
Terna compaixão de Jesus Cristo para com os pecadores
Segunda Meditação para o 4º Domingo da Quaresma
Misereor super turbam – “Tenho pena deste povo” (Mc 8, 2)
Sumário. O nosso amantíssimo Redentor, movido de compaixão para com os pecadores, baixou do céu para salvá-los da morte eterna, à custa do seu sangue. Jesus Cristo declarou que Ele era aquele bom Pastor que tinha vindo à terra para dar vida a suas ovelhas. Que maior sinal de amor podia dar aos homens o Filho de Deus? Voltemo-nos com confiança para Jesus Cristo, se porventura o temos abandonado.
I. Diz-nos o Evangelho de hoje que achando-se Jesus num monte com os seus discípulos e uma multidão de povo que O acompanhava, compadeceu-se daquele povo faminto. Sabendo que um moço tinha cinco pães de cevada e dois peixes, tomou-os em suas mãos, e tendo dado graças, mandou distribuí-los. Todos comeram e encheram-se doze cestos com os pedaços que sobejaram. Fez o Senhor este milagre, movido da grande compaixão que teve de tantos pobres; mas muito maior é a compaixão que tem dos pobres de alma, os pecadores.
Movido o nosso amantíssimo Redentor da sua grande compaixão para com os homens que tristemente viviam sob a escravidão do pecado, baixou do céu à terra para salvá-los da morte eterna à custa do seu sangue. Por isso cantou Zacarias, pai de São João Batista: Per viscera misericordiae Dei nostri… visitavit nos oriens ex alto (1) — “Pelas entranhas misericordiosas de nosso Deus, visitou-nos o Sol nascido do alto”.
Jesus Cristo mesmo declarou depois, que Ele era aquele bom Pastor que tinha vindo à terra dar a salvação às suas ovelhas, que somos nós: Ego veni, ut vitam habeant et abundantius habeant (2) — “Eu vim para que as ovelhas tenham vida e a tenham em abundância”. Isso quer dizer que Jesus Cristo veio não só para nos fazer recuperar a vida perdida da graça, mas também para nos dar outra mais abundante e melhor do que a que perdemos pelo pecado.
São Leão diz que Jesus Cristo nos proporcionou maiores bens com a sua morte do que o demônio nos tinha trazido males por meio do pecado. Também o Apóstolo o deu claramente a entender por estas palavras: Quanto mais abundou o pecado, tanto mais superabundou a graça (3). Jesus Cristo mesmo disse que, embora bastasse uma gota do seu sangue, uma simples súplica sua para remir o mundo, não bastava porém para manifestar seu amor pelos homens. Eu sou o bom Pastor, diz Ele, e o bom Pastor sacrifica a sua vida pelas suas ovelhas (4).
II. Que maior sinal de amor podia dar aos homens o Filho de Deus, do que dar a vida por nós, que somos suas ovelhas?
Ó amor imenso de nosso Deus! — exclama São Bernardo, para perdoar aos servos, nem o Pai perdoou ao Filho, nem o Filho perdoou a Si mesmo, mas satisfez com a sua morte à divina justiça, pelos pecados que nós tínhamos cometido.
Com efeito, Jesus Cristo não baixou à terra para condenar os pecadores, mas para livrá-los do inferno, sempre que queiram emendar-se. E quando os vê obstinados na sua perdição, compadecendo-se deles, diz-lhes pelo Profeta: Quare moriemini domus Israel? (5) — “Porque haveis de morrer, ó filhos de Israel?” Como se dissesse: Porque quereis morrer e ir para o inferno, se eu desci do céu para vos livrar da morte com o meu sangue? E depois acrescenta, pela boca do mesmo Profeta: Nolo mortem morientis:… revertimini et vivite (6) — “Não quero a morte do que morre; voltai e vivei”.
Quando os apóstolos São Tiago e São João, indignados pela afronta que os habitantes de Samaria fizeram a seu Mestre por não O quererem receber, disseram a Jesus: Senhor, quereis que mandemos que chova fogo do céu para punir a esses temerários? Jesus, que estava cheio de doçura para com aqueles que O desprezavam, respondeu-lhes: Não sabeis de que espírito deveis estar animados. O Filho do Homem não veio para perder os homens, mas para os salvar (6).
Meu doce Jesus, que reconhecimento Vos devo! Graças aos méritos do vosso sangue, nutro confiança de estar na vossa amizade. Se até hoje os perdi muitas vezes, não quero mais perder-Vos para o futuro. Vós mereceis todo o meu amor; não quero mais viver separado de Vós. Mas, meu Jesus, conheceis a minha fraqueza; dai-me a graça de Vos ser fiel até à morte e de recorrer a Vós na tentação. — Santíssima Virgem Maria, assisti-me, pois que sois a Mãe da santa perseverança; em vós ponho toda a minha esperança.
Referências:
(1) Lc 1, 78 (2) Jo 10, 10 (3) Rm 5, 20 (4) Jo 10, 11 (5) Ez 18, 31 (6) Ez 18, 32 (7) Lc 9, 56
(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo I: Desde o Primeiro Domingo do Advento até a Semana Santa Inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 357-359)
Voltar ao calendário de meditações diárias
Produtos recomendados:
-
-
R$ 69,0035,00 -
R$ 49,0039,00
Compartilhe esta meditação:

A multidão faminta e as almas do purgatório
Primeira Meditação para o 4º Domingo da Quaresma
Unde ememus panes ut manducent hi? – “Onde compraremos pães para que estes comam?” (Jo 6, 5)
Sumário. A tenra compaixão que moveu o Senhor a multiplicar os pães para dar de comer à multidão que o seguia, deve mover-nos a socorrer as almas do purgatório, que são muito mais numerosas e muito mais famintas de seu alimento espiritual, que é Deus. O meio principal de que devemos usar para lhes levar socorro é a santíssima Eucaristia. Em sufrágio dessas almas, visitemos frequentemente a Jesus sacramentado; aproximemo-nos da mesa da comunhão, e, se não podemos mandar celebrar missas, ouçamos ao menos todas as que as nossas ocupações nos permitam ouvir.
I. Refere o Evangelho que, estando Jesus assentado sobre um monte, levantou os olhos, e viu ao redor de si uma multidão de quase cinco mil pessoas, que O seguiam, porque viam os milagres que fazia sobre os enfermos. Em seguida, sabendo que um moço tinha cinco pães de cevada e dois peixes, tomou-os em suas mãos, e, tendo dado graças, os mandou distribuir à multidão. Não somente houve o bastante para todos se fartarem, mas com os pedaços que sobejaram, os apóstolos encheram doze cestos. Eis aí o grande milagre que Jesus Cristo fez por compaixão de tantos pobres corporalmente.
Ora, é justo, ou para dizer melhor, é necessário que tenhamos compaixão das almas de outra multidão muito mais numerosa e incomparavelmente mais faminta do seu alimento espiritual: devemos compadecer-nos das almas benditas do purgatório. — Pobres almas! São muitas as penas que padecem naquele cárcere de tormentos; porém, acima de tudo aflige-as a privação da dulcíssima presença de Deus, cuja beleza infinita já conhecem. Não há na linguagem humana palavras apropriadas para exprimir qual seja esta pena; mas ainda que possuíssemos as palavras adequadas, faltar-nos-ia a capacidade de compreendê-las, preocupados como estamos com as coisas terrestres.
Mas a pena que a privação de Deus traz consigo é bem compreendida pelas pobres almas que a padecem. Por isso levantam a sua voz lamentosa e pedem-nos que lhes saciemos a fome inconcebível de contemplarem quanto antes o objeto de seu amor: Miseremini mei, saltem vos, amici mei, quia manus Domini tetigit me (1) — “Compadecei-vos de mim, ao menos vós, que sois meus amigos, porque a mão do Senhor me feriu”.
II. O milagre da multiplicação dos pães, assim como se conclui do Evangelho, foi feito para provar a presença verdadeira de Jesus na Eucaristia; e mesmo, segundo observavam os doutores, foi uma figura da Mesa eucarística. Eis, pois, o meio eficacíssimo de que, à imitação do Redentor, devemos lançar mão para saciarmos a fome das almas benditas do purgatório. — Visitemos muitas vezes o divino Sacramento, comunguemos com frequência; sobretudo mandemos celebrar em alívio das almas o sacrifício incruento da missa, ou ao menos ouçamos para sufragá-las todas as missas que pudermos. “Cada missa que se celebra”, diz São Jerônimo, “faz sair várias almas do purgatório”. E São Gregório acrescenta: “Quem assiste devotamente à missa, alivia as almas dos fiéis defuntos e contribui para lhes serem perdoados completamente os pecados”.
Pelo que uma pessoa muito devota às almas do purgatório, cada vez que ouvia tocar a entrada para uma missa, afigurava-se ver as almas no meio das chamas e ouvir os seus gritos lastimosos e angustiados. “Então”, assim dizia, “por urgentes que sejam as minhas ocupações, não posso deixar de assistir ao divino sacrifício, nem tenho coragem de lhes dizer: Esperai, porque hoje falta-me o tempo para vos ajudar”. — Façamos do mesmo modo, e fiquemos certos de que aquelas santas prisioneiras saberão mostrar-se agradecidas. Além disso, virá o tempo em que, estando nós também no purgatório, nos medirão a nós com a medida que nós tivermos medido aos outros (2).
Ó dulcíssimo Jesus, pela compaixão que mostrastes para com as multidões famintas que Vos acompanhavam, tende piedade das almas do purgatório. Volvei também para mim os vosso olhos piedosos, “e fazei, ó Deus todo-poderoso, que na aflição pelas minhas iniquidades, respire com a consolação de vossa graça”(3). † Doce Coração de Maria, sêde minha salvação.
Referências:
(1) Jó 19, 21 (2) Mt 7, 2 (3) Or. Dom. curr.
(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo I: Desde o Primeiro Domingo do Advento até a Semana Santa Inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 355-357)
Voltar ao calendário de meditações diárias
Compartilhe esta meditação: