Meditação de 2 de novembro

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Comemoração de todos os Fiéis Defuntos

Comemoração de todos os Fiéis Defuntos

Sancta et salubris est cogitado pro defunctis exorare, ut a peccatis solvantur — “É um santo e salutar pensamento orar pelos mortos para que lhes sejam perdoados os seus pecados” (2 Mc 12, 46)

Sumário. A devoção às almas do purgatório é muito agradável ao Senhor, e utilíssima ao que a pratica. Jesus Cristo ama imensamente estas suas esposas e suspira pelo momento em que as possa estreitar contra o peito; e as santas prisioneiras mostrar-se-ão gratas para aquele que lhes obtém o livramento do seu cárcere ou ao menos algum alívio nas suas penas. Sufraguemos, pois, constantemente as almas do purgatório, particularmente neste mês e neste dia consagrados à sua memória.

I. A devoção às almas do purgatório, que consiste em recomendá-las a Deus para que lhes alivie as grandes penas que padecem e as chame em breve para a sua glória, é muito agradável ao Senhor e utilíssima ao que a pratica. Sim, porque Jesus Cristo ama imensamente essas almas; e posto que a sua justiça inexorável o constranja, por assim dizer, a mostrar-se para com elas Juiz severo, e exigir que sejam limpas de toda a mancha antes de serem admitidas ao céu, no qual não entrará coisa alguma contaminada — Non intrabit aliquod coinquinatum (1) —, não deixa isso, todavia, de ser um estado de constrangimento.

Jesus suspira pelo momento em que poderá apertar contra o peito as suas santas esposas e coroá-las rainhas do seu reino bem-aventurado. É este um dos motivos pelos quais estabeleceu a comunicação dos santos, quer dizer uma comunicação mútua de bens entre nós e as Igrejas, triunfante e padecente. Além disso, impõe-nos Deus o preceito de praticarmos o bem para com os defuntos:

Mortuo non prohibeas gratiam (2) — “Não impidas que a liberalidade se estenda aos mortos”

As santas prisioneiras do purgatório serão gratas àquele que lhes obtém o livramento daquele cárcere, ou ao menos algum alívio das penas e nunca mais se esquecerão daquele que por elas intercedeu. Piamente se pode crer que Deus lhes revele as nossas orações, a fim de que elas orem também por nós. Verdade é que as almas do purgatório não podem rezar para si mesmas, porque ali se acham como condenadas, que satisfazem pelas suas culpas; todavia porque são mui queridas de Deus, podem orar por nós e obter-nos muitas graças.

Quando Santa Catarina de Bolonha desejava obter alguma graça, recorria às almas do purgatório, e logo se via atendida. Declarou que por intermédio dessas almas alcançou diversas graças que não tinha alcançado por intermédio dos santos. São inúmeras as graças que os devotos afirmam terem obtido pela intercessão das santas almas do purgatório.

II. Se as almas do purgatório já se mostram agradecidas aos seus devotos, mesmo quando ainda estão penando naquele cárcere; sê-lo-ão muito mais depois de entradas na glória celeste. Alcançar-lhes-ão os favores mais assinalados, e especialmente a salvação eterna. Tenho por certo que uma alma, livre do purgatório pelos sufrágios de algum devoto, uma vez entrada no céu, não deixará de dizer a Deus:

“Senhor, não permitais que se perca aquele que me livrou do cárcere do purgatório e me fez entrar mais a depressa na alegria do vosso Reino”

Avivemos, pois, a nossa devoção para com essas santas prisioneiras. Sobretudo no dia de hoje, em que a Igreja celebra a sua comemoração, apliquemos-lhes todas as nossas orações. No correr do mês de novembro, que a devoção dos fiéis lhes consagrou, ofereçamos em seu sufrágio alguma esmola, algum jejum ou qualquer outra mortificação. Para o mesmo fim, frequentemos os santos sacramentos e façamos algumas vezes a Via Sacra. Mas sobretudo ouçamos por elas, o mais possível, a santa missa, e, se o permitir a nossa condição, mandemos celebrar alguma missa, que é o sufrágio mais proveitoso às almas. Afirma São Jerônimo que “cada missa devotamente celebrada faz sair várias almas do purgatório”, e em outra parte:

“As almas que penam no purgatório, pelas quais o sacerdote ora durante a celebração da missa, não sentem as penas enquanto durar a celebração”.

Meu amabilíssimo Jesus, “Deus Criador e Redentor de todos os fiéis, concedei às almas dos vossos servos e servas a remissão de todos os seus pecados, para conseguirem com pias súplicas a indulgência que sempre desejaram.Ó Senhor, dai-lhes o descanso eterno e a luz perpétua lhes resplandeça” (3). Peço-vos também esta graça, ó Maria, grande Mãe de Deus e Mãe daquelas almas que padecem tanto. Almas benditas, roguei por vós e sempre por vós rogarei; mas já que sois tão queridas de Deus e estais certas de que não o podeis mais perder, rogai por mim, miserável, que estou ainda em perigo de me condenar e de perder a Deus para sempre.

Referências: (1) Ap 21, 27. (2) Eclo 7, 37. (3) Or. festi.

(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo III: Desde a Duodécima semana depois de Pentecostes até ao fim do ano Eclesiástico. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 387-390)

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O servo desumano e o perdão das injúrias

O servo desumano e o perdão das injúrias

21º Domingo depois de Pentecostes

Sic et Pater meus coelestis faciet vobis, si non remiseritis unusquisque fratri suo de cordibus vestris – “Assim vos tratará meu Pai celestial, se do íntimo dos vossos corações não perdoardes cada um a seu irmão” (Mt 18, 35)

Sumário. O servo descaridoso, a quem o dono perdoou muito e não quis apiedar-se do companheiro que lhe devia pouco, é uma imagem viva daqueles cristãos que não querem perdoar a seu inimigo. Meu irmão, não te creio culpado de tamanho delito; mas considera bem, não sejas do número dos que julgam com severidade os defeitos dos outros e exigem tolerância para os defeitos próprios e talvez maiores. Sendo assim, não tardes em emendar-te; senão, serás julgado com o mesmo rigor e condenado pelo Pai celestial.

I. No evangelho de hoje, Jesus Cristo compara o reino dos céus a um rei que quis tomar contas aos seus servos. E, “tendo começado a tomar as contas, foi-lhe apresentado um que lhe devia dez mil talentos. Como não tivesse com que pagar, mandou o seu senhor que o vendessem a ele e a sua mulher e a seus filhos, e tudo quanto possuía, para com isto ser pago. O servo, porém, lançando-se-lhe aos pés, o implorava dizendo: Tem paciência comigo, que eu te pagarei tudo. Compadecido então desse servo, o senhor deixou-o em liberdade, e lhe perdoou sua dívida. — Mas tendo saído este servo, encontrou-se com um de seus companheiros que lhe devia cem dinheiros; e, pondo-lhe as mãos, sufocava-o dizendo: Paga-me o que deves. E o companheiro, prostrando-se-lhe aos pés, lhe implorava, dizendo: Tem paciência comigo, que te pagarei tudo. Mas ele não quis; e fez metê-lo em prisão até pagar a dívida: Misit eum in carcerem, done redderet debitum.

Meu irmão, ao ouvir tamanha crueldade, talvez nunca sucedida, sem dúvida te sentes comovido. Quantos há, porém, que se comovem com a parábola e tropeçam na realidade! — Com efeito, Jesus Cristo (figurado pelo rei) mostra-se no tribunal da penitência tão misericordioso para com os cristãos, que basta um ato de contrição para lhes serem perdoadas todas as culpas, representadas pelo débito enorme de dez mil talentos. Ao contrário, os cristãos, (figurados pelo servo descaridoso) são tão exigentes, que, apesar do preceito de Deus, se recusam a perdoar ao próximo as ofensas recebidas, simbolizadas na pequena quantia de cem dinheiros.

Não te quero julgar réu de tamanha desumanidade. Examina, porém, se não és porventura do número daqueles que, deixando-se dominar pela ira, querem que para com eles se use de paciência, sem que eles a tenham de praticar para com os outros; isto é, julgam com rigor os pequenos defeitos dos outros, e exigem condescendência a respeito dos próprios defeitos que são muito maiores.

II. Coisa assombrosa! Diz o Eclesiástico: O homem, um bicho da terra guarda rancor e quer vingar-se de um seu irmão; e depois atreve-se a implorar a misericórdia de Deus. Quem poderá interceder para obter o perdão dos pecados desse temerário: Quis exorabit pro delictis illius? (1) Talvez haverá muitos que rogarão ao Senhor julgue sem misericórdia a quem foi misericordioso (2). — É o que parece insinuar Jesus Cristo, quando, continuando a parábola do servo impiedoso, acrescenta: “Os outros servos, porém, seus companheiros, vendo o que se passava, sentiram-no fortemente, e foram dar parte a seu senhor de tudo o que tinha acontecido. Então seu senhor o chamou, e lhe disse: Servo mau, toda a dívida te perdoei, porque me rogaste. Pois, não devias também compadecer-te do teu companheiro, como eu me compadeci de ti? Indignado, entregou-o o seu senhor aos verdugos, até pagar tudo que devia. Assim vos tratará meu Pai celestial, se do íntimo dos vossos corações não perdoardes cada um a seu irmão.”

Ó Jesus, meu divino Redentor, visto que por palavras e por exemplos me ensinastes a amar os seus inimigos, a fazer bem aos que me odeiam, a rogar aos que me perseguem e caluniam (3): eis que agora, prostrado na vossa presença, resolvo seguir sempre, e em todas as coisas, esses ensinos santíssimos. Sim, meu Jesus, por amor de Vós perdoo a quem me haja ofendido, e peço-Vos que também lhe perdoeis. Dai-lhe prosperidade nas empresas, aumentai-lhe as riquezas, cumpri-lhe os desejos, e sobretudo inspirai-lhe no coração sentimentos de caridade e de paz, a fim de que, extinta toda discórdia, possamos unanimemente servi-Vos neste mundo e gozar de vossa presença no outro.

Perdoai-me, pois, as minhas dívidas, assim como eu perdoo aos meus devedores, e “guardai-me com piedade contínua, para que, sob a vossa proteção, fique eu livre de todas as adversidades, e, para glória de vosso nome, seja sempre fervoroso no exercício das boas obras.” † Doce coração de Maria, sede minha salvação.

Referências:

(1) Eclo 28, 5 (2) Tg 2, 13 (3) Mt 5, 44

(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo III: Desde a Décima Segunda Semana depois de Pentecostes até o fim do ano eclesiástico. Friburgo: Herder & Cia, 1922, p. 188-191)

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