Meditação de 19 de julho

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Festa de São Vicente de Paulo

Festa de São Vicente de Paulo

Oculus fui caeco, et pes claudo; pater eram pauperum — “Eu fui o olho do cego e o pé do coxo; eu era o pai dos pobres” (Jó 29, 15-16)

Sumário. O caráter distintivo deste santo é a sua caridade para com os pobres, de modo que não havia calamidade que ele não procurasse remediar. O que o animava e o sustentava no meio dos trabalhos do seu apostolado, era o seu amor para com Deus e a dignidade sublime dos pobres quando considerados à luz da fé. Ah! Se amássemos a Jesus Cristo e nos habituássemos a vê-lo na pessoa dos pobres, a nossa caridade também seria fecunda em santas ações!

I. Considera que o caráter distintivo de São Vicente de Paulo foi a sua caridade para com os pobres. Desde a mais tenra idade desfazia-se do seu vestido para cobrir os nus e privava-se da comida para alimentar os que a não tinham. Quando adulto, aumentou-se-lhe de tal forma o amor para com os infelizes, e levou-o a fazer coisas tão grandes e tão variadas, que a Igreja não hesita em fazer dele este elogio magnífico: Nullum fuit calamitatis genus, cui paterne non occurrerit (1). Não havia calamidade que Vicente não procurasse remediar com ternura verdadeiramente paternal.

Além das abundantes esmolas por ele angariadas e distribuídas; além das várias confraternidades e associações para pessoas de ambos os sexos, por ele fundadas e dirigidas; além dos muitos hospitais eretos por seu intermédio em benefício dos pobres, instituiu ainda as Irmãs de Caridade, que se gloriam do título de Servas dos pobres. Não contente com isso, quis ainda fundar uma nova congregação de missionários aplicados principalmente ao bem espiritual dos pobres. “Nós somos os sacerdotes dos pobres”, dizia o santo a estes seus filhos prediletos, “Deus nos elegeu para o bem deles. Eles, portanto, devem ser a nossa primeira preocupação; tudo o mais é apenas acessório”.

Numa palavra, foi tão grande a caridade de São Vicente para com os infelizes, que com direito podia gabar-se com Jó de lhes ser pai: Eu era o pai dos pobres. Congratula-te com o santo, escolhe-o para teu protetor especial e dá graças ao Senhor por havê-lo feito tão semelhante a si, dando-lhe entranhas de misericórdia. Lembrando-te depois do grande bem que em prol de todos continuam a fazer na terra os filhos e as filhas de São Vicente, espalhados pelo mundo inteiro, pede ao Senhor que aumente as vocações e lhes conceda a santa perseverança.

II. O que animava e sustentava São Vicente no meio dos trabalhos do seu apostolado, era a sua ardente caridade para com o próximo e a dignidade sublime dos próprios pobres quando considerados à luz da fé. “Deus ama os pobres”, dizia o santo a seus filhos, “Jesus Cristo fez deles o objeto especial da sua missão; e por isso Jesus ama todos aqueles que amam os pobres. Pois bem: dediquemo-nos com novo ardor ao serviço dos pobres, e também poderemos esperar que em atenção a eles Deus nos amará. A experiência me ensinou, assim concluía, que aquele que em vida teve amor aos pobres, nada terá que temer na hora da morte”.

Meu irmão, imagina que esta exortação do santo se dirige também a ti; e se, em vista do teu estado, não podes socorrer os pobres corporalmente, socorre-os ao menos espiritualmente, animando-os a sofrer com paciência e resignação, exortando-os a orar, e tu mesmo roga por eles.

“Ó glorioso São Vicente, protetor de todas as obras de caridade e pai de todos os desgraçados: vós, que jamais em vossa vida abandonastes a nenhum dos que vos imploraram, considerai a multidão dos males que pesam sobre nós e vinde em nosso auxílio. Alcançai do Senhor socorro para os pobres, alívio para os enfermos, consolação para os aflitos, proteção para os desamparados, caridade para os ricos, zelo para os sacerdotes, paz para a Igreja, tranquillidade para as nações, e para todos a salvação. Fazei que todos experimentemos os efeitos da vossa caridosa intercessão, e, assim socorridos por vós nas misérias desta vida, sejamos reunidos convosco no céu, onde não haverá nem tristeza, nem lágrimas, nem dores, mas somente gozo, felicidade e bem-aventurança eterna” (2).

“E Vós, ó Deus, que, para salvação dos pobres e disciplina do clero, destes nova família à vossa Igreja pelo Bem-aventurado Vicente, concedei-nos propício, que ardendo no mesmo espírito amemos o que amou e façamos o que ensinou” (3). Fazei-o pelo amor de Jesus Cristo, vosso divino Filho, e pela intercessão de Maria Santíssima, nossa amada Mãe.

Referências: (1) Lect. VI Brev. Rom. (2) Indulgência de 100 dias. (3) Or. festi.

(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo II: Desde o Domingo da Páscoa até a Undécima semana depois de Pentecostes inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 361-364)

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Maria Santíssima, modelo de obediência

Maria Santíssima, modelo de obediência

Ecce ancilla Domini: fiat mihi secundum verbum tuum – “Eis aqui a escrava do Senhor: faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1, 38)

Sumário. A obediência de Maria foi incomparavelmente mais perfeita que a dos outros santos; porque, imune de todo labéo de culpa, ela era como que uma roda que pronta se movia a cada inspiração divina. Pelo mérito desta virtude Maria remediou o dano que causou Eva com sua desobediência. E tu como é que obedeces a teus superiores? Como é que observas as leis de Deus e da Igreja e os deveres próprios do teu estado? Lembra-te de que a virtude de obediência faz entrar os bem-aventurados na glória.

I. Pelo afeto que Maria consagrava à virtude de obediência, não quis, quando São Gabriel lhe veio anunciar a maternidade divina, chamar-se com outro nome senão com o de escrava: Eis aqui a escrava do Senhor. Sim, diz Santo Tomás de Villanova, porque esta fiel escrava, nem com suas obras nem com o pensamento contradisse jamais ao Senhor; mas, despida de toda a vontade própria, viveu sempre e em tudo obediente à divina vontade.

Observa São Bernardino de Sena que a obediência de Maria foi muito mais perfeita que a dos outros santos, porque todos os homens, por causa da inclinação ao mal pelo pecado original, sentem dificuldade em fazer o bem. Maria, ao contrário, imune, como era, de todo o labéo de culpa, foi como que uma roda que prontamente se movia a cada inspiração divina e outra coisa não fazia senão observar e executar o que agradava a Deus. – Dela é que foi dito: Anima mea liquefacta est, ut dilectus meus locutus est (1) – “A minha alma se derreteu, assim que meu amado falou”; porque, na explicação de Ricardo, a alma da Virgem era como que um metal derretido, disposta a tomar todas as formas que Deus queria.

Quanto era pronta para obedecer, mostrou-o claramente Maria quando, para agradar a Deus, quis obedecer também ao imperador romano, fazendo a viagem a Belém, em tempo de inverno, grávida e tão pobre que se viu obrigada a dar à luz numa gruta. – Foi igualmente pronta quando São José a avisou, que se pusesse a caminho na mesma noite, para viagem mais longa e perigosa ao Egito.

Mas, sobretudo, demonstrou a sua heróica obediência quando, para obedecer à divina vontade, ofereceu seu Filho à morte, com tão grande constância, que, como disse Santo Ildefonso, estaria pronta a crucificar o Filho se faltassem os algozes. – pelo que São Beda, o Venerável, escreveu que Maria foi mais feliz pela sua obediência à vontade divina do que por ter sido feita Mãe do mesmo Deus. E Santo Agostinho conclui dizendo que a divina Mãe com sua obediência remediou o dano que fez Eva com a sua desobediência.

II. Muito agradam a Maria aqueles que são amantes da obediência, e ela mesma repreendeu certo dia um religioso que, tocando-se o sino para certo exercício da comunidade, se demorou para terminar certas devoções privadas. – Falando a Santíssima Virgem com Santa Brígida a respeito da segurança que há em obedecer ao pai espiritual, lhe disse que é a obediência que faz entrar os bem-aventurados na glória. Acrescentou que, pelo merecimento da sua obediência, obteve do Senhor que todos os pecadores que arrependidos a ela recorrerem, obtenham perdão.

Se, pois, queres agradar a Maria Santíssima e assegurar a salvação da tua alma, faze hoje o firme propósito de imitar sempre a sua obediência e de cumprir exatamente todos os deveres do teu estado. – Entretanto, pede a seu Filho perdão das culpas que no passado cometeste contra tão bela virtude.

Ah meu Jesus! Por minha salvação fostes obediente até à morte e até à morte de cruz, e eu, ingrato, para não me privar de alguma miserável satisfação, tantas vezes Vos desrespeitei e Vos desobedeci. Meu Senhor, tende paciência comigo; não me abandoneis como merecia. Arrependo-me de todos os desgostos que Vos dei e quisera morrer de dor. Ouço vossa divina voz que me convida a vosso amor; não quero mais resistir. Eis-me aqui, entrego-me a Vós; não recuseis aceitar-me.

Dizei-me o que tenho de fazer para Vos agradar; estou pronto para tudo. (Renovo meus votos de Pobreza, de Castidade e de Obediência.) Prometo que de hoje em diante nunca mais resistirei às ordens de meus superiores. Amo-Vos, † Jesus, meu Deus, amo-Vos sobre todas as coisas, e porque Vos amo, quero fazer tudo para Vos agradar. Dai-me o vosso auxílio para executar esta resolução. – E Vós, minha Rainha e Mãe Maria, rogai a Jesus por mim, e pelo merecimento da vossa obediência, obtende-me a graça de obedecer a sua santa vontade e às ordens do meu Pai espiritual.

Referências:

(1) Ct 5, 6

(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo II: Desde o Domingo da Páscoa até a Undécima Semana depois de Pentecostes inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 230-232)

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