Meditação de 1 de dezembro

2 meditações
Procurar:
Santo Afonso, modelo de Paciência e de Amor à Cruz

Santo Afonso, modelo de Paciência e de Amor à Cruz

Devoção a Santo Afonso como modelo das Virtudes Fundamentais. Mês de Dezembro

Melior est patiens viro forti, et qui dominatur animo suo expugnatore urbium — “O homem paciente é melhor do que o valoroso ; e o que domina o seu ânimo, melhor do que o expugnador de cidades” (Pv 16, 32)

Sumário. Foram numerosos os espinhos semeados no caminho que nosso santo percorreu, e ele, por ter a compleição biliosa, devia sentir sobremaneira as picaduras. Mas, querendo imitar a Jesus Cristo, manso e humilde, de coração, Afonso, por meio de esforços heróicos, chegou não só a sofrer com paciência, senão a desejar sempre sofrimentos maiores. Ah! Se nós também estudássemos o grande livro do Crucifixo, quão leves se nos afigurariam as cruzes que Deus nos envia!

I. Exorta-nos São Tiago “a termos por um motivo de maior alegria, as diversas tribulações que nos sucedem, sabendo que a provação da nossa fé produz a paciência; a paciência faz obra perfeita” (1). Eis porque nosso santo, que, não contente com aplicar-se à perfeição de um modo qualquer, fizera o propósito de escolher sempre o que fosse mais perfeito, empregou todos os meios para progredir na virtude da paciência. Por outro lado, o Senhor, que o destinara a ser um modelo perfeito de resignação, não lhe diminuiu as ocasiões de sofrimentos, semeando-lhe o caminho da vida de vários espinhos.

O corpo de Afonso sofreu contínuas e dolorosas enfermidades, especialmente durante os últimos dezessete anos da vida, tolhido em todos os seus membros por aguda artrite, tornou-se como que outro Jó, ou antes uma imagem viva de Jesus crucificado. As enfermidades juntaram-se as perseguições, não somente da sua própria pessoa, senão também da sua Congregação, à qual amava mais que a si mesmo. Com as perseguições vieram-lhe os desprezos. Afonso foi tratado como injusto, orgulhoso, iludido, hipócrita, corruptor da moral cristã, e afinal como ignorante. Assim foi tratado aquele cuja sabedoria foi e será sempre admirada pelo mundo inteiro.

Finalmente, para não falar de outros sofrimentos, aos desprezos se ajuntaram, particularmente nos últimos anos da sua vida, os escrúpulos, as tentações, a aridez e a desolação espiritual. No meio, porém, de todas as tribulações, o santo ficou sempre contente e resignado à vontade divina. “O mercado”, dizia ele, “onde as almas espirituais fazem mais lucro, são as tribulações. Vale mais uma hora de sofrimentos, padecidos com inteira resignação, do que todos os tesouros da terra. Senhor, graças Vos rendo por me dardes uma amostra das dores que padecestes. Basta que não me envieis ao inferno, e com vosso auxílio estou pronto a sofrer tudo”. Assim dizia o santo Doutor, e com sua paciência te ensina, a ti, que te glorias de ser seu filho e devoto, e não sabes sofrer uma leve injúria, uma pequena mortificação, uma palavra picante.

II. Não imaginemos que a paciência heróica de Afonso fosse talvez efeito de frieza ou insensibilidade natural. Ao contrário, por causa da sua compleição biliosa, era extremamente arrebatado e levado à ira. Mas, no dizer dos seus biógrafos, como, desde o dia em que virara as costas ao mundo, se propusera à imitação de Jesus Cristo, manso e humilde de coração, com violência contínua e abnegação de si mesmo, chegou não somente a sofrer com paciência, mas a desejar os sofrimentos, as humilhações e os desprezos. Ele mesmo o deu a entender a um seu íntimo. Querendo este que o santo rebatesse um insulto, a fim de não aviltar o caráter episcopal, Afonso respondeu: Trabalhei quarenta anos para adquirir um pouco de paciência, e quereríeis que o perdesse num instante?

Portanto, meu irmão, seja qual for o teu gênio, o teu estado, a tribulação que te aflige, também tu podes imitar os exemplos do teu grande protetor. Abraça, pois, de boa vontade a cruz, considerando-a como vinda das mãos de um Deus que é todo amor para contigo, e lembra-te de que de um modo ou de outro sempre a terás de levar. Mas, como observa o nosso santo Doutor, há esta diferença: Se padeceres com paciência, padecerás menos e te salvarás; se padeceres com impaciência, padecerás mais e te condenarás. Se não te achares com força suficiente, pede-a ao Senhor pelos merecimentos do santo.

Ó meu Jesus, pelos merecimentos de Santo Afonso, ajudai-me a sofrer com paciência as tribulações desta vida, e perdoai-me todas as ofensas que Vos fiz pelas minhas impaciências e pela minha pouca resignação nos sofrimentos que me enviastes para o meu bem. E vós, Virgem Santíssima e minha Mãe Maria, alcançai-me do vosso divino Filho a graça de o amar, pois que o amor me dará também força para sofrer tudo por amor dele.

Referência: (1) Tg 1, 2-4.

(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo I: Desde o Primeiro Domingo do Tempo do Advento até a Semana Santa inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 479-482)

Voltar ao calendário de meditações diárias

Ver os santos do dia

Produtos recomendados:

Compartilhe esta meditação:

O pecado de Adão e o amor de Deus pelos homens

O pecado de Adão e o amor de Deus pelos homens

SEGUNDA-FEIRA

Primeira Semana do Advento

Et nunc quid mihi est hic, dicit Dominus, quoniam ablatus est populus meus gratis? – E agora, que tenho eu que fazer aqui, diz o Senhor, visto ter sido levado sem nenhuma razão o meu povo? (Is 52, 5)

Sumario. Peca Adão, nosso primeiro pai, e em castigo de seu pecado é expulso do paraíso terrestre com toda a sua descendência condenado a uma vida de misérias e excluído para sempre do céu. O Senhor, porém, teve compaixão dele, e como se a sua beatitude dependesse da dos homens, e ele não pudesse ser feliz sem estes, resolveu a todo o custo salvá-los. Ó incompreensível amor de Deus! Mas, como é que nós lhe temos correspondido?

I. Adão, nosso primeiro pai, peca; desagradecido por tantos benefícios recebidos, revolta-se contra Deus, transgredindo o preceito de não comer da árvore proibida. Por esse motivo vê-se Deus constrangido a expulsá-lo agora do paraíso terrestre e a privar no futuro, tanto Adão como todos os descendentes deste revoltoso, do paraíso celeste e eterno, que lhes havia preparado para depois desta vida temporal. Eis, pois, todos os homens condenados a uma vida de trabalhos e misérias, e para sempre excluídos do céu. O demônio tem poder sobre eles, e incalculáveis são os estragos que o inferno continuamente faz.

Vendo, porém, o Senhor os homens reduzidos a tão mísero estado, compadeceu-se deles. Mas, como nos dá a entender o profeta Isaías, parece que Deus, por assim dizer, se lamenta e se aflige, dizendo: Et nunc quid mihi est hic, quoniam ablatus est populus meus gratis? – E agora, que tenho eu que fazer aqui, visto ter sido levado sem nenhuma razão o meu povo? Como se quisesse dizer: Que me restou de delícia no paraíso, uma vez que perdi os homens que eram as minhas delícias? Mas, não; quero a todo o custo salvá-los/ venha, por isso, um redentor, que em lugar do homem satisfaça à minha justiça e assim o redima da morte eterna.

Mas, meu Senhor, tendes no céu tantos serafins e tantos anjos, e de tal modo Vos aflige o terdes perdido os homens? Que precisão tendes Vós, tanto dos anjos como dos homens para a perfeição de vossa beatitude? Sempre tendes sido e sempre sois felicíssimo em Vós mesmo: que poderá jamais faltar à vossa felicidade que é infinita? – Tudo isso é verdade (assim o faz responder o cardeal Hugo), mas, perdido o homem, afigurasse-me ter perdido tudo, porquanto as minhas delícias eram estar com os homens; agora perdi os homens, e os infelizes estão condenados a viver sempre longe de mim. – Ó amor imenso de Deus! Ó amor incompreensível! Ó amor infinito!

II. Ó meu Senhor, como é possível que, depois de terdes reparado, com a morte do vosso divino Filho, os danos causados pelo pecado, tenha eu tornado tantas vezes a renová-los voluntariamente, com as ofensas que Vos tenho feito? Vós me salvastes à custa de tamanhos sacrifícios, e eu tão repetidas vezes tenho querido perder-me, perdendo-Vos, a Vós, Bem infinito. Inspirai-me, porém, confiança à vossa palavra, que, se o pecador se converter a Vós, não Vos recusareis a abraçá-lo: Convertimini ad me et convertar ad vos (1) – Convertei-vos a mim e eu me converterei a vós. Vede, Senhor, que sou um daqueles rebeldes, um ingrato e traidor que por mais de uma vez Vos voltei as costas e Vos expulsei da minha alma. Pesa-me de todo o coração de Vos haver assim ofendido e desprezado a vossa graça. Pesa-me, e amo-Vos acima de todas as coisas. A porta do meu coração já esta aberta para Vós: entrai nele, mas entrai para nunca mais Vos retirardes. Sei que nunca Vos retirareis, se eu não tornar a expulsar-Vos. Eis ai o que me faz medo, eis ai também a graça que espero pedir-Vos sempre; deixai-me morrer antes que venha a cometer para convosco semelhante nova e maior ingratidão.

Jesus, meu caro Redentor, pelas ofensas que Vos tenho feito mereceria não mais poder amar-Vos; mas pelos vossos méritos, peço-Vos o dom do vosso santo amor. Por isso fazei com que eu conheça o grande bem que sois, o amor que me tendes dedicado e quanto tendes feito para me obrigar a Vos amar. Ah! Meu Deus e Salvador meu, que eu não viva doravante tão ingrato à vossa tão grande bondade. Não quero separar-me mais de Vós, meu Jesus. Basta de pecados. É justo que eu empregue os anos de vida que me restam inteiramente em Vos amar e dar-Vos gosto. Jesus meu, Jesus meu, ajudai-me; ajudai um pecador que Vos quer amar.

Ó Maria, minha Mãe, vós podeis tudo para com Jesus, visto que sois sua Mãe. Dizei-lhe que me perdoe; dizei-lhe que me prenda com os laços do seu santo amor. Vós sois a minha esperança; confio em vós.

Referências: (1) Zc 1, 3 (2) Sf 1, 15

(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo I: Desde o Primeiro Domingo do Advento até a Semana Santa Inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 10-12)

Voltar ao calendário de meditações diárias

Ver os santos do dia

Compartilhe esta meditação: