Meditação de 1 de julho

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Santo Afonso, modelo de Obediência

Santo Afonso, modelo de Obediência

Devoção a Santo Afonso como modelo das Virtudes Fundamentais. Mês de Julho

Inveni… virum secundum cor meum, qui faciet omnes voluntates meas – “Achei… um homem segundo o meu coração, que fará todas as minhas vontades” (At 13, 22)

Sumário. Posto que o nosso Santo, na sua qualidade de Superior, tivesse menos ocasião para praticar tão bela virtude, a sua santidade industriosa soube contudo achar modos de se distinguir nesta virtude como em todas as outras, pela dependência contínua do seu Diretor espiritual e pela observância das Regras do seu Instituto. Procuremos, cada um na sua condição, imitar a Santo Afonso, guardando os mandamentos de Deus e da Igreja, e cumprindo os deveres do nosso estado. Sendo religiosos, lembremo-nos que a essência do nosso estado consiste exatamente na obediência. I. O sacrifício maior que uma alma pode oferecer a Deus é a obediência; porquanto, no dizer de São Gregório, pelas outras virtudes damos a Deus aquilo que possuímos, mas pela obediência damos-lhe tudo o que somos. Ainda que nosso Santo, na sua qualidade de Superior, tivesse naturalmente menos ocasião para praticar tão bela virtude, a sua santidade industriosa soube contudo achar o modo de se distinguir nesta virtude como nas demais.

Desejando cumprir sempre a vontade divina, e persuadido que esta se conhece infalivelmente por meio da obediência, quis, quanto ao seu interior, depender sempre e em tudo do seu Diretor. Neste ponto foi tão longe, que se obrigou até por um voto especial, de modo que não empreendeu nenhuma obra, não escreveu nenhum livro, não praticou nenhuma mortificação, sem a licença do seu Diretor espiritual.

Quanto ao alimento, ao vestido e a qualquer outra coisa, concernente à sua pessoa, quis, enquanto vivia na Congregação, depender, como os demais, do Superior da casa em que se achava; e feito bispo, deixou-se dirigir não somente pelo seu Vigário geral, como pelo Irmão servente e mesmo pelo seu fâmulo. — Obedecia, além disso, perfeitamente aos médicos, com os quais tinha sempre de tratar por causa das suas enfermidades continuas. Posto que os remédios lhe repugnassem extremamente, ou o Santo os julgasse inúteis, ao só ouvir o nome de obediência inclinava a cabeça e executava tudo o que se lhe prescrevia.

Não se contentou, porém, o santo Doutor, de observar ele mesmo, o mais perfeitamente possível, o voto de obediência; depois de ter dado o exemplo, exigia com igual rigor a sua observância da parte dos outros, porquanto é nela que consiste a essência do estado religioso.

“Se não obedecemos”, dizia, “que é que fazemos na Congregação?”

E em outra ocasião:

“A pupila da Congregação é a obediência; é esta que nos faz religiosos. Perdida a obediência, acabou-se a Congregação; não é mais a casa de Deus — Obedecei, pois; Deus e a obediência tornam leves todas as coisas”

II. Toda a nossa felicidade, na vida presente e na futura, consiste em cumprirmos a vontade de Deus; e o meio mais seguro de a conhecermos é a santa obediência. Procura, pois, segundo a tua condição, imitar a Santo Afonso também nesta virtude. Guarda com toda exatidão os mandamentos de Deus e os preceitos da Igreja, e cumpre os deveres do teu estado. Obedece também aos teus Superiores, não só nas coisas espirituais, senão também nos negócios temporais de alguma monta. Aconselha-te com um Diretor prudente, e deixa-te guiar por ele, pois para isso recebe luzes divinas especiais.

Se és religioso e vives em comunidade, renova os teus votos aos pés de Jesus Cristo, e vê como observas a Regra, à qual está ligada a tua predestinação. Lembra-te sempre desta terrível sentença do Espírito Santo: Desgraçado é o que rejeita a sabedoria e a disciplina, isto é, a Regra; as suas esperanças são vãs, os seus trabalhos sem fruto, e inúteis as suas obras (1).

Meu amabilíssimo Jesus! Agradeço-Vos o belo modelo de obediência que me destes na pessoa do meu Pai e Doutor, Santo Afonso. Mas ai de mim! Longe de imitar tão perfeito modelo, desagradei-Vos, ó bondade infinita, seguindo os meus caprichos insensatos. Senhor, reconheço o mal que fiz; detesto-o e quisera morrer de dor. Se pelo passado desprezei o Vosso amor, sabei que agora o prefiro a todos os bens do mundo. Vós sois e sereis sempre o único objeto de todos os meus afetos.

Meu Senhor, por vosso amor renuncio a tudo e não quero que ainda viva em mim a minha vontade, mas unicamente a Vossa, que é toda santa. Por isso (renovo os meus votos, e) prometo-Vos que de hoje em diante serei mais atento em guardar todas as Regras, ainda as mais pequenas, da minha Congregação, pois sei que todas elas são a expressão da Vossa vontade. Vós, porém, me deveis dar a graça de Vos ser fiel.

— O minha grande advogada, Maria, ponho todas as minhas esperanças, primeiro nos merecimentos do vosso Filho, depois na vossa poderosa intercessão. Minha Mãe, ajudai-me; fazei-o pelo amor do vosso grande servo, Santo Afonso.

Referências: (1) Sb 8, 21

(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo II: Desde o Domingo da Páscoa até à Undécima Semana depois de Pentecostes Inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 395-394)

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Festa do Preciosíssimo Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo

Festa do Preciosíssimo Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo

Redemisti nos Deo in sanguine tuo… et fecisti nos Deo nostro regnum —“Remiste-nos para Deus com o teu sangue…e fizeste- nos para nosso Deus reino” (Ap 5, 9)

Sumário. O Senhor podia obter-nos a salvação sem sofrer; pois que uma só lágrima, uma só oração teria sido bastante para salvar uma infinidade de mundos. A fim de nos patentear, porém, o seu amor, quis derramar o seu Sangue até a última gota, no meio das mais atrozes dores. Como é que os homens respondem a um tão grande amor? Mostremo-nos ao menos nós gratos para com esse Coração amabilíssimo, e para reparar as ofensas que lhe tenhamos feito habituemo-nos a oferecer muitas vezes ao Eterno Pai este preço da nossa Redenção.

I. Considera o imenso amor que o Filho de Deus nos mostrou, remindo-nos ao preço de seu divino Sangue. Podia salvar-nos sem sofrer; pois que uma só lágrima, um só suspiro, até uma só oração, sendo de valor infinito, teria sido o suficiente para salvar o mundo e até mil mundos. Mas o que bastava para a Redenção, diz São João Crisóstomo, não bastava para patentear o amor que Deus nos tinha; tanto mais que ele quis fazer-se ao mesmo tempo o nosso guia e o nosso mestre: Remiste-nos para Deus com o teu sangue.

Para nos ensinar pelo seu exemplo a obediência às ordens do Pai, também a custo de sacrifícios, Jesus começou a derramar o seu precioso sangue, quando tinha oito dias apenas, sob o cutelo da circuncisão. Além disso, para nos ensinar a domarmos as nossas paixões rebeldes, e ao mesmo tempo a nos conformarmos em tudo com a vontade divina, mesmo com sacrifício da vida, continuou a derramá-lo no Horto das Oliveiras, numa agonia mortal e com tamanha abundância que corria sobre a terra: Factus est sudor eius sicut guttae sanguinis decurrentis in terram (1)— “Veio-lhe um suor, como de gotas de sangue que corria sobre a terra”.

Para reparar a delicadeza com que tratamos o nosso corpo, e mais ainda as nossas satisfações indignas, os nossos pensamentos de soberba e luxúria, Jesus Cristo quis derramar seu sangue no pretório de Pilatos sob os golpes de uma cruel flagelação e de uma bárbara coroação de espinhos.

Finalmente, depois de haver tinto com o seu sangue o caminho do Calvário, para nos ensinar que o caminho do céu é o dos sofrimentos; depois de o haver derramado ainda copiosissimamente pelas mãos e pés, deixando-se crucificar a fim de reparar o abuso da nossa liberdade; vendo por um lado que o coração humano é a raiz viciada de todos os males, e por outro, que no seu coração restavam ainda poucas gotas de seu precioso sangue, quis derramá-las também, permitindo que o seu lado sacrossanto fosse aberto por uma lançada: Unus militum lancea latus eius aperuit (2) — “Um dos soldados abriu-lhe o lado com uma lança”.

Ainda não satisfeito com tudo isso, quis o Senhor, mesmo depois da sua morte e até a consumação dos séculos, preparar-nos com o seu Sangue um banho para as nossas almas no sacramento da Penitência, e no da Eucaristia dar-no-lo como bebida para refazer as nossas forças. Ó invenções admiráveis do amor de um Deus para com os homens! Mas de que modo respondemos nós a tão grande amor?

II. Para mostrares a tua gratidão para com Jesus, e também para desagravá-lo de tantas ofensas que recebe, nutre uma devoção particular pelo seu precioso Sangue. Quando meditares na Paixão do Senhor, chega-te em espírito a ele e pede-lhe que te tinja com o seu Sangue divino. No tribunal da penitência, imagina ver na pessoa do Confessor a pessoa mesma do Redentor, que, dando-te a absolvição, derrama esse sangue sobre a tua alma, e na recepção da comunhão ou na celebração da missa, afigura-te que chegas teus lábios ao lado sagrado de Jesus. Habitua-te sobretudo a oferecer frequentes vezes ao Pai Eterno o Sangue preciosíssimo de Jesus Cristo, em desconto de teus pecados, pelas necessidades da santa Igreja, pela conversão dos pecadores e em sufrágio das almas do purgatório (3).

“Ó Sangue preciosíssimo de vida eterna, preço e resgate do mundo inteiro, bebida e banho salutar das nossas almas, que continuamente defendeis a causa dos homens, junto do trono da suprema misericórdia, eu vos adoro profundamente e quereria, quanto me é possível, compensar-vos das injúrias e dos ultrajes que recebeis constantemente dos homens e principalmente daqueles que levam a audácia até de proferir blasfêmias contra vós. E quem não bendirá este Sangue de um valor infinito? Quem se não sentirá inflamar de amor por Jesus que o derramou? Que seria de mim, se não fosse resgatado por este Sangue divino? Quem o tirou das veias do meu Senhor até a última gota? Ah, que foi sem dúvida o amor. Ó amor imenso, que nos destes um bálsamo tão salutar! Ó bálsamo inestimável, brotado da fonte de um amor infinito, fazei que todos os corações e todas as línguas vos louvem, glorifiquem e agradeçam agora e sempre e por toda a eternidade (4).

“E Vós, ó Pai Eterno, que estabelecestes o vosso Filho unigênito como Redentor do mundo, e quisestes ser aplacado pelo seu sangue, concedei-nos propício que, durante a minha vida terrestre, eu venere solenemente este preço da nossa salvação, e seja por ele livrado de todo o mal da vida presente, de tal modo que eu mereça gozar no céu o seu fruto perpétuo” (5). Fazei-o pelo amor do mesmo Jesus Cristo e de Maria Santíssima.

Referências: (1) Lc 22, 44. (2) Jo 19, 34. (3) Indulgência de 100 dias cada vez. (4) Indulgência de 300 dias cada vez. (5) Or. festi.

(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo II: Desde o Domingo da Páscoa até a Undécima semana depois de Pentecostes inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 351-354)

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Da pureza de intenção

Da pureza de intenção

Omne, quodcumque facitis in verbo aut in opere, omnia in nomine Domini Iesu Christi, gratias agentes Deo et Patri per ipsum – “Tudo quanto fizerdes por palavra ou por obra, tudo seja em nome do Senhor Jesus Cristo, rendendo graças por Ele a Deus Pai” (Cl 3, 17)

Sumário. Nunca deixemos de dirigir de manhã a Deus todas as ações do dia; e procuremos renovar a boa intenção ao menos no começo das ações principais. É certo que as ações, boas em si mesmas, porém feitas para granjear louvores humanos, para satisfazer ao amor próprio ou por qualquer motivo humano, são como que postas num saco furado. Ao contrário, a pureza de intenção faz preciosas as ações mais insignificantes, porquanto toda obra feita para Deus é verdadeiro ato de amor divino.

I. A pureza de intenção consiste em fazer todas as ações com o único intuito de agradar a Deus. Jesus Cristo disse: “Se o teu olho for simples, todo o teu corpo será luminoso. Mas, se o teu olho for mau, todo o teu corpo estará em trevas.” Segundo a explicação de Santo Agostinho, o olho simples significa a intenção pura de dar gosto a Deus: o olho tenebroso significa a intenção má, quando se faz uma coisa por vaidade, ou para própria satisfação. Ora, segundo a intenção for boa ou má, a obra será também aos olhos de Deus boa ou má. — Poderá haver obra mais sublime do que o dar a vida pela fé? Todavia diz São Paulo que aquele que morre com outro intuito que não a vontade de Deus, nenhum proveito tem de seu martírio. Ora, se não aproveita nada o martírio, não sendo sofrido por amor de Deus, que utilidade terão todas as pregações, todos os livros e todos os trabalhos dos operários sagrados e todas as austeridades dos penitentes, quando feitos para granjear louvores humanos ou para contentar o amor próprio?

Disse o profeta Ageu, que as obras, embora santas por natureza, mas não feitas para Deus, são postas in sacculum pertusum (1), em um saco roto, quer dizer, que se perdem todas e nada resta, Ao contrário, toda a ação, por insignificante que seja, mas feita para o agrado de Deus, tem muito mais valor do que muitas obras grandiosas feitas sem reta intenção. — Lemos em São Marcos que a viúva pobre não deitou no cofre das oferendas do templo senão duas pequenas moedas, mas o Salvador dela disse: Vidua haec pauper plus omnibus misit (2) — “Esta viúva pobre deu mais do que todos os outros”. Explica São Cypriano que ela deu mais do que os outros, porque deu as duas pequenas moedas com a intenção pura de agradar a Deus.

Para conhecer se uma ação foi feita com intenção reta, um dos melhores sinais é o não perturbar-se quando não se alcança o intento desejado. Outro sinal é se depois da obra feita se fica contente e tranquilo, posto que outros murmurem ou a desaprovem. — Pelo mais, se acontecer que o que fez bem é louvado, não deve inquietar-se pelo medo da vanglória. Se tal pensamento surgisse na mente, deveria desprezá-lo e dizer com São Bernardo: Nec propter te coepi, nec propter te desinam: “Não é para ti que comecei, nem para ti a quero interromper”.

II. A intenção de adquirirmos uma glória mais alta no céu é boa; mas a mais perfeita é a de agradar ao Senhor. É esta intenção que fere o Coração de Deus de amor para conosco, assim como disse a Esposa sagrada: Vulnerasti cor meum in uno oculorum tuorum (3) —“Feriste meu Coração com um dos teus olhos”. Pelo que o Apóstolo deu também a seus discípulos este conselho: Quer comais, quer bebais, quer façais qualquer outra coisa, tudo fazei para glória de Deus (4). — Dizia a Venerável Beatriz da Encarnação, primeira filha de Santa Teresa: “Nenhum valor terrestre pode igualar o de qualquer obra feita para Deus, posto que mais insignificante.” Com razão, pois que todas as obras feitas para Deus são outros tantos atos de amor divino. A pureza de intenção faz preciosas as ações mais desprezíveis; como sejam: o comer, o lavrar a terra, mesmo o divertir-se, com tanto que sejam feitas por obediência e para agradar a Deus.

Devemos, portanto, desde pela manhã dirigir a Deus todas as ações do dia. E será de grande vantagem renovar essa intenção no começo de todas as ações, ao menos das mais importantes, por exemplo, antes da oração, da comunhão, da leitura espiritual; paremos um instante no começo destas ações, como fazia certo solitário, que antes de principiar qualquer ação parava um pouco e levantava os olhos ao céu. Perguntado por que razão assim fazia, respondeu: Procuro acertar o tiro.

Ó meu Jesus, quando começarei a Vos amar com todas as veras? Ai de mim! Se entre as minhas ações, mesmo boas, procuro uma feita unicamente para Vos agradar, não a posso achar. Tende piedade de mim! não permitais que eu Vos sirva tão mal até a minha morte. Ajudai-me, afim de que o resto de minha vida seja empregado unicamente no vosso serviço e no vosso amor. Fazei com que eu suporte tudo para Vos dar gosto, e faça tudo somente para Vos agradar; eu vo-lo peço pelos merecimentos da vossa paixão. — Ó minha grande advogada, Maria, obtende-me esta graça pela vossa intercessão.

Referências:

(1) Ag 1, 6 (2) Mc 12, 43 (3) Ct 4, 9 (4) 1Cor 10, 31

(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo II: Desde o Domingo da Páscoa até a Undécima Semana depois de Pentecostes inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 183-185)

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