o primeiro”.

Com isto o Senhor nos quer dizer que, quanto mais uma alma procura unir-se a Deus e servi-Lo, tanto mais contra ele se enfurece o inimigo, e procura entrar na alma donde foi desterrado. Se o consegue, não entra mais sozinho, mas traz companheiros consigo, para melhor se aquartelar, e assim a segunda ruína da mísera alma será pior do que a primeira.

Diz Santo Tomás que todo o pecado, ainda que tenha sido perdoado, deixa sempre a ferida causada pela culpa. Se portanto se junta outra ferida à antiga, fica a alma tão enfraquecida, que para se levantar precisará de uma graça especial. Por outra parte, Deus não concederá facilmente semelhante graça a um ingrato, que, depois de ser chamado com tão grande amor, e admitido à sua amizade, depois de assentar-se à Mesa eucarística para se alimentar com o Corpo sagrado de Jesus, esquecendo-se de todas estas misericórdias divinas, se revolta contra Ele e Lhe prefere o demônio. Ah! O Senhor fica em extremo sensibilizado com tamanha ingratidão, e por isso: Fiunt novissima hominis illius peiora prioribus — “O último estado daquele homem virá a ser pior do que o primeiro”.

II. Ai daquele que, sendo amigo de Deus e tendo recebido muitas graças, torna a cair e se declarar seu inimigo e escravo do demônio! — Irmão meu, a fim de que te não suceda tamanha desgraça, esforça-te de toda a maneira por ficares constante na justiça e no temor, e prepara a tua alma para a tentação (1). Examina novamente a tua consciência; estuda todas as tuas paixões, especialmente a que no passado tenha sido a tua paixão dominante. Quando sentires que as inclinações más tornam a brotar em tua alma, procura abatê-las depressa pelos meios que o teu confessor te indicar, antes que ganhem força; no caso contrário serão os teus mais formidáveis inimigos.

A arma principal, porém, de que te deves servir, é a oração, porque o espírito imundo é um campeão armado, mais robusto do que tu, e que além de uma longa experiência tem a inteligência e a força de anjo. Numa palavra, lembra-te que quem na tentação ora e se recomenda a Deus, certamente será vencedor; e quem não ora, será vencido e se condenará.

Ó Jesus, meu Redentor, pelos merecimentos de vosso sangue espero que já me haveis perdoado as ofensas que Vos fiz, e que irei agradecer-Vos eternamente no paraíso. Vejo que no passado caí e recaí miseravelmente, porque me descuidei de recorrer a Vós. Agora peço-Vos a santa perseverança e proponho pedi-la sempre, especialmente quando me vir tentado. Mas de que me valerá esta minha resolução, se Vós não me derdes a força para cumpri-la? Rogo-Vos pelos merecimentos de vossa paixão, me concedais a graça de recorrer a Vós em todas as minhas necessidades. — “Dignai-Vos, ó Deus todo-poderoso, atender às minhas humildes súplicas, e estender em minha defesa o braço da vossa majestade” (2).

Fazei-o pelo amor de vossa e minha queria Mãe Maria.

Referências:

(1) Eclo 2, 1 (2) Or. Dom. curr.

(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo I: Desde o Primeiro Domingo do Advento até a Semana Santa Inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 337-339)

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O demônio mudo e as confissões sacrílegas

O demônio mudo e as confissões sacrílegas

Primeira Meditação para o 3º Domingo da Quaresma

Erat (Iesus) eiciens daemonium, et illud erat mutum – “Estava (Jesus) expelindo um demônio, e ele era mudo” (Lc 11, 14)

Sumário. O demônio mudo de que fala o Evangelho, significa o falso pejo com que o espírito infernal, depois de seduzir o cristão a ofender seu Deus, procura fazê-lo ocultar o pecado na confissão. Ah, quantas almas caem todos os dias no inferno por este ardil diabólico! Meu irmão, se jamais o demônio te vier tentar assim, pensa que, se é vergonhoso ofender a Deus tão bom, não o é o confessar o pecado cometido e o livrar-se dele. Quantos santos são venerados sobre os altares, que até fizeram uma confissão pública!

I. O demônio mudo de que fala o Evangelho é o falso pejo com que o espírito infernal procura fazer-nos calar na confissão os pecados cometidos, depois de primeiro nos ter cegado para não vermos o mal que cometemos e a ruína que nos preparamos ofendendo a Deus. — Com efeito, exclama São João Crisóstomo, o demônio faz em todas as coisas o contrário do que Deus faz. O Senhor pôs vergonha no pecado, para que não o cometamos; mas depois de o havermos cometido, anima-nos a confessá-lo, prometendo o perdão a quem se acusa. O demônio, ao contrário, inspira confiança ao pecador com a esperança do perdão; mas cometido o pecado, cobre-o de vergonha, para que se não confesse.

Por este ardil diabólico, ó, quantas alma já foram precipitadas e ainda se precipitam cada dia no inferno! Sim, porque os miseráveis convertem em veneno o remédio que Jesus Cristo nos preparou com seu preciosíssimo sangue, e ficam presas com uma dupla cadeia, cometendo depois do primeiro pecado outro mais grave: o sacrilégio.

Irmão meu, se por desgraça a tua alma está manchada pelo pecado, escuta o que te diz o Espírito Santo: Pro anima tua ne confundaris dicere verum (1). Sabe, diz ele, que há duas qualidades de vergonha; deves fugir daquele que te faz inimigo de Deus, conduzindo-te ao pecado; mas não da que se sente ao confessá-lo e te faz receber a graça de Deus nesta vida e a glória do paraíso na outra.

Se, pois, te queres salvar, não te envergonhes de fazer uma boa confissão; aliás a tua alma se perderá. As feridas gangrenosas levam à morte, e tais são os pecados calados na confissão; são chagas da alma que se gangrenaram.

II. Meu filho, vergonhoso é o entrar nesta casa, mas não o sair dela. Assim falou Sócrates a um seu discípulo que não quis ser visto ao sair de uma casa suspeita. É o que digo também àqueles que, depois de cometerem um pecado grave, tem pejo de o confessar. Meu irmão, coisa vergonhosa é ofender a um Deus tão grande e tão bom; mas não o é confessarmos o pecado cometido e livrar-nos dele. Foi porventura coisa vergonhosa para Santa Maria Madalena o confessar em público aos pés de Jesus Cristo, que era uma mulher pecadora? Foi motivo de pejo confessar-se uma Santa Maria Egipcíaca, uma Santa Margarida de Cortona, um Santo Agostinho, e tantos outros penitentes, que algum tempo tinham sido grandes pecadores? Por meio de sua confissão fizeram-se santos.

Ânimo, pois, meu irmão, ânimo! (Falo a quem cometeu a falta de ocultar por vergonha um pecado.) Tem ânimo e dize tudo a um confessor. Dá glória a Deus e confunde o demônio que, como diz o Evangelho, quando saiu do homem, anda por lugares secos, buscando repouso, e não o acha. — Porém, depois de teres confessado bem, prepara-te para novos e mais violentos assaltos da parte do inimigo infernal. Ai de quem o deixa entrar novamente, depois de o haver expulso! Et fiunt novíssima hominis illius peiora prioribus — “O último estado do homem virá a ser pior do que o primeiro”.

Ó meu amabilíssimo Jesus! Iluminai o meu espírito, a fim de que nunca mais me deixe obcecar pelo espírito maligno a cometer de novo o pecado. Pesa-me de Vos haver ofendido, e proponho com a vossa graça antes morrer que tornar a ofender-Vos. Mas, se por desgraça recair, dai-me força para sempre vencer o demônio mudo e confessar-me sinceramente ao vosso ministro. “Peço-Vos, Deus Todo-Poderoso, que atendais propício às minhas humildes súplicas, e que em minha defesa estendais o braço de vossa majestade”. (2) † Doce Coração de Maria, sêde minha salvação.

Referências:

(1) Eclo 4, 24 (2) Or. Dom. curr.

(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo I: Desde o Primeiro Domingo do Advento até a Semana Santa Inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 334-337)

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