
Festa de São Mateus, Apóstolo
Vidit hominem sedentem in telonio, Matthaeum nomine, et ait illi: Sequere me — “Jesus viu sentado no telônio um homem, chamado Mateus, e disse-lhe: Segue-me” (Mt 9, 9)
Sumário. Consideremos como este santo respondeu admiravelmente ao convite divino; pois, mal o convidou Jesus Cristo para o seguir, logo se levantou do telônio e o foi seguindo. E quantas dificuldades teve que vencer! Somos nós igualmente solícitos em obedecer ao convite de Deus? Há quanto tempo nos convida ele para sairmos da nossa tibieza, e lhe resistimos obstinadamente? Ah! Cuidemos que a nossa demora não nos leve finalmente a um sofrimento longo no purgatório, e quiçá, à perdição eterna, como sucedeu a tantos outros.
I. Considera como este santo respondeu admiravelmente ao divino convite. Não fez como aquele homem do Evangelho que, antes de seguir Jesus Cristo, pediu permissão para prestar os últimos ofícios a seu pai (1). Ainda menos se houve como aquele jovem que, ao ouvir que, para ser perfeito, devia vender tudo o que possuía e distribuir o produto entre os pobres, se foi embora triste: abiit tristis (2). São Mateus, porém, apenas o Senhor o convidara para o seguir, levantou-se logo do telônio e o foi seguindo.
E quantas dificuldades não devia generosamente vencer! Devia deixar, não só as redes e uma barca, como os demais apóstolos, mas haveres bastante avultados e um emprego muito lucrativo. Devia renunciar a si mesmo, fazer violência ao seu espírito, para crer no contrário do que via: às paixões, para abraçar aquilo que aborrecia; às próprias inclinações, renunciando a tudo que desejava. E tudo isto para que? Para ser discípulo de Jesus Cristo, na aparência tão pobre, desprezado e perseguido por toda a classe de pessoas. Ó! Quais e quantas dificuldades! Todavia, São Mateus soube num instante vencê-las todas:
Et surgens, secutus est eum — “Levantando-se, seguiu-o”.
Depois de te rejubilares com o santo, examina-te acerca da maneira como respondes aos convites divinos. Há talvez meses e anos que Jesus Cristo te está falando dentro do teu coração: Sequere me — “Segue-me”. Deixa, ó filho, o pecado, levanta-te da tua tibieza, imita os meus exemplos de humildade e mansidão; mas, tu, sempre obstinado, vais sempre protelando. Cuida, porém, que a tua demora não te leve afinal a longos sofrimentos no purgatório, e quiçá, à perdição eterna, como sucedeu a tantos outros. Reflete bem: que seria agora de São Mateus, se não tivesse obedecido logo ao convite divino?
II. Muitos começam bem, mas são poucos os que perseveram; pelo que são poucos os que se salvam. Do número destes poucos foi São Mateus, que seguiu Jesus Cristo, não só com prontidão e com grande generosidade, mas também com admirável constância; e tendo uma vez deixado o telônio, nunca mais a ele voltou. Não contente de ele mesmo amar a seu divino Mestre, empenhou todo o seu zelo para que por todos fosse amado. Para este fim foi até a Etiópia anunciar a palavra divina. E como a pregação oral não satisfizesse a imensidade dos seus desejos, quis pregar também pela palavra escrita, sendo assim o primeiro que por inspiração divina escreveu o santo Evangelho.
Finalmente, por defender a virgindade de uma nobre donzela que se tinha consagrado a Jesus Cristo, teve São Mateus a dita de terminar o seu apostolado pelo martírio, morrendo enquanto estava celebrando o sacrifício divino. Pelo que São Hipólito lhe dá o título de hóstia e vítima da virgindade e de grande protetor das virgens. Congratula-te de novo com o santo e dá graças a Deus por tê-lo assim glorificado. Voltando em seguida ao exame de ti mesmo, envergonha-te da tua inconstância no bem e suplica a Deus que te dê força, a fim de sempre imitares, para o futuro, este teu poderoso protetor.
“Ó Senhor, favoreçam-me os rogos de vosso apóstolo e evangelista Mateus, a fim de que, pela sua intercessão, me concedais o que a minha fraqueza não alcança” (3). Fazei-o pelo amor de Jesus e Maria.
Referências: (1) Lc 9, 59. (2) Mt 19, 22. (3) Or. festi.
(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo III: Desde a Duodécima semana depois de Pentecostes até ao fim do ano Eclesiástico. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 365-368)
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O Moço de Naim e a lembrança da Morte
15º Domingo depois de Pentecostes
Defunctus efferebatur, filius unicus matris suae – “Levavam à sepultura um defunto, filho único de sua mãe” (Lc 7, 12)
Sumário. Que verdade tão importante nos é lembrada pelo Evangelho de hoje! O filho da viúva de Naim era novo, herdeiro único de seu pai, consolação única de sua mãe, amado de seus concidadãos, que por isso acompanhavam o cortejo fúnebre. Provavelmente não pensara que a morte viria surpreendê-lo em tais circunstâncias; mas, assim mesmo colheu-o. Nada, pois, mais certo do que a morte, mas nada mais incerto do que a hora da morte. Ah! Se pensássemos muitas vezes nesta grande máxima, não pecaríamos nunca, e estaríamos sempre preparados para morrer.
I. Refere São Lucas que “Jesus ia para uma cidade chamada Naim; e iam com ele os seus discípulos e uma grande multidão de povo. E quando chegou perto da porta da cidade, eis que levavam um defunto a sepultar, filho único de sua mãe, que já era viúva, e vinha com ela muita gente da cidade.” Antes de prosseguirmos, meu irmão, reflitamos nesta primeira parte da narração evangélica, e lembremo-nos da morte.
É fora de dúvida que devemos morrer. Cremos nesta verdade, não porque é um ponto da fé, mas porque a vemos também com nossos olhos, pois que cada dia se repete o fato do Evangelho: Ecce defunctus efferebatur – “Um defunto é levado à sepultura”. Se alguém se quisesse iludir pensando que não há de morrer, não seria tido por herege, mas sim por louco, que nega a evidência. – É, pois, certo que havemos de morrer; contra cada um de nós já foi lançada a sentença inapelável: Statutum est hominibus semel mori (1) – “Esta decretado que os homens morram uma só vez.” Mas onde é que morreremos?… Como?… Quando? Ninguém o sabe. “Nada mais certo do que a morte”, diz o Idiota, “e ao mesmo tempo, nada mais incerto do que a hora da morte.”
O filho da viúva de Naim era novo, na flor dos anos, herdeiro único de seu pai; única consolação de sua mãe; amado de seus concidadãos que por isso acompanhavam o cortejo fúnebre. Provavelmente não pensara que a morte o havia de surpreender em tais circunstâncias; mas apesar disso colheu-o. Tal será também a nossa sorte; quem no-lo diz é Jesus Cristo, a verdade mesma: Estote parati; quia qua hora non putatis, Filius hominis veniet (2) – “Estai preparados; porque à hora que não cuidais, o Filho do homem virá.”
II. O Evangelho continua a narração dizendo que “o Senhor, vendo a viúva, e movido de compaixão para com ela, lhe disse. Não chores. E, chegando ao esquife, acrescentou: Moço, eu te ordeno, levanta-te. E sentou-se o que havia estado morto, e começou a falar.” Deste modo Jesus Cristo aproveitou-se da morte daquele moço para fazer um grande milagre, que consolou uma mãe extremamente aflita e confirmou no bem os assistentes, que glorificavam a Deus e diziam: “Um grande profeta levantou-se entre nós; e Deus visitou o seu povo.”
É o que o Senhor continua ainda sempre a fazer nas almas por Ele remidas pela meditação sobre a morte. Serve-se desta lembrança para consolar a Igreja, nossa mãe, pela ressurreição espiritual de tantos pecadores, seus filhos; e, depois de os ressuscitar, serve-se ainda da mesma consideração para os fazer perseverar no bem, enchendo-os de um temor salutar. – Procura, tu também, ter sempre diante dos olhos o pensamento da morte. Fazendo isto, se és pecador, ressuscitarás depressa à vida da graça; se, como espero, és justo, o Espírito Santo te assegura que nunca mais tornarás a cair no pecado: Memorare novíssima tua, et in aeternum non peccabis (3) – “Lembra-te de teus novíssimos, e jamais pecarás.”
Ó meu Deus! Graças Vos dou pela luz que agora me comunicais. Já basta de anos perdidos! Quero empregar todo o resto de minha vida em me preparar para a morte, chorando as ofensas que Vos fiz, e reparando o tempo passado por uma dedicação mais fiel a vosso serviço. Ajudai-me com a vossa santa graça. “Purificai-me, ó Senhor, fortalecei-me com a vossa continua piedade; e, porque sem Vós nada pode subsistir, sustentai-me sempre com os vossos dons.” (4) – † Doce Coração de Maria, sede minha salvação.
Referências:
(1) Hb 9, 27 (2) Lc 12, 40 (3) Eclo 7, 40 (4) Or. Dom. curr.
(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo III: Desde a Décima Segunda Semana depois de Pentecostes até o fim do ano eclesiástico. Friburgo: Herder & Cia, 1922, p. 76-78)
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