A ressurreição dos corpos no dia do Juízo

A ressurreição dos corpos no dia do Juízo

A ressurreição dos corpos no dia do Juízo

Ecce mysterium vobis dico: Omnes quidem resurgemus, sed non omnes immutabimur – “Eis que vos digo um mistério: todos certamente ressuscitaremos, mas nem todos seremos mudados” (1 Cor 15, 51)

Sumário. Mortos todos os homens, a trombeta soará e todos ressuscitarão. Todos retomarão o mesmo corpo com que serviram a Deus nesta terra, ou o ofenderam. Que diferença haverá entre os corpos dos escolhidos e dos réprobos! Estes serão negros, horrendos e nauseabundos; aqueles serão alvos, belos e mais resplandecentes que o sol. Meu irmão, qual será a tua sorte nesse dia?… Se quisermos que o nosso corpo apareça dignamente ao lado dos Bem-aventurados, apliquemo-nos a mortificá-lo e a guardá-lo pela penitência, sujeito à alma.

I. O Juízo universal será precedido do fogo do céu que devorará a terra e todos os homens que então viverem: Terra et quae in ipsa sunt opera exurentur (1) – “A terra será presa do fogo, com todas as obras que nela se contém”. Palácios, campos, cidades, reinos, tudo deverá ser reduzido a um montão de cinzas. É preciso que esta infecionada habitação dos pecados seja purificada pelo fogo. Eis como deve ser o fim de todas as riquezas, pompas e delícias deste mundo. – Mortos todos os homens, a trombeta soará e todos ressuscitarão: Canet enim tuba, et mortui resurgent (2). Dizia São Jerônimo:

“Todas as vezes que penso no dia do Juízo, tremo pelo corpo todo; julgo ouvir a cada instante esta terrível trombeta: Ressuscitai, ó mortos, vinde ao juízo.”

Ao som desta trombeta, as almas gloriosas dos bem-aventurados descerão do céu, para se unirem aos corpos com que serviram a Deus nesta vida; e as almas infelizes dos condenados subirão do inferno para se unirem aos corpos malditos, com que ofenderam a Deus. – Oh! Que diferença haverá então entre os corpos dos bem-aventurados e os dos réprobos! Os bem-aventurados aparecerão belos, puros, resplandecentes como o sol: Tunc fulgebunt iust sicut sol (3). Feliz de quem nesta vida sabe mortificar a carne, recusando-lhe os prazeres proibidos; ou, para a refrear mais, lhe recusa até os gozos permitidos, como fizeram os santos! Como estará então contente por ter vivido assim um São Pedro de Alcântara, que depois da morte disse a Santa Teresa:

“Feliz penitência, que tamanha glória me alcançou.”

Os corpos dos réprobos, ao contrário, serão horrendos, negros e nauseabundos, quais tições do inferno. Que suplício então para o condenado o dever unir-se ao corpo! Corpo maldito, dirá a alma, foi para te contentar que me perdi. E o corpo dirá: alma maldita, que tinhas a razão por final, porque me concedeste essas satisfações, que foram a causa da minha perdição e da tua, por toda a eternidade? – Portanto, meu irmão, se por desgraça te perderes, a alma e o corpo que agora conspiram na busca de prazeres proibidos, unir-se-ão à força nesse dia, para se servirem mutuamente de algozes, para sempre.

II. Assim terminará a cena deste mundo. Terminarão todas as grandezas, os prazeres e as pompas da terra: tudo estará terminado. Só restarão duas eternidades: uma de glória, outra de sofrimento; uma feliz, outra infeliz; uma de gozos e outra de tormentos; no céu estarão os justos; os pecadores no inferno. Infeliz de quem tiver amado o mundo e perdido tudo, a alma, o corpo, o céu e Deus, pelas satisfações miseráveis desta terra.

Meu Jesus e meu Redentor, Vós, que um dia deveis ser meu Juiz, perdoai-me, antes que chegue esse dia. Ne avertas faciem tuam a me (4) – “Não afasteis de mim a vossa face”. Agora sois meu Pai, e como Pai recebei na vossa graça um filho que volta arrependido aos vossos pés. Meu Pai, peço-Vos perdão: fiz mal em Vos ofender; fiz mal em me afastar de Vós; não merecíeis ser tratado como Vos tratei. Arrependo-me disto e detesto-o de todo o coração; perdoai-me! Ne avertas faciem tuam a me; não afasteis de mim a vossa face, não me repilais, como merecia. Lembrai-Vos do sangue que derramastes por mim e tende piedade de mim.

Meu Pai, amo-Vos e não mais me quero afastar de Vós. Esquecei as injúrias que Vos fiz e dai-me um grande amor para com a vossa bondade. Desejo amar-Vos mais do que Vos ofendi; mas, sem vosso auxílio, não Vos posso amar. Ajudai-me, meu Jesus: fazei-me viver grato ao vosso amor, para que nesse dia eu seja, no vale do juízo, do número de vossos amigos. – Ó Maria, minha Rainha e minha Advogada, socorrei-me agora; porque, se vier a perder-me, não me podereis mais valer nesse dia. Vós orais por todos, orai também por mim, que me prezo de ser vosso servo devoto e tanta confiança deposito em vós.

Referências:

(1) 2 Pd 3, 10 (2) 1 Cor 15, 52 (3) Mt 13, 43 (4) Sl 26, 9

(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo III: Desde a Décima Segunda Semana depois de Pentecostes até o fim do ano eclesiástico. Friburgo: Herder & Cia, 1922, p. 45-48)

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