
Santo Afonso, modelo de Oração
Devoção a Santo Afonso como modelo das Virtudes Fundamentais. Mês de Novembro
Multum valet deprecatio iusti assidua — “A oração perseverante do justo é muito valiosa” (Tg 5, 16)
Sumário. A chave dos tesouros celestiais é a oração, e sem a oração a perseverança na graça de Deus e a salvação são impossíveis. Eis porque Santo Afonso, em todo o correr da sua vida, nunca deixou de praticar este santo exercício, mesmo no meio da aridez e das desolações. Zeloso, como era, pela salvação do próximo, fez-se o Apóstolo da oração. Tu, meu irmão, glorias-te de ser devoto, e talvez filho, do santo Doutor; mas como é que imitas os seus exemplos ? Ao menos de hoje por diante sê mais diligente em fazer a tua oração no tempo mar-cado. Sendo diretor de almas, inculca também aos outros o uso deste grande meio da oração.
I. A chave dos tesouros celestes é a oração; e, excetuando as primeiras graças, o Senhor de ordinário não concede as outras senão por meio dela. De modo que, quando Deus quer fazer grandes coisas em alguém, predispõe-no concedendo-lhe o dom sublime da oração. Não é portanto de admirar que, tendo o Senhor destinado a Afonso a ser tão grande luminar da Igreja, lhe tenha dado, ao mesmo tempo, tão excelente espírito de oração, que disso o fez perfeito modelo.
Desde criança começou o santo a dar provas deste espírito; porquanto, prevenido pela graça e estimulado pelos conselhos e exemplos de sua egrégia mãe, desde então a sua conversação estava no céu, e as suas orações, qual colunazinha de fumo, subiam ao céu até o trono de Deus e alegravam o Coração divino com seu suavíssimo odor. Numa palavra, ainda quando jovem cavalheiro era conhecido e admirado por toda a cidade de Nápoles, não menos pelos seus talentos do que pela sua permanência longa, imóvel e extática diante do Santíssimo Sacramento, exposto à veneração pública.
Impossível é descrever os progressos que o santo fez, quando foi ordenado sacerdote e constituído pastor das almas. Basta dizer que, pelo grande meio da oração, se tornara todo de Deus, de tal forma que, inebriado pelo amor divino, não sabia falar nem pensar senão no objeto do seu amor e só com Ele conversava. Não se pense, porém, que Afonso não tenha sofrido aridez e desolação. Ao contrário, pela permissão divina, especialmente nos últimos anos da sua vida, a sua desolação espiritual chegou a ponto de o santo se ter quase por re-provado. Nunca, porém, deixou, nem mesmo interrompeu as suas orações, sabendo que, feitas em tal estado, são mais agra-dáveis a Deus e mais proveitosas à alma. Que confusão para nós, que não sabemos rezar sem consolações sensíveis. É isto sinal de que temos mais em mira a nossa própria satisfação do que a de Deus.
II. Convencido, como Afonso estava, de que a oração é absolutamente indispensável, quer para obter a graça de conversão, quer para alcançar a perseverança no bem, quer para progredir na virtude; zeloso também, como era, pela salvação das almas, não se contentou de ele mesmo praticar a oração; mas, por palavras e escritos, inculcou-a também aos outros. Com este fim compôs um livrinho intitulado: Do grande meio da oração; e o santo o tinha em tão alta estima, que o julgava o mais útil de todos os livros por ele editados. “Não o posso”, dizia, “mas, se me fosse possível, quisera imprimir tantos exemplares deste livrinho, quantos são os fiéis na terra, e dá-lo de presente a cada um”.
Exortava também os sacerdotes, seus jurisdicionados, e em particular os missionários, seus filhos, que no confessionário e no púlpito nunca deixassem de inculcar o uso da oração. Mais: não satisfeito com isso, compôs centenas de meditações, todas cheias de afetos e orações. E desejando que to-dos as lessem, escreveu estas palavras:
“Recomendo que, para a meditação, façais, em regra geral, uso dos meus livros. Digo isto, não para elogiar os meus pobres escritos, mas porque as meditações por mim compostas são cheias de afetos piedosos e o que é mais importante de santas orações, o que não vejo geralmente nos outros livros”.
Portanto, meu irmão, não podes fazer coisa mais agradável ao santo Doutor, nem mais proveitosa a ti mesmo e ao próximo, do que familiarizar-te com as suas obras ascéticas e recomendar esta leitura também aos outros. Entretanto, aqui aos pés de Jesus Cristo, examina-te sobre como fazes as tuas orações, e toma a resolução de imitar no futuro os exemplos sublimes de teu santo pai. E para obteres a força necessária, recomenda-te a Deus pela intercessão de Maria Santíssima e mesmo pelos merecimentos de Santo Afonso.
(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo III: Desde a duodécima semana depois de Pentecostes até ao fim do ano Eclesiástico. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 430-432)
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Suspiros pela Pátria Celeste
Sitivit anima mea ad Deum fortem vivum: quando veniam, et apparebo ante faciem Dei — “A minha alma está ardendo de sede pelo Deus forte e vivo; quando virei e aparecerei diante da face de Deus?” (Sl 41, 3)
I. Feliz daquele que se salva e, deixando este lugar de desterro, entra na Jerusalém celeste a gozar o dia que será sempre dia radiante; a ver-se livre de toda a angústia e de todo temor de não chegar àquela felicidade imensa! Jacó dizia:
Dies peregrinationis meae centum triginta annorum sunt, parvi et Mali (1) — “Os dias da minha peregrinação são cento e trinta anos, poucos e trabalhosos”
É o que nós, infelizes peregrinos, também devemos dizer, pois que estamos neste mundo oprimidos pelos sofrimentos do nosso desterro, atribulados pelas misérias e sobretudo pelos perigos da nossa eterna salvação. De tudo isto devemos concluir que esta terra não é a nossa pátria, mas um lugar de desterro, no qual Deus nos colocou, para que pelo sofrimento mereçamos a dita de entrarmos um dia na pátria bem-aventurada.
Vivendo assim desapegados do mundo, devemos sempre suspirar pelo céu, dizendo:
“Quando virei e aparecerei diante da face de Deus?”
Quando, Senhor, me verei livre de tantas angústias, e pensarei somente em vos amar e cantar os vossos louvores? Quando me sereis tudo em todas as coisas? Quando gozarei dessa paz sólida, isenta de aflições e de todo o perigo de me perder? Ó meu Deus, quando me verei todo absorto em vós, contemplando a vossa beleza infinita, face a face e sem véu? Quando enfim, Criador meu, quando terei a felicidade de Vos possuir de tal modo que eu possa dizer: Meu Deus, não tenho mais receio de Vos perder?
Meu Senhor, enquanto me virdes retido neste desterro e atribulado neste país inimigo, onde estou em guerras contínuas, socorrei-me com as vossas graças e consolai-me na minha penosa peregrinação. Não há nada neste mundo que me possa dar a paz e contentar-me; mas sem o vosso socorro, temo que os prazeres terrestres e as minhas propensões ilícitas me arrastem a algum precipício.
Vendo-me desterrado neste vale de lágrimas, quisera ao menos pensar sempre em Vós, meu Deus, e folgar com a vossa felicidade infinita; mas os desejos desordenados dos meus sentidos produzem tanto ruído em mim, e me perturbam tanto! Quisera empregar todas as faculdades da minha alma em Vos amar e render ações de graças; mas a carne me solicita para o gozo dos prazeres terrenos. Pelo que me vejo obrigado a clamar com São Paulo:
“Infeliz de mim, quem me livrará deste corpo de morte?” (2)
Tenho de lutar sem cessar, não somente com os meus inimigos de fora, mas ainda comigo mesmo, a tal ponto que “me sinto cansado e sou pesado a mim mesmo” (3).
II. Quem então me livrará deste corpo de morte, isto é, do perigo de cair no pecado, perigo que por si só é para mim uma morte contínua, tormento que não terminará senão com o meu último suspiro? Deus, ne elongeris a me; Deus meus, in auxilium meum respice (4). Meu Deus, não Vos separeis de mim, porque se Vos separais, tenho medo de Vos ofender; antes ficai bem perto de mim pelo vosso poderoso socorro, isto é, socorrei-me sempre, a fim de que possa resistir aos assaltos dos meus inimigos. Vosso Profeta me assegura que estais perto daqueles que têm o coração aflito: Iuxta est Dominus iis, qui tribulato sunt corde (5). Estai então continuamente ao meu lado, ó amadíssimo Senhor meu, e dai-me a paciência de que preciso para triunfar de tantos tédios que me acabrunham.
Quantas vezes me ponho em oração e pensamentos importunos me perturbam e distraem com mil futilidades! Dai-me força para os desviar, quando me quero entreter convosco, e para crucificar todas as más propensões que me impedem de me unir a Vós. Tirai de mim, eu Vo-lo suplico, a grande repugnância que sinto para abraçar em paz tudo o que não lisonjeia o meu amor próprio.
Ó morada do meu Deus, preparada para aqueles que o amam, desde esta miserável terra suspiro sem cessar por ti. Erravi sicut ovis quae periit; quaere servum tuum (6). Amadíssimo Pastor, descido do céu para salvar as almas perdidas, aqui estou eu, uma dessas ovelhas que tiveram a desgraça de Vos voltar as costas e perder-se. Senhor, buscai-me; não me abandoneis, como mereço; buscai-me e aliviai-me; tomai-me e ponde-me sobre os vossos ombros, para que não possa separar-me mais de Vós.
Ao mesmo tempo que aspiro ao céu, o inimigo da minha alma aterra-me pela lembrança das minhas faltas; mas, ó meu Jesus crucificado, a vossa vista me tranquiliza e faz esperar ir um dia amar-Vos, sem véu, no vosso feliz Reino. Maria, augusta Rainha do paraíso, continuai a ser a minha advogada. Pelo sangue de Jesus Cristo e pela vossa intercessão, tenho a firme confiança de me salvar.
Referências: (1) Gn 47, 9. (2) Rm 7, 24. (3) Jó 7, 20. (4) Sl 70, 12. (5) Sl 33, 19. (6) Sl 118, 176.
(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo III: Desde a Duodécima semana depois de Pentecostes até ao fim do ano Eclesiástico. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 385-387)
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Festa de Todos os Santos
Vidi turbam magnam, quam dinumerare nemo poterat, ex omnibus gentibus, et tribubus et populis et linguis — “Vi uma grande multidão, que ninguém poderia contar, de todas as nações, tribos, povos e línguas” (Ap 7, 9)
Sumário. São três os fins principais que a Igreja tem em mira mandando celebrar a solenidade de todos os santos. Quer em primeiro lugar que honremos os seus filhos que já triunfam no céu, e especialmente àqueles que no correr do ano não tiveram uma festa própria. Para que as nossas homenagens nos aproveitem, ela quer em segundo lugar, que nos excitemos à prática do bem, pela esperança do céu. Finalmente quer a nossa boa Mãe aumentar a nossa confiança, dando-nos a entender que esses nossos bem-aventurados irmãos se empenham para nos obter os favores divinos. Que fins tão nobres e consoladores!
I. Considera os fins nobilíssimos que a Igreja tem em mira, fazendo-nos celebrar hoje a solenidade de todos os santos. Quer em primeiro lugar que honremos os seus filhos, que já estão de posse do céu em companhia do Esposo divino, e especialmente àqueles que no correr do ano não tiveram uma festa própria. Ao mesmo tempo quer que em nome dos santos demos graças a Deus.
Desejando que estas homenagens nos sejam proveitosas, quer a Igreja que nos sirvam para elevarmos o nosso espírito ao céu e nos excitemos à prática das virtudes pela contemplação dos bens eternos que lá em cima nos esperam, se perseverarmos. Tanto mais que entre os milhões de santos que hoje veneramos, há muitos de nossa idade e condição, e talvez, como nós, grandes pecadores. Parece que a Igreja nos diz hoje com Santo Agostinho:
“Não poderás tu fazer o que puderam fazer eles?” — Tu non poteris quod isti et istae?
Finalmente, com a solenidade presente, a Igreja quer aumentar a nossa confiança, recordando-nos o dogma da comunicação dos santos, e ensinando-nos que todos esses nossos bem-aventurados irmãos querem empenhar a nosso proveito todo o poder de que gozam junto do Rei da glória. Ó, que verdade tão consoladora! Os santos do céu, lá no meio do seu triunfo, não se esquecem das nossas misérias, e oferecem-nos o seu auxílio. No dizer de São Bernardo, já que os santos nada mais têm que pedir para si mesmos, porque são plenamente felizes, têm um vivo desejo de interceder por nós, e se não nos tornarmos indignos pelas nossas faltas, obtêm-nos de Deus tudo o que querem. Que verdade tão consoladora! Que fins sublimes da parte da Igreja na instituição da festa de todos os santos!
II. Entrando nas vistas sublimes de nossa Madre, a santa Igreja, elevemos hoje os nossos corações ao céu, onde reina um Deus onipotente, todo solícito em beatificar as almas, suas queridas filhas. Contemplemos como esses bem-aventurados gozam ali delícias tais, que a linguagem humana não pode exprimir. Alegremo-nos com eles, rendamos em seu nome graças a Deus, e tomemos ânimo ao pensar que para nós também terminarão um dia os temores, as doenças, as perseguições, todas as cruzes; mais ainda, se nos viermos a salvar, tudo isso será para nós motivo de júbilo e glória no céu.
Animados, pois, pelo desejo que os santos têm de nos ajudar, lancemo-nos em espírito aos seus pés e exponhamos-lhes confiadamente as nossas necessidades. Não nos esqueçamos também de rogar a eles pelos pobres pecadores e pelo livramento das almas do purgatório, a fim de que amanhã, no dia da sua comemoração, possam em grande número ir a gozar com os santos no céu.
Ó santos e santas de Deus, ó bem-aventurados espíritos angélicos, que estais abismados nos resplandores da glória divina! Eu, vosso humilde servo, vos saúdo deste vale de lágrimas, venero-vos com amor e dou graças ao Senhor por vos ter sublimado a tão alta beatitude. Mas vós, lá dos vossos tronos excelsos, dignai-vos volver a mim vossos olhos piedosos. Vede os perigos que corro de me perder eternamente. Pelo amor de Deus, que é a vossa grande recompensa, obtende-me a graça de seguir fielmente a vossas pegadas, de imitar corajosamente os vossos exemplos, de copiar em mim as vossas virtudes; a fim de que, de admirador que sou, chegue a ser um dia o vosso companheiro na glória imortal.
“Onipotente e eterno Deus, que me concedeis a graça de venerar em uma só festividade os méritos de todos os vossos santos, concedei-me também que, multiplicados os meus intercessores, obtenha a plenitude das vossas misericórdias” (1). Fazei-o pelo amor de Jesus e Maria.
Referência: (1) Or. festi.
(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo III: Desde a Duodécima semana depois de Pentecostes até ao fim do ano Eclesiástico. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 382-385)
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Grandeza da Misericórdia de Maria Santíssima
Transite ad me omnes qui concupiscitis me, et a generationibus meis implemini – “Passai-vos a mim todos os que me cobiçais, enchei-vos dos meus frutos” (Eclo 24, 26)
Sumário. Quando a Santíssima Virgem vivia ainda na terra, já não podia ver algum necessitado sem socorrê-lo. Quanto mais misericordiosa não será agora que está no céu, de onde melhor vê as nossas misérias e nos ama com coração de Mãe! Não nos descuidemos portanto de recorrer a uma Mãe tão boa em todas as nossas necessidades e de pôr nela toda a nossa esperança. Mas, ao mesmo tempo, deixemos de lhe amargurar o coração pela nossa tibieza e pelos nossos pecados.
I. Considera que Maria é uma advogada tão piedosa, que não só ajuda ao que a ela recorre, mas ela mesma vai à procura dos miseráveis para os defender e salvar. Eis como ela convida a todos, animando-nos a esperarmos todos os bens, se a ela recorrermos: “Passai-vos a mim todos e enchei-vos dos meus frutos.” — “O demônio”, diz São Pedro, “vai sempre ao redor de nós, buscando quem possa tragar”; mas nossa divina Mãe, acrescenta Bernardino de Bustis, vai sempre ao redor de nós buscando a quem possa salvar: Circuit, quaerens quem salvet.
Maria é Mãe de misericórdia porque a piedade que tem de nós faz que de nós se compadeça e procure sempre salvar-nos; assim com uma mãe não pode ver seus filhos em perigo de se perderem e deixar de os ajudar. E quem, depois de Jesus Cristo, pergunta São Germano, interessa-se mais pela nossa salvação do que vós, ó Mãe de misericórdia? — Ela certamente nos ajudará quando a invocarmos e nunca jamais foi alguém por ela desamparado. Isso, porém, não basta a seu Coração piedoso. Como diz Ricardo de São Victor, ela previne as nossas súplicas e procura ajudar-nos antes que nós a invoquemos. Apenas vê alguma miséria, socorre logo e não pode ver algum necessitado sem o ajudar.
A Santíssima Virgem assim praticava desde a sua vida terrestre, como sabemos pelo fato sucedido nas bodas de Caná na Galileia. Vindo a faltar o vinho, ela não esperou até ser rogada; mas, compadecendo-se da aflição e do pejo daqueles esposos, pediu ao Filho que os consolasse dizendo: Vinum non habent (1) — “Eles não têm vinho”; e obteve que seu Filho, por um milagre, convertesse a água em vinho. Pois bem, diz São Boaventura, se foi tão grande a piedade de Maria para com todos quando estava ainda em terra, muito maior sem dúvida será a sua piedade para nos socorrer, agora que está no céu, onde conhece melhor as nossas misérias e mais de nós se compadece.
II. Ah! Não nos descuidemos jamais de recorrer à nossa divina Mãe em todas as nossas necessidades, pois que sempre será achada com as mãos repletas de misericórdia; sempre disposta a ajudar ao que a invoque, e tão desejosa de nos fazer bem e de nos ver salvos, que ela mais deseja conceder-nos graças do que nós desejemos recebê-las. São Boaventura chega a dizer que a Bem-aventurada Virgem se julga ofendida não só pelos que a injuriam positivamente, mas também por aqueles que lhe não pedem graças. Recorramos, pois, sempre a esta Mãe de misericórdia e digamos-lhe o que dizia o mesmo Santo: In te, Domina, speravi, non confundar in aeternum — “Em vós, Senhora, esperei, não permitais que eu seja confundido para sempre”. Mas ao mesmo tempo deixemos de lhe amargurar o Coração pela nossa tibieza e pelos nossos pecados.
Ó Rainha do céu, Maria Santíssima, eu, que era outrora escravo do demônio, consagro-me agora e sempre a vosso serviço e ofereço-me a vós, para vos honrar e servir pelo restante da minha vida. Recebei-me, então para vosso servo, e não me rejeiteis como o merecera. Ó minha Mãe, em vós hei posto todas as minhas esperanças. Eu bendigo e agradeço a Deus, que por sua misericórdia me deu esta confiança em vós. Verdade é que, no passado, caí desgraçadamente no pecado; mas tenho confiança de haver obtido perdão pelos merecimentos de Jesus e vossas orações.
Entretanto, isto não basta, ó minha Mãe; um pensamento me aflige: posso de novo perder a graça de Deus. Os perigos são contínuos, os inimigos não dormem, novas tentações virão assaltar-me. Ah! Soberana minha, protegei-me, socorrei-me nos assaltos do inferno, e não permitais me aconteça ainda no futuro cometer pecado e ofender a vosso divino Filho Jesus. Não, não perca eu de novo a minha alma, o paraíso e Deus. Peço-vos esta graça, ó Maria, não m’a recuseis, antes alcançai-m’a pela vossa intercessão. Assim espero.
Referências:
(1) Jo 2, 3
(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo III: Desde a Décima Segunda Semana depois de Pentecostes até o fim do ano eclesiástico. Friburgo: Herder & Cia, 1922, p. 186-188)
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