Meditação de 26 de maio

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Festa de São Filipe Neri

Festa de São Filipe Neri

Suscitabo mihi sacerdotem fidelem, qui juxta cor meum et animam meam faciet — “Eu suscitarei para mim um sacerdote fiel que fará tudo segundo o meu coração e a minha alma” (1 Sm 2, 35)

Sumário. São muitas as virtudes que adornaram a vida deste santo, mas a que mais o distinguiu e dele fez um sacerdote segundo o coração divino, foi o seu amor a Deus e ao próximo. Para o remunerar, também à vista dos homens, Deus o fez pai de uma família santa e numerosa, e o fez morrer vítima de amor, na festa do Corpo de Deus. Regozijemo-nos com São Filipe; agradeçamos por ele a Deus e, olhando em seguida para o estado da nossa alma, envergonhemo-nos da nossa tibieza.

I. Considera as virtudes que adornaram a vida deste grande santo e fizeram dele um sacerdote fiel segundo o Coração de Deus. Sabendo quanto a oração nos é necessária e quanto nos é recomendada nas Sagradas Escrituras, o santo fez dela a sua ocupação principal. Depois de visitar, durante o dia, as basílicas de Roma, ia à tarde para as catacumbas, onde, à imitação de Jesus Cristo, passava a noite em oração a Deus: Erat pernoctans in oratione Dei (1). Foi devotíssimo à Bem-aventurada Virgem, que ele chamava as suas delícias; e exortando os outros à mesma devoção, dizia: Meus filhos, se desejais obter a santa perseverança, sede devotos à Virgem.

Dessemelhante a tantos outros, que, escravos de seu corpo, o acariciam e tratam delicadamente, Filipe, ao contrário, o considerava como escravo do espírito, castigava-o e pelas mortificações o reduzia à servidão. Persuadido, além disso, de que a mortificação externa de nada vale sem a interna, aplicou-se com todo o empenho a reprimir as suas paixões. Em particular, no que diz respeito ao amor próprio, que é o nosso inimigo pior, é impossível dizer de que santos estratagemas usava a fim de ocultar as suas virtudes e fazer-se desprezar por todos.

Tão desconfiado estava de si mesmo, que todos os dias dizia a Deus: “Senhor, não Vos fieis em mim, que sou um perjuro. Senhor, segurai-me pela vossa mão, sem o que cometerei os maiores crimes”. Na sua profunda humildade recusou diversas vezes as dignidades eclesiásticas, e, julgando-se indigno do sacerdócio, não se fez ordenar senão por obediência. Regozija-te com o santo; mas examinando ao mesmo tempo a tua consciência, pergunta a ti mesmo: Como é que pratico a oração? Qual é a minha devoção à Nossa Senhora? Sou, à imitação de São Filipe, amante da mortificação e da humildade, inimigo da moleza e da ambição?

II. A virtude principal que fez de São Filipe um sacerdote fiel segundo o coração de Deus, foi o seu amor a Deus e ao próximo. Com efeito, ele pode dizer com o Apóstolo: Caritas Christi urget nos (2) — “A caridade de Cristo nos constrange”. O amor foi o princípio de todas as ações do santo e inspirou-lhe mesmo o desejo de ir para as índias a fim de pregar ali a fé e derramar o seu sangue por Jesus Cristo. Não lhe sendo isto permitido, quis o santo compensar-se pelo apostolado exercido em Roma. Ali o seu amor aumentou de tal modo, que o coração não pode conter-se dentro dos limites marcados pela natureza e foi preciso que Deus por um milagre lhe alargasse o peito, rompendo duas costelas.

Deus, porém, recompensou abundantemente o entranhado amor do santo, tanto nesta vida como na outra. Fê-lo participar do seu poder e da sua glória; deu-lhe uma santa e numerosa prole espiritual e o fez morrer vítima de amor na festa do Corpo de Deus. Se, à imitação do santo, queres morrer morte doce e suave, e ter com ele parte na glória, escolhe-o hoje para o teu protetor especial e roga-lhe por essas intenções; ao mesmo tempo, envergonhado da tua tibieza, resolve-te a imitar as exímias virtudes de São Filipe.

Ó glorioso São Filipe, que recebestes de Deus o dom singular de consolar e ajudar os vossos filhos espirituais na hora da sua morte, sede também o meu advogado e pai, quando me achar naquela hora tremenda. Alcançai-me que então o demônio não me vença, a tentação não me oprima e o temor não me desanime; mas que, fortalecido por uma fé viva, uma esperança firme e um amor sincero, suporte com paciência e perseverança os últimos combates; de forma que, cheio de confiança na misericórdia do Senhor, nos merecimentos infinitos de Jesus Cristo e na proteção de Maria Santíssima, seja digno de morrer da morte dos justos, e ir gozar da glória bem-aventurada do paraíso, a fim de amar e gozar a Deus para sempre juntamente convosco e com todos os santos (3).

“Ó Deus, que sublimaste São Filipe à glória dos Bem-aventurados, concedei-me que, celebrando com alegria a sua festa, me aproveite ao mesmo tempo dos exemplos das suas virtudes” (4). Fazei-o pelo amor de Jesus Cristo e pela intercessão de Maria Santíssima.

Referências: (1) Lc 6, 12. (2) 2 Cor 5, 14. (3) Indulgência de 100 dias. (4) Or. festi.

(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo II: Desde o Domingo da Páscoa até a Undécima semana depois de Pentecostes inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 333-336)

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Quem deseja a salvação, deve temer a condenação

Quem deseja a salvação, deve temer a condenação

Cum metu et tremore vestram salutem operamiui – “Trabalhai em vossa salvação com medo e tremor” (Fl 2, 12)

Sumário. Avisa-nos São Paulo que devemos trabalhar em nossa salvação não só com medo, mas com tremor, visto que se trata da eternidade. Se na hora da morte estivermos na graça de Deus, tudo estará seguro: seremos felizes para sempre. Se, ao contrário, a morte nos achar em pecado mortal, com que desespero confessaremos: Desviei-me do caminho e já não há remédio em toda a eternidade! Meu irmão, aproveitemo-nos do aviso. Quem sabe se esta meditação não é para mim o último convite… Quem sabe se não morreremos repentinamente!

I. São Paulo nos previne que devemos trabalhar em nossa salvação não só com medo, mas com tremor; porquanto quem não teme e treme pela sua salvação, não se salvará: Cum metu et tremore vestram salutem operamini. Um rei da Sicília, para fazer compreender a um simples cidadão o receio que o dominava no trono, o mandou sentar à mesa com uma espada suspensa por um fio delgado sobre a cabeça, de modo que, nesta terrível situação, mal podia comer um bocado. Coisa igual se dá conosco: todos nós estamos em semelhante perigo, pois que, de um instante para outro, pode cair sobre nós a espada da morte, da qual depende a nossa eterna salvação.

Trata-se da eternidade. Si ceciderit lignum ad austrum aut ad aquilonem, in quocumpque loco ceciderit, ibi erit (1) – “Se a árvore cair para a parte do sul ou para a do norte, em qualquer lugar onde cair, aí ficará”. Se na morte nos acharmos na graça de Deus, qual não será a alegria da alma, que então poderá dizer: “Tudo está seguro, já não posso mais perder a Deus, serei feliz para sempre!” Mas se a morte achar a alma em estado de pecado, com que desespero não exclamará: “Ergo erravimus! (2) Desviei-me do caminho e para a minha aberração já não há remédio em toda a eternidade!”

Foi este receio que fez o Bem-aventurado João de Ávila, apóstolo de Espanha, dizer quando lhe anunciaram a aproximação da morte: “Oxalá tivesse mais um pouco de tempo para me preparar para a morte!” Foi o mesmo temor que fez o Abade Agathon dizer, posto que morresse depois de longos anos de penitência:

“Que será feito de mim? Quem conhece os juízos de Deus?” Santo Arsênio tremia igualmente à vista da morte, e perguntando-lhe seus discípulos a causa, respondeu: “Meus filhos, este temor não é novo em mim, tive-o sem cessar durante toda a minha vida.”

Mais que ninguém tremia o santo homem Jó, quando exclamava:

Quid faciam, cum surrexerit ad iudicandum Deus? (3) – “Que farei, quando o Senhor se levantar para me julgar? E Quando me interrogar, que lhe responderei?”

E tu, meu irmão, que poderias responder a Jesus Cristo se ele te deixasse morrer neste instante e te chamasse perante o seu tribunal?

II. Meu irmão, quem sabe se a meditação que estás lendo, não é o último convite que Deus te faz? Preparemo-nos, portanto, quanto antes para a morte, afim de que não nos colha de improviso. Diz Santo Agostinho que Deus nos oculta o último dia da vida para que estejamos todos os dias preparados para morrer: Latet ultimus dies, ut observentur omnes dies. Ah, meu Deus, quem houve jamais que me tenha amado mais do que Vós? E a quem tenho eu mais desprezado e injuriado do que a Vós? Ó Sangue, ó Chagas de Jesus, Vós sois a minha esperança. Pai Eterno, não repareis nos meus pecados; olhai as chagas de Jesus Cristo, olhai vosso Filho querido, que morre de dor por amor de mim, e Vos pede que me perdoeis. Arrependo-me, ó meu Criador, de Vos ter ofendido, e sinto-o mais que qualquer outro mal. Vós me criastes para que Vos ame, e vivi como se me tivésseis criado para Vos ofender. Por amor de Jesus Cristo, perdoai-me e dai-me a graça de Vos amar. Outrora eu resistia à vossa vontade; mas agora não quero mais resistir; quero fazer tudo que me ordenardes.

Ordenais-me, ó Senhor, que deteste os ultrajes que Vos fiz; pois bem, detesto-os de todo o coração. Ordenais que tome a resolução de não Vos ofender mais; eis que resolvo antes perder mil vezes a vida do que a vossa graça. Ordenais que Vos ame de todo o coração; ah sim! De todo o coração Vos amo, e não quero amar senão a Vós; de hoje em diante sereis o meu único bem, o meu único amor. Peço-Vos, e de Vós espero obter, a santa perseverança. – Meu Pai, pelo amor de Jesus Cristo, fazei com que eu Vos seja fiel e Vos diga sempre com São Boaventura: Sois o meu bem-amado, o meu único amor: Unus est dilectus meus, unus amor meus. Não, não quero que a minha vida sirva para Vos dar desgosto; quero que me sirva somente para chorar as mágoas que Vos causei, e para Vos amar. – Maria, minha Mãe, vós rogais por todos os que se vos recomendam; rogai também por mim a Jesus.

Referências:

(1) Ecle 11, 3 (2) Sb 5, 6 (3) Jó 31, 14

(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo II: Desde o Domingo da Páscoa até a Undécima Semana depois de Pentecostes inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 94-96)

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